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Não culpem o nordeste

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criança

Na noite de domingo, 26 de outubro, Dilma Rousseff foi reeleita Presidente do Brasil. Uma tragédia para qualquer pessoa que defenda as ideias liberais e aspire a viver em um país mais livre e justo.

A Presidente foi eleita com 51,64% dos votos válidos, a margem mais apertada da história eleitoral do Brasil. Dos 54.501.118 por ela recebidos, 19.867.894 vieram do Sudeste e 20.176.579 do Nordeste. Apesar da semelhança no número de votos, o motivo da revolta de muitos foi a diferença na proporção de votos: Dilma obteve 70% dos votos válidos do NE, contra apenas 47,3% no Sudeste.

Mal vieram a público os resultados e já começaram os impropérios contra o Nordeste e os Nordestinos, por terem, supostamente “elegido a Dilma”. Com a calma, a prudência e a ponderação que exige a avaliação de momentos histórico como este, peço encarecidamente aos amigos leitores: não culpem o Nordeste!

Pra início de conversa, porque “o Nordeste” não passa de uma abstração geopolítica. Trata-se de uma região imensa e extremamente heterogênea, composta por nove estados cada um com história, cultura e circunstâncias políticas muito distintas entre si. Além disso, a região é dividida em 1.794 municípios e sua população é de mais de 54 milhões de pessoas. Destas, “apenas” 19.867.894 votaram em Dilma, dentro de um colégio eleitoral de 38.269.533 eleitores aptos a votar. Ou seja, praticamente a metade dos eleitores nordestinos não votou em Dilma.

Mas a metade que votou em Dilma e lhe deu uma diferença tão elástica em relação às outras regiões não pode ser negligenciada. Descarto desde já, por uma questão de bom senso, a hipótese de que o eleitorado nordestino apresentaria uma adesão ideológica maciça à plataforma do PT (pesquisas sobre o tema,  como o excelente “A Cabeça do Brasileiro”, de Alberto Carlos de Almeida”, reforçam minha posição).

Como está claro até para aquele nosso tio que esbraveja em CAPS LOCK no Facebook, o  sucesso eleitoral do PT no nordeste tem muito mais a ver com a abrangência de seus programas sociais do que com um eventual pendor esquerdista dos nordestinos. Ao que tudo indica, o exemplo mais evidente é o Bolsa Família. Por meio de sua criação se deu a unificação de diversos programas sociais criados ao longo das últimas duas décadas puderam se expandir e obter ganhos em escala a partir. Este programa teve grande êxito em amenizar a extrema pobreza, mas também em fidelizar uma parcela importante do eleitorado ao governo federal (que nunca teve quaisquer pudores em pessoalizar abertamente o programa na figura de seus presidentes).

Por meio do Bolsa Família e de outros programas assistenciais em larga escala, os gênios políticos do PT reinventaram o Coronelismo no Nordeste brasileiro. A centralização da rede assistencialista em Brasília fez com que se criassem relações de vassalagem com os coronéis locais, permitindo-lhes que mantivessem seu mando regional conquanto jurem lealdade ao Governo Federal e seus aliados.

Os casos paradigmáticos são Piauí e Maranhão , os dois estados que mais recebem Bolsa Família per capita no país. No primeiro, Dilma venceu em todas as cidades; no segundo, Aécio venceu apertado (por 5 votos!) em apenas uma cidade, mas em somente quatro obteve mais de 35% dos votos. Ambos são governados por partidos e políticos da base aliada do governo federal e estão  entre os estados com o mais baixo IDH do Brasil.

Em síntese, é preciso compreender a lógica política da região antes de tecer conclusões precipitadas. Uma porção significativa da população brasileira e, em especial, nordestina “não pode se dar ao luxo” de votar movida por valores mais elevados, como moralidade, justiça social e defesa das liberdades. Precisam, antes de qualquer coisa, garantir o preenchimento de suas necessidades mais básicas.

Odiar o Nordeste ou querer dele se separar (algo absolutamente inviável politicamente) é, além de injusto, inútil busca pela compreensão do problema (sim, considero um problema o voto a cabresto e o terrorismo eleitoral que deram vitória a Dilma com mais 90% dos votos em uma grande quantidade de municípios do Nordeste) – e muito menos na sua solução.

Além disso, não foi somente “o Nordeste” nem “os nordestinos” quem elegeu Dilma, mas sim a maioria do eleitorado brasileiro. Se queremos que as nossas ideias – que comprovadamente trazem maiores avanços econômicos e sociais – sejam vitoriosas nas próximas eleições presidenciais, precisamos aprender a lidar politicamente com a realidade do nosso país e trabalhar para mudá-la.

Culpar os eleitores (de todo o Brasil) que votam motivados pelo medo de perder seu meio de subsistência é fazer exatamente o que querem o PT e seus ideólogos: dividir a sociedade entre “eles” e “nós”. É colocar mais lenha na fogueira da “luta de classes” lulopetista, que se utiliza da sórdida tática de “dividir para conquistar”, criando tensões artificiais na nossa sociedade para cooptar indivíduos sob a guarida de categorias (gays, negros, mulheres, trabalhadores, etc.). Os beneficiários dos programas assistenciais que votam no PT motivados pelo medo de perder este benefício são também vítimas deste sistema injusto contra o qual precisamos lutar.

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Fabio Ostermann

Fabio Ostermann

Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também estudou Economia. Graduado em Liderança para a Competitividade Global pela Georgetown University (EUA) e em Política e Sociedade Civil pela International Academy for Leadership (Alemanha). Mestre em Ciências Sociais/Ciência Política na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

6 comentários em “Não culpem o nordeste

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    29/10/2014 em 1:37 pm
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    Excelente análise, e muitissimo bem colocada pelo Paulo a observação de que as leis existentes sejam cumpridas, acrescento: na integra e em todos os níveis.
    Esse problema Óbvio de “coronelismo”, “compra casada de votos”, ou como queiram denominar, seria fácilmente resolvido caso algum “ILUMINADO” faça aprovar uma lei extremamente simples, mas que obrigasse a se cumprir o Óbvio:
    Quem descumpre as leis e está em cumprimento de penas, e os que recebem Qualquer tipo de AJUDA financeira do Estado ou Governo, deve ter seu DIREITO A VOTO SUSPENSO ENQUANTO DURAR A PENALIDADE OU O BENEFÍCIO.
    Para retornar o direito a voto, deverá ainda passar por um período de carência de pelo menos uma eleição.
    Só assim ficariamos isentos de influências, e teriamos votantes realmente LIVRES de qualquer “Cabresto”.

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      29/10/2014 em 6:51 pm
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      Concordo com o exposto a cima mas duvido que apareça tal iluminado pois todo o que la chega já vai contando com esse quinhão de voto para permanecer no poder. A classe politica brasileira já esta nacendo corrompida, nos ficamos escolhendo o menos pior pra votar, ate quando vamos continuar compactuando com isso. E noticia de roubo e falcatrua todos os dias e cade o poder de polícia, cade o poder judiciário que nada faz por que e só eles que não vem o que esta acontecendo não se se e nos ou nosso país que não tem mais jeito .
      Obrigado por poder fazer esse desabafo

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    29/10/2014 em 12:34 pm
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    Destaco um trecho: Os beneficiários dos programas assistenciais que votam no PT motivados pelo medo de perder este benefício são também vítimas deste sistema injusto contra o qual precisamos lutar.
    Para poder comentar:
    Em várias cidades no interior do Nordeste os que deveriam ser gestores não cumprem o Código de Trânsito e permitem que motociclistas andem sem capacete ou que os motoristas de modo geral não cumpram as mínimas normas de respeito ao próximo, ao pedestre.
    Essa gente pobre e sofrida acha, por exemplo, que transportar romeiros em paus de araras, sem segurança é uma vantagem e teme perdê-la se for colocado um governante que apenas cumpra as leis, fiscalize e acabe com essa falsa sensação de liberdade que desrespeita as regras de bom senso e os direitos dos outros, matando e multilando.
    Precisamos acabar com os abusos do desrespeito as regras de trânsito que quase nenhum município tem coragem de fazer.
    Acorda Ministério Público. Vamos lutar contra esse sistema injusto e cobrar da mesma forma como são cobrados aplicação de recursos em saúde e educação.

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    29/10/2014 em 12:27 pm
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    Parabéns pelo texto, infelizmente o preconceito cega uma boa parte da população…

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      30/10/2014 em 11:30 am
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      Confirmo tudo que você disse. Sou policial no Nordeste e é impossível para qualquer agente da lei fazer cumprir qualquer artigo do CTB por essas paragens. Qualquer policial sofre represálias absurdas por parte das autoridades municipais e até estaduais quando cobra o simples uso de um capacete a um motociclista. O trânsito nas nossas cidades é um verdadeiro deus nos acuda, e em nome dessa “liberdade” para o descumprimento da lei milhares de vidas são perdidas nas nossas estradas e milhões são gastos no atendimento de motoristas imprudentes apoiados pelo poder público. É lamentável…

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        03/11/2014 em 9:32 pm
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        POIS É, OS Q MAIS PRECISAM NÃO SÃO AJUDADOS, E ESSES INFELISMENTE VOTAM NO PT COM MEDO E TBM POR CAUSA DO TERRORISMO PSICOSOCIAL Q ESSE GOVERNO IMPÕE,FALANDO Q OS OUTROS CANDIDATOS VÃO TIRAR SEU BENEFICIO SOCIAL E SEU PRATO DE COMIDA,RESULTADO,NORDESTE CONTINUA ESQUECIDO AOS OLHOS DESTES, O POVO CONTINUA ATRASADO, A POLITICA ATRASADA ETC… E COM ISSO,AGORA TODO O BRASIL VAI PASSAR MAIS 4 ANOS NA DITADURA DE DILMA ROUSSEFF,QUE QUER Q O BRASIL SE TORNE VENEZUELA,CUBA,ARGENTINA… ISSO NÃO É JUSTO!!!

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