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Hora de pagar a conta. Quem se lembra do que diziam os defensores da greve dos caminhoneiros?

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Há apenas alguns meses tivemos nossas vidas e atividades cotidianas interrompidas por conta das reivindicações tresloucadas de um sem número de caminhoneiros que, ao exigirem a redução dos impostos incidentes sobre o preço do Diesel, foram capazes de conquistar mentes e corações de brasileiros que apoiaram o movimento. Tais apoiadores tiveram sua capacidade analítica dos fatos seriamente comprometida pela suposta possibilidade de algumas de suas pautas – sejam lá quais forem – serem atendidas com a paralisação.

A despeito das consequências nefastas que seriam provocadas pela greve – as quais foram apontadas por alguns adeptos do liberalismo – grande parte da nação, tomada pelo espírito aventureiro, aderiu à causa dos grevistas ignorando as lições de seu próprio passado, como apontei neste artigo.

Aos que adoram colocar o seu boné revolucionário e gritar contra tudo isto que está aí, os fatos: movimentos revolucionários não são capazes de oferecer respostas prontas para demandas variadas e complexas que, não raro, são fruto de intervenções governamentais. Ainda no ano de 2010, o BNDES ofereceu, a pequenos empresários individuais do setor de transporte e a caminhoneiros autônomos, empréstimos subsidiados para a compra de caminhões. Estes empréstimos eram oferecidos a taxas de juros que se situavam abaixo da taxa SELIC. Como era de se esperar, o incentivo irresponsável à compra de caminhões a juros subvencionados aumentou a quantidade de ofertantes de serviços de transporte o que, segundo a irrevogável lei da oferta e da procura, jogou os preços dos fretes no chão.

Ademais, anos de uma administração irresponsável na Petrobras – quem se lembra do congelamento de preços perpetrado pela gerentona Dilma Rousseff? -, capazes de destruir o capital da empresa, forçaram a gestão de Parente a adotar uma postura que, do ponto de vista econômico, fosse mais eficiente e ajudasse a refazer o caixa destruído na era petista, o que se traduziu no aumento do preço dos combustíveis.

Desenhado este cenário, dispararam os custos com os quais os caminhoneiros tinham que lidar para continuar com suas atividades. Qual a solução encontrada pelos caminhoneiros e, pasmem, por alguns supostos intelectuais para este imbróglio? Exigir, aos berros, que o governo, com sua caneta miraculosa, reduzisse os preços do Diesel e tornasse viável aquilo que era inviável.

Como nos alerta a escola austríaca de economia, no entanto, intervenções governamentais “bem intencionadas” – na forma de regulamentações, subsídios, barreiras protecionistas, etc. – sempre irão gerar efeitos de curto e de longo prazo. Os de curto prazo, imediatos, podem ser facilmente percebidos pelos economistas medíocres. Os de longo prazo, no entanto, só serão percebidos por economistas e analistas cuja capacidade de análise não tenha sido distorcida por qualquer viés ideológico ou pela confiança num modelo estatal de incentivos.

Passada a greve e toda aquela euforia revolucionária, o que se vê hoje no Brasil é exatamente o cenário já vaticinado pelos liberais que apontaram as consequências do movimento. Dados mais recentes do IBGE acusam que nenhum setor da economia passou incólume pelos efeitos da greve. A indústria recuou a patamares de 2003, a produção de veículos caiu com a interrupção do ritmo de trabalho imposta pela falta de matéria-prima, o varejo registrou, em maio, seu pior resultado mensal e os índices de confiança pioraram.

Ontem, submetendo-se às regras do submundo do toma lá dá cá, a Coca-cola já reivindicou também o seu quinhão. Quer benefícios fiscais para que suas atividades no Brasil continuem sendo viáveis. A justificativa? Segundo a empresa, o governo federal reduziu o benefício fiscal concedido a fabricantes de concentrado de refrigerantes para que pudesse pagar as contas dos subsídios ao diesel. Sem o benefício, a empresa prevê uma queda de 15% em suas vendas, argumento que, sejamos francos, ganha um apelo adicional com o anúncio da consequente demissão de 15 mil empregados.

O resumo da ópera é o seguinte: no Brasil, onde predomina a mente estatizante, todos querem se abraçar ao Estado para fugir das consequências calamitosas de políticas públicas postas em prática pelo próprio Estado. Estamos num ciclo vicioso. A retórica muda – ora em benefício da manutenção de empregos, ora em benefício da educação de nossas crianças e ora em benefício do bem-estar social – mas a solução demandada pelos diversos segmentos da sociedade continua sendo inacreditavelmente a mesma, mais Estado. Ignorar as consequências dos atos irresponsáveis já é lugar-comum por estas bandas. O que não dá para ignorar é que, por conta do apoio irrestrito a essa selvageria, a cesta básica ficou mais cara e os empregos mais escassos. Postergar o pagamento da fatura não é uma opção. Enfim, chegou a hora de pagar a conta.

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Juliano Oliveira

Juliano Oliveira

É administrador de empresas, professor e palestrante. Especialista e mestre em engenharia de produção, é estudioso das teorias sobre liberalismo econômico.

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