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Mais do mesmo: Trump e a revisão da política de reaproximação com Cuba

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A recente decisão de Trump de rever a política de reaproximação com Cuba, iniciada há dois anos, me fez lembrar da famosa frase de Einstein: fazer tudo sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes é um sintoma de insanidade.

Os EUA mantiveram um embargo à ilha cubana por mais de 50 anos, sob o pretexto de combater a ditadura comunista de Castro e Cia. De nada adiantou, pelo contrário, só forneceu munição retórica ao regime, em sua luta “contra o imperialismo ianque”.

Trump alega que a volta ao passado serviria para forçar o governo Castro na direção da democracia e da liberdade para o sofrido povo cubano. Porém, temo que a medida possa prejudicar mais ainda àqueles a quem ela supostamente deveria beneficiar. Enquanto isso, os donos do poder continuarão com suas vidas nababescas, independentemente de qualquer embargo, como acontece há décadas naquela ilha presídio.

Além de contraproducente, a medida trás embutida outra agravante: atenta contra a liberdade econômica e de ir e vir dos cidadãos próprios americanos.  O embargo impede, por exemplo, que eles vendam bens e serviços para 11 milhões de consumidores cubanos, distantes apenas uma centena de quilômetros de sua costa.

O embargo também viola a liberdade básica dos americanos de viajar para o exterior, sem dar satisfação ao governo, algo que normalmente só acontece entre países em guerra. Estranhamente, eles hoje podem viajar para o Irã, a Coréia do Norte e outros inimigos jurados do governo dos EUA, mas não podem visitar a vizinha Cuba como turistas comuns.

Se o objetivo é derrubar o comunismo, a melhor estratégia seria deixar o povo cubano experimentar as delícias do capitalismo, não mantê-los afastados e ignorantes sobre o que existe de melhor no mundo.  Como bem lembrou Rand Paul, cada dólar deixado nas mãos de motoristas de táxi, funcionários hoteleiros, garçonetes, pequenos comerciantes e até prostitutas é uma pequena amostra do que os espera caso eles rejeitem o regime que os oprime há quase sessenta anos.  Até porque, a grande maioria dos cubamos sequer conhece outro sistema que não seja aquele, e só poderão rechaçá-lo se puderem conhecer a alternativa.

Um dos defensores da suspensão do embargo, o senador Rand Paul é afirmativo: “Em vez de esconder o capitalismo por trás de um embargo fracassado, devemos derrubar as barreiras da restrição comercial, liberar as viagens e negociar ainda mais. Em vez de permitir que os socialistas continuem sua propaganda sem oposição, devemos ter confiança suficiente no capitalismo para deixá-lo competir cabeça a cabeça com o comunismo. Vejamos o que os cubanos escolherão quando se encontrarem cara a cara com iPhones, carros modernos e turistas com punhados de dólares comprando bens e serviços cubanos.”

Sim, Cuba mantém relações comerciais com diversos países capitalistas, mas nada se compara ao potencial americano, não apenas por sua enorme renda per capita, mas principalmente pela proximidade entre os dois países.

Já os apologistas do fechamento defendem que, desde a leve abertura de 2014, não se sentiu nenhuma mudança significativa no regime.  Além disso, o Governo Castro e seus asseclas, donos de quase tudo na ilha, ficariam com a maior parte dos recursos trazidos por americanos, aumentando ainda mais seu poder.

Ora, como bem apontou o Washington Post, não é realista esperar que uma genuína democracia liberal floresça em apenas dois anos num país tão fechado e repressivo. A “estratégia” precisa dar mais tempo ao poder dos mercados para que ele opere as mudanças desejadas.

As autoridades cubanas já haviam aderido, por exemplo, a algumas condições americanas, incluindo uma expansão dramática do acesso à Internet na ilha, que derrubou o monopólio da informação e da mídia pelo governo.  Não é nada, não é nada, já é um avanço.

Por outro lado, a construção de hotéis com dinheiro americano tem sido um dos poucos pontos positivos da economia cubana. Já o número de visitantes norte-americanos que não são cubano-americanos aumentou 74% em 2016, facilitada pela restauração de vôos comerciais entre os dois países.

Finalmente, cabe destacar que, embora o Estado continue sendo o principal patrão, mais de um quarto da força de trabalho cubana já não trabalha para o governo comunista, desde programadores de software até proprietários de salões de beleza, motoristas de táxi e donos de restaurantes. Esses são os embriões do capitalismo cubano, e serão abortados pela nova política retrógrada imposta por Trump.

Agora imaginem o que teria sido do “milagre econômico chinês” se, lá atrás, o Tio Sam tivesse tido a mesma postura em relação ao governo comunista da China.  Certamente, o mundo todo – e não apenas a China – estaria hoje muito mais pobre…

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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