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Ih… deu 44 bilhões!

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cirobilhaoEm 2008, em um debate promovido pelo programa “Conversas Cruzadas”, Ciro Gomes e o Presidente do IL, Rodrigo Constantino, debateram a respeito dos rumos do Brasil. Rodrigo Constantino defendeu a redução da máquina pública e um corte de gastos públicos. Ciro Gomes preferiu não discutir a questão teórica, e usou de um expediente de retórica para tentar quebrar o argumento do debatedor, exortando Rodrigo a mostrar, naquele momento, onde poderia ser cortado um bilhão de reais do orçamento. Sem ser um especialista em orçamento federal, Rodrigo apenas repetiu a declaração, afirmando que havia espaço. O debate pode ser visto aqui.

Para a maioria dos telespectadores, houve uma impressão de vitória de Ciro, mesmo ele não apresentando nenhuma solução alternativa. Isto porque, em um debate, você não precisa apresentar a melhor solução para sair vencedor. Basta quebrar o que o outro está  propondo. Essa é a lição do excelente filme “Obrigado por Fumar” sobre um lobista de cigarros (Nick Naylor) tentando impedir o governo de obrigar a indústria a por na embalagem de cigarros uma imagem de caveira. Segue o diálogo entre o lobista e seu filho (Joey):

Joey Naylor: …mas o que acontece se você estiver errado?
Nick Naylor: ei, Joey, eu nunca estou errado. 
Joey Naylor: mas você não pode estar sempre certo.
Nick Naylor: se é o seu trabalho estar certo, então você nunca está errado. 
Joey Naylor: mas e se você estiver errado? 
Nick Naylor: OK, vamos dizer que eu defendo o sabor baunilha e você o sabor chocolate (sorvete) . Agora, seu eu dissesse para você “baunilha é o melhor sabor”, você diria… 
Joey Naylor: não, é chocolate. 
Nick Naylor: exato, e não há como vencer esse argumento. Então eu te pergunto: então você acha que chocolate é a melhor coisa do mundo em matéria de sorvete?
Joey Naylor: é o melhor sorvete. Eu não pediria nenhum outro.
Nick Naylor: oh! Então é só chocolate para você? 
Joey Naylor: sim, chocolate é tudo o que eu quero.
Nick Naylor: bem, eu preciso de mais do que chocolate, e para sua informação, eu preciso de mais do que baunilha. Eu acredito que precisamos de liberdade. E precisamos ter direito de escolha sobre o sabor do sorvete. E isso, Joey, é a definição de liberdade.
Joey Naylor: mas não é sobre isso que estamos falando.
Nick Naylor: ah, mas é sobre o que eu estou falando.
Joey Naylor: …mas você não provou que baunilha é o melhor sorvete… 
Nick Naylor: eu não preciso. eu provei que você estava errado, logo, eu estou certo.
Joey Naylor: mas você não me convenceu.
Nick Naylor: mas eu não quero convencer você, quero convencer os outros.

Ciro Gomes fez exatamente isso. Ele não convenceu Rodrigo de que o país não precisa de cortes de gastos. Ele desviou o assunto para mostrar que Rodrigo não podia comprovar na prática, naquele momento, sua afirmação. Se o Rodrigo não pode mostrar onde cortar gastos, ele está errado. E se ele está errado, Ciro se mostrou certo, mesmo sem apresentar nenhum argumento em defesa da necessidade de gastos públicos.

Pois bem, hoje o PT vingou Rodrigo, como já vem fazendo há algum tempo. Foi anunciado um corte de 44 bilhões de reais no orçamento federal para este ano, bem mais do que o 1 bilhão pedido por Ciro. No ano anterior foram outros 28 bilhões, e sempre tem algum corte bilionário. A verdade é que o país incorre em sucessivos déficits nominais, sempre gastando mais do que arrecada para financiar o consumo, obras públicas de utilidade duvidosa, uma previdência falida e pagamento de pessoal, o que demonstra o total descalabro das contas públicas do Brasil.

Mais para frente, escreverei um artigo especificamente  sobre essa questão da dívida pública brasileira, mas é evidente que há espaço para uma redução do gasto público brasileiro, e para até mais de que 44 bilhões, sem contar que é sempre bem-vinda uma reforma administrativa que enxugue competências do Estado e entregue-as para o setor privado, muito mais eficiente.

O fato é que não sabemos exatamente o teto de quantos bilhões o Estado pode cortar de gastos para liberar recursos para a iniciativa privada poder voltar a investir (certamente mais de 1 bilhão, como o próprio governo aliado ao Ciro mostrou), mas posso garantir que o discurso retórico do Ciro Gomes, embora esteticamente bonito, não vale um tostão furado.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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