fbpx

Impeachment – Entre a moral e a lei

Print Friendly, PDF & Email

simpson

Lembro-me do movimento pelo impeachment de Fernando Collor porque participei dele. Tal movimento começou como uma manobra da UNE, com as primeiras manifestações contando apenas com estudantes do 2° grau. Foi uma farra matar aula para conhecer as meninas de outros colégios, tomar cerveja às 10hs da manhã e se sentir herói de alguma coisa. Sim, foi tudo manipulado, mas o movimento que se formou a partir disso foi honesto.

O contexto político e econômico daqueles anos fez com que a maior parte da sociedade enxergasse no movimento da molecada o autofalante perfeito para expor suas revoltas. As evidências de que Collor teve a reforma de sua casa e sua campanha à presidência pagas com dinheiro sujo moldaram um consenso nacional de que ele não merecia permanecer no cargo mesmo que os fatos ainda não tivessem sido devidamente esclarecidos e julgados.  O povo, movido mais por princípios morais do que por argumentos jurídicos, não teve piedade e pressionou Collor até sua renúncia. 22 anos depois, o STF concluiu que ele era inocente. Quem, daqueles “caras pintadas”, se arrepende? Ninguém, nem eu, e por uma simples razão: Aquele movimento não foi apenas pelo impeachment, mas um grito contra tudo o que Collor representava naquele momento. A crise econômica agravada por ele, os casos de corrupção, sua fanfarronice enquanto o povo enfrentava dificuldades… Quem ousa dizer que Collor foi injustiçado?

Sobre o episódio, Lula disse as seguintes palavras, alguns anos depois: “O povo brasileiro, pela primeira vez na América Latina, deu uma demonstração de que é possível o mesmo povo que elege um político destituir esse político. Eu peço a Deus que o povo brasileiro nunca mais esqueça essa lição”.

Alguns anos depois, em meio ao processo de reconstrução econômica do país através do Plano Real, por meia dúzia de vezes a militância liderada pelo PT tomou as ruas para pedir o impeachment de FHC. As acusações podem ser resumidas em duas: compra de votos para aprovar a emenda de reeleição; as irregularidades e a imoralidade da privatização da então Vale do Rio Doce − “Vendida por 1 real!”. Tarso Genro, logo no começo do 2° mandato de FHC, escreveu um longo artigo no jornal Folha de São Paulo exigindo seu afastamento – alguns anos depois, se arrependeu e pediu desculpas. Porém, a sociedade não deu crédito àqueles movimentos. Não foi ninguém, além dos militantes dos partidos mais à esquerda, às ruas porque a sociedade confiava nas reformas que estavam sendo feitas, mesmo sabendo que houve, sim, compra de votos para a emenda da reeleição.

Naqueles anos, Lula era a própria representação do ódio político. Aparecendo na televisão quase todos os dias, ofendia e caluniava despudoradamente todos os que se alinhavam ao governo do PSDB. Quando o MST invadiu e depredou a casa da fazenda da família do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, Lula não vacilou em manifestar publicamente seu apoio irrestrito aos vândalos. Os parlamentares do PT votavam sistematicamente contra todos os projetos apresentados pelo governo, das medidas complementares do Plano Real à quebra de patentes dos remédios, proposta por José Serra.

Naqueles mesmos anos, os Estados Unidos foram tomados pelo escândalo sexual de Bill Clinton com sua estagiária. Movidos apenas por princípios morais, significativa parte da sociedade e do congresso americano exigiu seu afastamento. Por pouco não conseguiram.

Lula, por causa do escândalo do Mensalão, também assistiu um movimento de impeachment se formar a partir da oposição, porém, assim como houve na gestão FHC e ao contrário do que houve com Collor, a sociedade, satisfeita com a situação econômica do país daquele momento, não viu motivos para apoiar tal movimento, mesmo que a maioria dos brasileiros tivesse certeza de seu envolvimento – “Ele sabia!”.

Estamos, hoje, mais uma vez entre a lei e a moral. O movimento marcado para o próximo domingo, 15 de março, não é apenas pelo impeachment de Dilma. É, assim como foi com Collor, um grito de revolta contra todas as imoralidades institucionais, administrativas, ideológicas e econômicas desse governo.

Dilma poderia ser enquadrada na lei federal nº 9.504, tendo como base os tantos indícios e testemunhos de pessoas diretamente envolvidas nos esquemas de corrupção que beneficiaram sua campanha à reeleição.

Dilma também poderia ser enquadrada no artigo 85, inciso 5 da Constituição, no tocante a suas responsabilidades administrativas, ou, como escreveu o jurista Ives Gandra: “A destruição da Petrobras nos anos de gestão da presidente Dilma Rousseff como presidente do Conselho de Administração e como presidente da República, por corrupção ou concussão, durante oito anos, com desfalque de bilhões de reais, por dinheiro ilicitamente desviado e por operações administrativas desastrosas (…) demonstra omissão, ou imperícia ou imprudência ou negligência”. Diante disso, lanço algumas perguntas:

A sociedade não tem o direito de protestar? Considerando as mentiras de campanha que a própria Dilma desmascara agora, por meio das medidas “impopulares” que vem tomando, o povo não tem motivos para se sentir enganado? A “Dona Maria” que teve o valor de sua conta de energia duplicado, o “Seu Zé” que viu o valor da gasolina disparando, o “Seu João” que comprou ações da Petrobrás com o saldo do seu FGTS e o “Seu Mané” que, além de ter perdido o emprego, soube que agora está mais difícil entrar nos programas de auxílio do governo… Todos eles não têm o direito de se revoltarem? Esses e tantos outros não podem se utilizar do termo “impeachment” para manifestar sua indignação? O cidadão brasileiro tem que se manter quieto diante todos os casos de corrupção (cujas cifras nunca são abaixo das dezenas de milhões) e de desvio de conduta do partido que está no poder faz 12 anos? Diante do desmoronamento econômico e institucional do Brasil, o povo deve se manifestar “grato por tudo”? Em vez de panelaço, devemos aplaudir?

Só os mais cretinos creem que o povo não tem motivos para reclamar.

Só os mais pervertidos ideologicamente se esforçam para defender Dilma “Youssef” e seu partido.

Certa vez, questionei um conhecido meu, orgulhoso comunista, sobre a razão dele se manifestar apenas contra a Globo. Sua resposta foi instantânea: “Primeiro, devemos atacar os símbolos!”. Concordo. Dilma, como Presidente da República, é o símbolo do poder responsável pelos caminhos desse país, portanto, passível de críticas, de questionamentos, de acusações e agora de um movimento que pede seu afastamento.

Muitas pessoas, incluindo o excelentíssimo e notoriamente frouxo ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, dizem que tirá-la do poder não mudaria nada. Neste raciocínio, deveríamos, então, deixar solto um sujeito que agride a esposa porque sua prisão não acabaria com violência contra a mulher num contexto social mundial e intergaláctico?

Outras argumentam que uma eventual saída de Dilma seria até pior, já que em seu lugar assumira o Michel Temer. Neste raciocínio, não deveríamos prender nenhum assassino, já que sempre haverá outros assassinos.

Vejo também pessoas dizendo que punir Dilma seria hipocrisia, já que existem tantos outros responsáveis impunes. Devo concluir, então, que não devemos prender um pedófilo porque existem muitos outros pedófilos soltos?

Sem covardia: Dilma é o símbolo que, agora, devemos atacar sem nos importar se por trás do movimento estão interesses de partidos da oposição ou de qualquer “elite golpista”. Devemos fazer desse “golpe” nosso autofalante para, no mínimo, tirar a paz do PT, lhe dar alguns problemas, lhe pressionar em algum sentido. O que não podemos é rechear nossa alma com os pudores que eles, petistas assumidos ou não, nunca tiveram. Repito o que escrevi noutro artigo: Quem declarou essa guerra foram eles, 30 anos atrás!

A derrubada desse símbolo, quem sabe, poderá nos dar força para derrubar muitos outros que representam a escravidão imposta pelo Estado. É, pelo menos, uma possibilidade.

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

4 comentários em “Impeachment – Entre a moral e a lei

  • Avatar
    18/03/2015 em 10:50 am
    Permalink

    Engraçado.. ” A derrubada desse símbolo, quem sabe, poderá nos dar força para derrubar muitos outros que representam a escravidão imposta pelo Estado. “, aí vão a rua pedir a volta da ditadura. Erro de cálculo ou são só burros msm ?!

    • joao
      18/03/2015 em 10:53 am
      Permalink

      Isabelly, acho que a burrice está vindo de sua parte por não conseguir interpretar o texto.
      Tente ler novamente.

  • Avatar
    13/03/2015 em 8:19 pm
    Permalink

    O comentário foi bem lembrado, mas devo contestar com todas as letras. O movimento estudantil não foi planejado por estudantes, mas pelos mesmos partidos que tentaram eleger Ulisses Guimarães e outros. Simplificando a política brasileira se resume no seguinte: QUEM ESTÁ FORA QUER ENTRAR; QUEM ESTÁ DENTRO NÃO QUER SAIR. O movimento de impeachment de Collor foi engendrado pelos que estavam fora e se viam na eminência de ser aprovado um decreto Lei promulgado por Collor no dia da posse, onde resumidamente dizia: “MANDAVA INVESTIGAR, PRENDER E CASSAR MANDATOS E CONFISCAR BENS DE TODO E QUALQUER FUNCIONÁRIO PUBLICO QUE SE ENVOLVESSE EM CORRUPÇÃO ATIVA OU PASSIVA. (Veja os anais, se não apagaram!) Este projeto foi engavetado e a imprensa foi proibida, sob pena de perder contratos de anúncios “superfaturados, é claro, de insistir no assunto.
    O movimento de 15 de Março não tem a “perniciosa influência” desses criminosos que se associam em partidos para assaltar os contribuintes. É um movimento gerado pela necessidade, daquele que vê cada dia mais a carestia tomar conta de volta, como nos anos de SARNEY, onde a ganância de enriquecimento rápido através do governo, se tornou uma obsessão nacional, como dizia Lula. Ou seja, é um movimento de protesto legítimo à moda Gandhi: Sem violência! As agitações que ocorreram nos outros movimentos foram promovidas pelos que estão dentro e não querem sair, assim como os “CARA PINTADAS” que realmente merecem o título de “PALHAÇOS A SERVIÇO DA CORRUPÇÃO. Eu estive lá do outro lado, podendo fazer um julgamento isento já que tenho a convicção de que o Brasil, só será digno do seu povo, quando extirpar todos os partidos e sindicatos. São eles os baderneiros. Na época me ofereceram CR$ 100,oo para apedrejar a prefeitura e praticar atos de vandalismo.
    Assim concordo, sem covardia, mas com determinação em exigir o fim de todos essas quadrilhas. Mas lembrem-se do que aconteceu com Collor. Saiu a Raposa – entrou o Lobo, deu na mesma. Se o impeachment vingar temos que criar uma nova constituição e a prisão de todos os que estão lá, desde o infeliz dia em que os portugueses aportaram nesse pais LINDO POR NATUREZA, ABENÇOADO POR DEUS, MAS VILIPENDIADO pelos políticos, ai sim a coisa vai melhorar. Trocar seis por meia dúzia não resolve absolutamente nada. Lembrem-se de Fidel Castro em Cuba e o fim da Dinastia Chang na China – cuja filosofia é: PARA QUE A NOVA SEMENTEIRA PROSPERE, É NECESSÁRIO QUEIMAR TODAS AS ERVAS DANINHAS. (Uma só que sobre, contaminará toda a nova plantação). É chegado a hora de pensar na verdadeira República Socialista sem burgueses, banqueiros, multinacionais e privatização do patrimônio público, onde a lei a justiça e a igualdade seja a filosofia de vida, o resto é enxugar gelo e conversa para boi dormir!

Fechado para comentários.

Pular para o conteúdo