O bolsonarismo é antiliberal

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É espantosa a condescendência de alguns – bolsonaristas de carteirinha – com os comentários ignóbeis feitos pelo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. O último, revelando desatino, flerte com o autoritarismo e uma desumanidade estonteante, foi assacado contra o presidente da OAB, Dr. Felipe Santa Cruz, na seguinte fala: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”.

Pode-se criticar o presidente da OAB, pode-se recriminá-lo por certas condutas, pode-se discordar de algumas posturas. O episódio do Twitter, aliás, merece críticas contundentes, veementes e firmes. O presidente da OAB não pode bater boca em rede social com comentários de baixíssimo nível. Da mesma forma, ele não poderia ter dito, de supetão, que o Ministro Sérgio Moro “usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”.

Mas, mesmo assim, é absolutamente inaceitável que um presidente da República faça troça de uma morte ocorrida no período da ditadura militar, em um ataque pessoal vil e covarde. Jair Bolsonaro deixou de ser um deputado do baixo clero. Ele é o presidente de todos os brasileiros. Nessa condição, ele não pode “bater boca” como se estivesse em um eterno Fla-Flu, ou em uma briga de galo. Por vezes, parece que o comportamento de Bolsonaro replica o modus operandi de seu ideólogo, o famoso “Rasputin da Virgínia”.

Nenhum liberal pode concordar com isso. Aliás, liberal algum dá “carta branca” para alguém que está no poder. Thomas Jefferson dizia: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Logo, não dá para perdoar desatinos totalitários de quem quer que seja. Pouco importa se o poderoso é de esquerda ou direita. A presidência da república merece escrutínio diário.

Na verdade, os defensores – a todo custo – das estultices bolsonaristas não são nem liberais e nem conservadores. São, a bem da verdade, totalitários coletivistas. É gente que tem pouco apreço pela democracia e pelos indivíduos. Pessoas que vivem em um maniqueísmo doentio: “ou você está comigo, ou é meu inimigo”. São petistas com sinal trocado. No fundo, apenas toleram os liberais, que, se for o caso, podem ser descartados em um estalar de dedos.

Desprovidos de ideias e de pensamento crítico, não se aventuram ao debate, preferem eliminar oponentes e oposição. Trata-se de uma atitude absolutamente antiliberal. Atribui-se a Voltaire a seguinte frase: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Essa é justamente a postura que se espera dos liberais.

Nesse momento, será mais fácil separar o joio do trigo e ver as pessoas intolerantes que se travestiram de liberais para apenas aproveitar o momento. Indivíduos ocos que nos usaram para atingir objetivos torpes. Coletivistas de todos os partidos que estão prontos para manipular, iludir e enganar em sua sanha maligna pelo poder absoluto. Nas redes sociais já é facílimo identificar os autoritários enrustidos. O bolsonarismo, pensado como ideologia, é o refúgio dos idiotas úteis da direita tupiniquim – que, como estamos vendo, é composta por antiliberais ferrenhos.

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Leonardo Correa

Leonardo Correa

Advogado e LLM pela University of Pennsylvania, articulista no Instituto Liberal.

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