Não somos tão racionais assim, especialmente na política
Sempre pensamos que a nossa escolha é a mais racional a ser feita. Sempre a mais estratégica. Todo espectro político, por mais pratico ou ideológico que seja, age em cima desse viés.
E se eu te contar que você escolhe primeiro para depois racionalizar? Aquele momento em que você – na política partidária e institucional – não “entende” a jogada de determinado político e, subitamente, acha uma lógica perfeita para apoiar tal atitude.
Ah… “mas o candidato X fez isso por causa de motivo Y. Ele está lutando por vocês, também, seus ingratos”. Não soa familiar?
Temos um nome para isso, graças a explicação do grande cartunista Scott Adams, que se chama Viés de confirmação. Esse viés pode sofrer danos que são chamados de dissonância cognitiva, pela psicologia.
Funciona basicamente como um filme, é a maneira como você vê o mundo. É o seu “filtro” que você, as vezes, chama de “minha visão de mundo”.
Quando existe algo que quebre a lógica da sua visão de mundo, geralmente, somos condicionados a achar uma lógica, ou seja, racionalizar sobre qualquer problema de roteiro do seu filme.
Exemplificamos com o Caso Lula. Todas as provas contra a sua corrupção e lavagem de dinheiro e vários dos seus seguidores gritam, quase uníssono, que não existem provas e que Lula é inocente.
Pode parecer loucura, mas mesmo existindo várias outras explicações, o filme continua o mesmo: Lula deve ser solto. E esse pensamento é de 15% da população brasileira. Curioso, não?
Temos, também, do outro lado, o caso Bolsonaro. O filme tem a necessidade de ser incorrigível e fluido. Ele não pode errar. Para o apoiador, tudo é justificável e existe uma lógica por trás de cada ação. No fundo, depois de algum argumento relacionado ao foro de São Paulo ou fora comunistas, vem o cantar “Mito, Mito!”
E poderia dizer isso sobre a dancinha do NOVO de SP, por exemplo. Ou do Brasil 200, ou do RenovaBR, do PSDB (mais conhecido como Partido MURO) ou de qualquer outro movimento político brasileiro, especialmente.
Ao criar um viés de confirmação – e quando mexe com a paixão do homem, torna-se mais forte – fugimos como nunca da dissonância cognitiva. Não queremos, no fundo, lembrarmos que nossas escolhas são mais irracionais do que racionais.
Não há nenhum problema em apoiar o candidato X, Y e Z. O problema é justamente negar qualquer coisa que não encaixe no seu filme. Aí reside o problema.
A partir do momento que o viés se torna forte a não aceitar mais nada além da sua própria visão de mundo, qualquer ação, por mais imoral que seja – até mesmo para você – torna-se válida. O que vale é que o meu candidato ganhe, não importando as suas ações.
É assim que se formam grupos políticos que, a partir de um momento, tornam-se agressivos a qualquer ideia contraria dos mesmos. E não há desculpa: esse comportamento é universal. Não apenas de um lado do espectro político.
Seja você bolsominion, laranjete, petista, psolista, esquerdista, direitista… É a imbecilidade humana cuspida na nossa cara. Não tem muito o que fazer.
Desliguem sua resistência à dissonância cognitiva. Veja por mais de um filme. Entenda o porque não encaixa no seu filme em vez de tentar encaixar a sua visão de mundo.
Chamem de segunda realidade (conceito comum aos conservadores leitores de Voegelin) ou chamem de mundo das fantasias.
Uma hora ou outra, a realidade objetiva bate na porta do mundo fantástico dos unicórnios e cobra o seu preço.