O aviso de Mercadante
RODRIGO CONSTANTINO *
A entrevista do Ministro da Educação Aloizio Mercadante para a Folha ontem repercutiu muito mal no Congresso. Nela, o cada vez mais poderoso ministro, que avança sobre as demais pastas e assume uma postura de porta-voz do governo Dilma, avisou em tom de ameça que o eleitor iria “cobrar caro” nas urnas o plebiscito não ter sido aprovado.
Não podemos considerar esse alerta um ato isolado. Mercadante está no seleto círculo de confiança da presidente Dilma. Eis a estratégia que eles têm adotado: a presidente “escutou a voz das ruas”, levou para o Congresso uma medida fundamental para viabilizar mudanças por meio dessa voz, e os deputados enterraram a oportunidade, fazendo-se de surdos.
Há só um problema: nada disso é verdade! Chega a ser constrangedora a cara-de-pau do governo de se fingir alheio às críticas das ruas. O PT governa o país há mais de uma década! Foi o PT que se aliou ao PMDB. Foi o PT que expandiu gastos públicos e crédito estatal, plantando as sementes dos problemas econômicos atuais. Foi o PT que priorizou o investimento em estádios de futebol que são verdadeiros “elefantes brancos”. E foi o PT o líder do mensalão.
Além disso, ninguém estava nas ruas demandando um plebiscito. Como disse Eduardo Cunha, do PMDB, havia até placa anunciando a venda de um Monza 92, mas nenhuma pedindo plebiscito. Este, no fundo, era um sonho antigo do próprio PT, que usou as manifestações de forma oportunista para desengavetar seu projeto de concentração de mais poder no partido e em seus caciques. O anseio do PT é poder passar por cima do Congresso e governar sozinho, no estilo bolivariano.
Uma das críticas mais duras ao oportunismo de Mercadante veio de Ronaldo Caiado, líder do DEM: “Senhor Mercadante, não queira jogar a falência do governo Dilma nas costas do Congresso. Quem não investe em educação, saúde, segurança e combate à corrupção é a presidente Dilma, que tem o poder da caneta”. Ele continuou: