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O antiliberalismo econômico católico não faz o menor sentido

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Parece uma tentação entre o círculo de católicos tradicionalistas condenar o livre mercado como um sistema econômico imoral, materialista e fundado no egoísmo humano. Na mente deles, a liberdade dos mercados e das trocas é indesejável e incompatível com a fé católica.

Sem parecer panfletário ou algo do tipo, mas tenho a certeza de que tais indivíduos estão redondamente enganados.

Por uma série de razões, o liberalismo econômico é perfeitamente compatível com a moral católica – dela mesma surgiram vários conceitos aproveitados pela Escola Austríaca.

Uma prova disso é o surgimento de diversos escolásticos espanhóis defensores de determinados conceitos aproveitados pelos austríacos. Juan de Mariana, padre jesuíta espanhol, alertou para as consequências desastrosas da intervenção estatal nos preços e na oferta das mercadorias. ‘’É como um moralista que ele concorda com os outros escolásticos que um “preço justo” deve servir de base nas transações comerciais. Este preço foi fixado em tempos medievais pelo governo e foi considerado por ele errado exigir mais do que o montante legalmente fixado. Mariana vê, no entanto, que, na prática, nem sempre é possível determinar os preços de forma satisfatória e que se não estão de acordo com a estimativa popular comum (ou seja, com o mercado), eles não podem ser impostos. Para ser justo um preço não deve ser fixado uma vez e para sempre, deve levar em conta várias condições que mudam com a demanda e a oferta dos artigos em questão. Os preços devem, portanto, serem revistos de tempos em tempos’’.

Diversos outros escolásticos da mesma época entenderam os mesmos alertas de Juan de Mariana: qualquer imposição ou controle de preços ou demanda resultaria em consequências ruins para consumidores e até mesmo produtores. Suas lições formaram partes dos princípios usados pela Escola Austríaca de economia.

A praxeologia estuda as ações humanas e como elas se desenvolvem. Ao agir, o homem busca melhorar seu atual estado de coisas em busca de um outro mais satisfatório. São Tomás de Aquino, o grande teólogo católico, já tinha falado algo a respeito: ‘’O homem age com vistas a um bem’’.

Que as raízes da economia tal como os austríacos pensaram são inegavelmente encontradas na própria Igreja, isso é fato; mas aqui teríamos um problema: ao mesmo tempo em que clérigos defendem a liberdade econômica, alguns a condenam. Os apologistas do distributismo usam a Rerum Novarum como justificativa de uma busca por outra via, uma vez que comunismo e liberalismo foram condenados por Leão XIII. É aqui que há outro engano a respeito do tema.

Se o mercado tal como é teorizado pelos liberais é abolido, temos no mínimo três consequências dessa ação: 1) Os preços não serão os reais, já que a lei da oferta e da procura seria impossível; 2) Vivendo apenas da autossuficiência, diversas famílias ficariam sem produtos essenciais para suas vidas, uma vez que seriam obrigadas a produzir e quase ninguém teria especialização para tal; 3) Sem preços exatos e produtos essenciais, o mercado seria impossível e a qualidade de vida da imensa maioria da sociedade cairia drasticamente – e por que não dizer dramaticamente.

Na mesma Rerum Novarum, Leão XIII fala da necessidade de os trabalhadores receberem um salário justo para sustentarem suas famílias, mas não fala como isso seria alcançado. Muitos apologistas da doutrina social católica argumentam a favor da intervenção estatal para a garantia desse salário justo. Mais um equívoco: a intervenção do Estado na economia é péssima e iria piorar a situação.

Se o Estado força ou determina aumento de salário para os empregadores cumprirem, três coisas virão por consequência: 1) Os custos aumentarão sem necessariamente um aumento na produtividade, acarretando aumento dos preços; 2) Com maiores salários a pagar, os empregadores contratarão menos, aumentando o número de trabalhadores desempregados; 3) Sem capital para investir em melhorias e inovação, a empresa irá continuar no mesmo lugar, acarretando a estagnação dos salários de todos os empregados.

Muitos católicos falam em justiça e em proporcionar melhores condições aos trabalhadores ao condenarem o liberalismo econômico. Nada mais equivocado. O capitalismo proporcionou um aumento na qualidade e na expectativa de vida como nunca na humanidade. Ignorar tal fato para fazer uma análise justa do mercado é desonestidade pura. O antiliberalismo econômico católico não faz o menor sentido.

Referências:

1.https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=688
2.https://pt.scribd.com/document/163807732/Capitalismo-e-Cristianismo-Olavo-de-Carvalho
3.https://medium.com/sociedade-chesterton-brasil/o-mínimo-que-você-precisa-saber-sobre-distributismo-77129312004a

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Carlos Junior

Carlos Junior

É jornalista. Colunista dos portais "Renova Mídia" e a "A Tocha". Estudioso profundo da história, da política e da formação nacional do Brasil, também escreve sobre política americana.

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