Justa alforria para os médicos cubanos

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Estivesse o leitor, seja quem for, trabalhando em outro país, longe da família, com 70% do seu salário sacrificantemente conquistado sequestrado pelo seu próprio governo (ainda por cima, um governo ditatorial), e consideraria essa uma situação quase análoga à escravidão. Sem dúvida, veria nisso o cúmulo da abjeção.

Desde que o programa Mais Médicos foi implantado no Brasil, entretanto, as esquerdas – e isso se aplica a diferentes matizes, das consideradas mais intransigentes às mais “comportadas” –, para usar metaforicamente uma expressão que o presidente eleito Jair Bolsonaro tem empregado muito, parecem enxergar uma espécie de “excludente de ilicitude” no caso dos médicos cubanos. Eles, que se jactam de “defender os trabalhadores oprimidos”, no caso concreto, têm feito de conta que tudo está na mais perfeita ordem e esbanja a mais exemplar justiça.

Por quê? Porque naturalmente o regime perfeito, o mito fundador, o sonho molhado de todas as esquerdas latino-americanas, a maravilhosa ditadura comunista fundada pela dinastia Castro e seus asseclas, teria que ser impoluta, estar sempre certa.

Jamais lhes passaria pela cabeça que o regime cubano estivesse representando o papel do verdadeiro opressor, não os empresários que eles demonizam pelo simples fato de serem o que são: aqueles indivíduos que investem nas ideias, percebem as oportunidades, produzem riqueza, geram empregos e oferecem serviços úteis à sociedade.

É preservando esse dogma caduco, agarrando-se a seus sonhos de infância, que eles, nesta quarta-feira (14), se escandalizaram com Jair Bolsonaro quando o governo cubano anunciou que abandonaria o programa Mais Médicos diante das declarações do presidente eleito, antes sequer de ele tomar posse. As exigências de Bolsonaro, para os comunistas da ilha caribenha, eram inaceitáveis. Para a petista Gleisi Hoffmann, parceira de primeira hora dos comunistas, por óbvio, o “desumano” é, previsivelmente, Bolsonaro.

Que terríveis exigências, que escabrosos sinais teriam sido esses que esse vilanesco Bolsonaro transmitiu aos inocentes e valorosos cubanos? Nada mais que o mínimo da decência: cobrar a revalidação do diploma dos médicos, como forma de melhor proteger os brasileiros do risco da farsa; admitir que esses profissionais possam trazer suas famílias para o Brasil – sim, exatamente, vejam só: o xenófobo odioso quer abrir a perspectiva da migração de mais cubanos, não o contrário, como de imediato alardeariam os oportunistas de plantão; e, finalmente, a carta de alforria: a prerrogativa de pagar a esses médicos o salário integral que merecem pelo seu trabalho, dispensando a intermediação do governo de Cuba. Mais do que isso: diante do quadro, ele oferece asilo aos cubanos que, não obstante a decisão covarde dos seus líderes, desejarem permanecer no Brasil e escapar de seu tacão.

Bolsonaro fez o que demorou muito para ser feito. Cuba, o que segue e deverá seguir tardando para abandonar: sua pretensão de reinar absoluta sobre seus “cidadãos”, a quem tal rótulo só se aplicaria com farta dose de boa-vontade, dada a condição de sujeição em que se encontram.

Marina Silva, Manuela D’Ávila, Guilherme Boulos e outras criaturas vazias, de quem não se esperaria nada muito diferente, a julgar por suas declarações públicas a respeito do caso, não são capazes de enxergar tamanha obviedade – ou melhor: de querer enxergá-la. Da mesma forma Alexandre Padilha, o ministro da Saúde na época da criação do Mais Médicos, para quem “é isso o que acontece quando se coloca o espírito da guerra e os interesses particulares acima das necessidades do nosso povo”. É Bolsonaro quem prioriza as preferências de seu grupo acima do interesse nacional, não o PT, para quem o Estado brasileiro devia funcionar em benefício do seu projeto e do projeto bolivariano, apropriando-se de tudo que não lhe pertencia para beneficiar os aliados autoritários regionais! Haja lógica…

É certo que devemos fiscalizar, questionar, fazer oposição a tudo que estiver errado. Porém, já o dissemos: onde não há algo contra que se opor, não nos cabe inventar, muito menos para fazer eco a pessoas que representam tudo aquilo que mais nos comprometemos a combater.

A meu ver, é muito simples: no caso do programa Mais Médicos, Bolsonaro está certíssimo e de parabéns, e caso encerrado.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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