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Não joguem o jogo dos terroristas

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“Toda vez que algo ruim acontece, as pessoas clamam por segurança, e o governo responde suprimindo direitos de pessoas boas e honestas.” (Pen Gillete)

De uns tempos para cá, raramente concordo com Paul Krugman, e esta é uma dessas vezes.  Escrevendo recentemente sobre os atentados terroristas de Paris, Krugman expôs alguns comentários e argumentos que vão ao encontro do que penso a respeito.  Seguem alguns trechos:

“Como milhões de pessoas, acompanhei obsessivamente as notícias de Paris, deixando de lado outras coisas para focar no horror. É a reação humana natural. Mas sejamos claros: é também a reação que os terroristas querem. E isso é algo que nem todo mundo parece entender.

(…)

Matar pessoas aleatoriamente em restaurantes e concertos é uma estratégia que reflete a fraqueza fundamental dos seus autores. Eles não vão estabelecer um califado em Paris. O que eles podem fazer, no entanto, é inspirar o terror — é por isso que os chamamos de terroristas e não deveríamos dignificá-los, transformando-os em inimigos de guerra.

O ponto não é minimizar o horror. É, em vez disso, enfatizar que o maior perigo do terrorismo para nossa sociedade não vem o dano direto causado, mas das respostas equivocadas que pode inspirar. E é fundamental perceber que há várias formas de respostas erradas.

Certamente, seria uma coisa muito ruim se a França e outras democracias respondessem ao terrorismo com covardia — se, por exemplo, os franceses decidissem retirar-se do esforço internacional contra ISIS, na esperança vã de que os jihadistas iriam deixá-los em paz. E não preciso dizer que não há pretensos apaziguadores por aí; Existem, de fato, algumas pessoas determinadas a acreditar que o imperialismo ocidental é a raiz de todo mal, e tudo estaria bem se parássemos com a intromissão.

(…)

Um risco maior, na prática, é que os alvos do terrorismo tentem alcançar a segurança perfeita, eliminando todas as ameaças possíveis — uma resposta que inevitavelmente vai piorar as coisas, porque este é um mundo grande, complicado, e é impossível até mesmo para superpotências fazer tudo certo.”

Não consigo discordar.  Como esperado, governos do mundo inteiro já arregaçaram as mangas e propuseram inúmeras soluções (caras e restritivas das liberdades) para combater o inimigo.  Hollande, por exemplo, fez um discurso duro e recheado de palavras de ordem, mas o que ficou de concreto mesmo foi a informação de que aumentarão sobremaneira os gastos militares e de informação, ou seja, haverá aumento de impostos, além, é claro, de restrições às liberdades individuais e outras medidas de exceção.

Outra proposta de Holande, logo após os atentados, foi o fechamento das fronteiras francesas, diante do risco – real! – de entrada de terroristas junto com os refugiados.  Entretanto, o fato é que, na ânsia de resolver uma questão tão complexa de maneira simplista, alguns acabam se esquecendo de que há um enorme universo cinzento nessa história toda, o que torna qualquer postura radical ou generalista uma temeridade.

Pouca gente se dá conta, por exemplo, que, entre os milhões de refugiados atualmente cruzando as fronteiras europeias, há muitos cristãos (quem sabe até a maioria), pois este é o grupo religioso mais perseguido pelos assassinos do ISIS, da Al Qaeda e até mesmo pelos exércitos curdos.  Fechar as fronteiras, nesta altura do campeonato, malgrado provavelmente não evite a entrada de terroristas, só tornaria a vida desses cristãos muito mais difícil, presas fáceis de seus algozes.  Será esse o desejo da maioria dos franceses?  Será que vale à pena ceder à chantagem do inimigo e acabar fazendo exatamente aquilo que ele deseja?

Coloquemos as coisas em perspectiva.  De acordo com Hélio Shwartsman, em sua coluna na Folha de São Paulo, “as mortes provocadas por terrorismo são epidemiologicamente pouco relevantes. Em 2015, ano que extrapola todas as estatísticas anteriores, o total de óbitos na França deverá ficar em torno de 150. É menos do que as mortes em acidentes de lambreta (165) ou de bicicleta (159) que ocorrem todos os anos naquele país. Se considerarmos períodos mais típicos – entre 2001 e 2014 houve 82 mortes em atentados na França, média de 5,8 por ano –, nos aproximamos de causas de óbito bem mais exóticas, como raios (8 a 15 mortes) e ferroadas de abelhas (15).

Se a meta do governo é proteger vidas abstratas, faria muito mais sentido investir em programas de redução do consumo de tabaco e álcool, que, juntos, respondem por 90 mil das 540 mil mortes anuais de franceses.”

Resumo da ópera: combater os terroristas é não apenas um direito dos agredidos, como um dever civilizacional.  Mas alterar o modo de vida europeu, abrindo mão de certas liberdades individuais essenciais, como sigilo de comunicações, direito irrestrito de ir e vir, entre outros, seria aceitar o jogo dos terroristas.

Oxalá os europeus, em geral, e os franceses, em particular, tenham a clareza de colocar as suas liberdades em primeiro plano, e não permitam que o terror comprometa séculos de lutas por direitos individuais.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Não joguem o jogo dos terroristas

  • Avatar
    18/11/2015 em 5:01 pm
    Permalink

    ok. O governo diz que precisa diminuir nossos direitos para aumentar

    a segurança… mas criticar sem oferecer soluções é o mais fácil. E qto as mortes, o problema não são as lambretas, mas o que virá após a matança desenfreada.

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