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Manifestações no Chile: os oportunistas se assanham

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A esquerda brasileira, que de hábito silencia sobre a ditadura venezuelana, destila sua narrativa oportunista sobre os recentes acontecimentos no Chile. Interessados apenas pelas crises sul-americanas que lhes convém, estão convencidos, e trabalham para convencer os incautos, de que as manifestações são uma reação à falência do modelo “neoliberal” que o país adota. Nem ao menos esperam a temperatura das ruas chilenas baixar, ansiosos que estão para encaixar acontecimentos seletivos em sua narrativa e visão de mundo.

Felizmente, muito material tem sido produzido nos últimos dias visando a rebater a tese e, para aqueles que não padecem do mal da desonestidade intelectual, resta evidente que em termos gerais o Chile está em melhor situação do que o Brasil. Não que o sucesso econômico do nosso vizinho se configure apenas em termos relativos, afinal, já é fato conhecido de longa data que o Chile é um dos países que mais crescem na América Latina.

Se diante disso alegam que o desenvolvimento beneficia apenas os ricos, o maior PIB per capita da América Latina contrapõe o argumento. Se dizem que isso não necessariamente reflete qualidade de vida dos cidadãos, o maior IDH da região contrapõe a tese. Em que pesem as críticas de que o país é desigual, é preciso considerar que, baseando-se no coeficiente de Gini, o Chile é menos desigual do que o Brasil e está dentro do padrão para o continente. Ainda, de acordo com os dados mais recentes disponíveis (2017) do Banco Mundial, o país apresenta um percentual de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza (renda menor do que $1,90 p/ dia) de 0,7% contra 4,8 % no Brasil.

O estopim para os protestos, curiosamente, foi um aumento de 30 pesos na passagem do metrô. É impossível não estabelecer um paralelo com as manifestações de 2013 aqui no Brasil, que do mesmo modo tiveram como estopim um aumento nas passagens. Interessante lembrar que na época o país tinha um governo de esquerda, que passava longe de ser “neoliberal”.

O mesmo pode ser dito sobre os coletes amarelos na França, que também tiveram como razão de fundo os transportes, mas, no caso, o preço dos combustíveis. Alguém ousaria pintar a França como exemplo de “neoliberalismo”?

O apelo ao terror daqueles que se dizem convencidos de o Brasil está trilhando o mesmo caminho, se referindo a adoção de uma agenda econômica mais liberal, não tem como base os fatos, porque essa turma não é muito chegada em fatos. Se o fossem, não seriam os mesmos que ainda insistem em dizer que não há déficit previdenciário. A não aprovação de nenhuma reforma e suas consequências econômicas geraria, no longo prazo, convulsões sociais que poderiam fazer os acontecimentos no Chile parecer brincadeira de criança. Este seria um tipo de convulsão social causado, não por um pretenso “neoliberalismo”, mas pela omissão e negação dos fatos por quem se diz preocupado com os pobres.

Mesmo que os argumentos de que o Chile é extremamente desigual e que a população está, sob um ponto de vista social, completamente desguarnecida pelo governo fossem verdade, ainda assim seria necessário mais do que uma visão superficial para fazer uma análise coerente, afinal, coexistência não significa que há necessariamente causalidade.

Interpretar esses acontecimentos nunca é tarefa fácil. Mesmo falar sobre 2013 gera diferentes interpretações entre nós, brasileiros. Estou certo de que para os chilenos se passa o mesmo. Se ao menos eles pudessem ler as “brilhantes” análises que pipocam nas redes aqui no Brasil, escritas por gente que nunca pisou lá, mas convictos de que captam a essência do temperamento político chileno atual, aí quem sabe eles ficassem mais bem esclarecidos…

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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