“Liberdade versus socialismo” no campo brasileiro
BERNARDO SANTORO*
Há exatamente uma semana eu escrevi um artigo chamado “‘Liberdade versus socialismo’ no trânsito brasileiro“, onde argumentava que o problema do trânsito brasileiro era um problema da eficiência do modo de produção capitalista de carros contra o desperdício e a ineficiência do modo de produção socialista de ruas.
Relembrando os argumentos:
“O carro é produzido de modo capitalista no Brasil, ainda que restrito por regulações, impostos e protecionismo. As montadoras visam lucro e há um estímulo natural para uma produção cada vez maior.
As ruas são produzidas de modo socialista no Brasil, com o estado arrecadando impostos e promovendo, através de seus órgãos de estradas e rodagens, a criação, produção e realinhamento das vias públicas, ainda que com alguma parceria público-privada, no caso das estradas concedidas.
Ao longo da história, sempre que esse embate aconteceu, o socialismo se mostrou capenga. Atualmente, nem mesmo socialistas conseguem defender que o modo de produção socialista é mais eficiente, focando a crítica no fato de que, mesmo mais eficiente, o modelo capitalista seria mais “injusto”, o que não é verdade, pois há uma íntima correlação entre os países com alto IDH e os bem ranqueados no índice de liberdade econômica.”
Hoje vemos exatamente o mesmo problema no campo. O governo está lançando um plano para evitar um caos logístico no escoamento da produção de grãos, que terá safra recorde. Grãos são produzidos de modo capitalista, já a infra-estrutura de escoamento da produção (estradas e portos) são produzidos de modo socialista.
Por conta disso, a tendência é cada vez mais esse problema se agravar, e esse Portolog, que é o novo sistema de agendamento do governo que buscará sincronizar a chegada de navios e caminhões aos portos, apenas aliviará temporariamente os efeitos desse conflito entre capitalismo e socialismo, e apostaria que em curto prazo o Portolog já não mais surtirá os efeitos pretendidos.
A única solução para esse conflito, no longo prazo, é que tanto a produção de grãos quanto a produção de infra-estrutura estejam sob a mesma lógica. Sob a lógica socialista, a produção de grãos diminuirá a níveis compatíveis com a infra-estrutura. Sob a lógica capitalista, a infra-estrutura se adequará aos sucessivos recordes de produção.
Obviamente a segunda escolha é a mais óbvia, por criar maior riqueza para os envolvidos e para toda a sociedade brasileira. O problema é que quase nunca o governo aplica a solução óbvia.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL