Nossos problemas mal começaram…
RODRIGO CONSTANTINO *
O ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, tem sido um dos maiores críticos do modelo econômico do governo Dilma. Alguns chegaram a atribuir suas duras críticas à demissão do Banco Santander. Ela ocorreu após episódio em que o então presidente da Petrobras ficou constrangido diante das perguntas feitas pelo economista em um evento, expondo os malabarismos contábeis do governo. Tudo seria, então, fruto do “ressentimento”.
Como fica claro, não era nada disso. Era uma análise acurada que o economista fazia do quadro econômico. Tenho orgulho de dizer que estive do seu lado esse tempo todo, quando éramos minoria e muitos ainda celebravam as “maravilhas” do “novo” modelo desenvolvimentista. Enquanto a turma soltava fogos de artifícios, nós e mais alguns outros apontávamos para o crescente e visível risco de inflação à frente.
Agora que os alertas se concretizaram, o governo e os desenvolvimentistas não jogaram a toalha, não admitiram seus equívocos, não fizeram uma mea culpa, nada disso. Eles optaram pela negação da realidade, e insistem no erro. Essa é uma atitude acovardada e perigosa. Por isso é tão importante, do nosso lado, insistir nos alertas. Até a ficha cair de verdade do lado de lá.
Em sua coluna na Folha hoje, Schwartsman vai na mesma linha do meu artigo no GLOBO de ontem, ao mostrar como o governo sofre do que chamei de “fatofobia”. Diz o economista:
Desde 2010, a inflação é (bastante) superior à meta (o desvio médio por ano foi de 1,6%), e, pior, espera-se que continue acima dela nos próximos anos: a inflação esperada entre 2014 e 2017 é, em média, 5,5% ao ano.
À luz desses desenvolvimentos, o que se espera da responsável pela política econômica não é a reafirmação do que já sabemos, mas, sim, o que será feito para trazer a inflação para o valor prometido à nação pelo próprio governo.
Nesse aspecto, a fala se encaixou bem no perfil do “Conselhão”: entre generalidades e a negação da realidade (o gasto federal, supostamente controlado, está no nível mais alto da história), nada foi dito que sinalizasse uma estratégia consistente para lidar com a inflação alta e o crescimento baixo.
Pelo contrário, incapaz de escapar das armadilhas ideológicas em que se meteu e pressionado pela queda de popularidade, a tendência é de isolamento crescente, uma espécie de “autismo econômico” em que a realidade tem que ser ignorada a todo custo.
Serve para produzir discursos para o “Conselhão”; jamais para resolver um problema de verdade.