Resenha: Lições Estoicas e Liberais para a Sociedade

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Em um ambiente cada vez mais opressor, onde a autonomia está enfraquecida, a recente proibição de cães de estimação em Pyongyang, imposta por Kim Jong-un, serve como um lembrete sombrio sobre os perigos da tirania. Mais do que uma particularidade do regime norte-coreano, esse decreto estimula reflexões sobre a defesa da liberdade e da responsabilidade individual.

Nesse contexto desafiador, as filosofias do estoicismo e do liberalismo surgem como ferramentas valiosas para enfrentar os dilemas do mundo moderno. Ambas as correntes de pensamento reconhecem a liberdade individual como a base de uma sociedade justa e próspera.

O estoicismo, filosofia criada por Zenão de Cítio no século IV a.C., define a liberdade como a capacidade de discernir o que está sob nosso controle e agir em conformidade com a virtude. Epiteto, um destacado filósofo estoico, aprofundou essa compreensão ao afirmar que “a liberdade não consiste em fazer o que se quer, mas em querer o que se deve”. Essa filosofia nos estimula a desenvolver resiliência, tranquilidade mental e a capacidade de tomar decisões racionais, mesmo diante de desafios.

Por sua vez, o liberalismo é uma filosofia política que defende a liberdade individual como princípio fundamental. Um dos principais pensadores do liberalismo, John Stuart Mill, argumenta que a liberdade é essencial para o bem-estar da sociedade como um todo. Para Mill, “o único propósito pelo qual o poder pode ser legitimamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é para prevenir o dano aos outros”.

O estoicismo e o liberalismo convergem em diversos aspectos, especialmente quando se trata da responsabilidade individual e da busca pelo conhecimento como forma de fortalecer a liberdade.

  • Discernimento e Compreensão: o estoicismo enfatiza a relevância de distinguir entre aquilo que podemos controlar e agir de maneira ética. A busca pelo conhecimento possibilita uma compreensão mais aprofundada das circunstâncias, capacitando a pessoa a enfrentar os desafios com sabedoria.
  • Liberdade de Escolha e Informação: o liberalismo defende a liberdade como princípio e ressalta a importância do conhecimento na tomada de decisões pessoais. A liberdade de escolha pressupõe indivíduos informados e capazes de tomar decisões racionais. A busca pelo conhecimento capacita os cidadãos, permitindo-lhes fazer escolhas que beneficiam a eles mesmos e aos outros.

Ambas as filosofias, o estoicismo e o liberalismo, enfatizam a racionalidade e a busca pelo conhecimento, promovendo uma abordagem ativa na preservação da liberdade. A capacidade de compreender as circunstâncias, agir de forma ética e tomar decisões informadas são elementos fundamentais que sustentam a responsabilidade individual, constituindo uma resistência contra práticas autoritárias.

Epiteto, em seus discursos, destaca a importância da educação para alcançar a liberdade: “Qual é o resultado desses ensinamentos? Somente a colheita mais bonita e adequada daqueles que são verdadeiramente educados – tranquilidade, destemor e liberdade”. Sua afirmação de que os verdadeiramente educados colhem os frutos da tranquilidade, destemor e liberdade sugere que a busca pelo conhecimento é uma via para a realização da verdadeira liberdade interior. A ideia de que “apenas os educados são verdadeiramente livres” confronta a noção antiga de que somente os livres podem ser educados, mostrando que o conhecimento é o alicerce da liberdade.

A frase “O conhecimento e o autoconhecimento constituem a essência da liberdade”, presente no livro 366 Lições sobre Sabedoria de Ryan Holiday, reforça a essência das filosofias em questão, destacando que a verdadeira liberdade surge do entendimento completo tanto do mundo exterior quanto do interior.  A convergência entre o estoicismo e o liberalismo proporciona perspectivas inspiradoras e orientações para um amanhã mais promissor. Ao cultivarmos a liberdade individual com responsabilidade, autocontrole e razão, construímos um mundo onde cada voz pode ser ouvida e cada indivíduo pode florescer.

A proibição de cães em Pyongyang destaca as possíveis consequências em uma sociedade restritiva, incentivando ainda mais a reflexão sobre a importância dessa busca. A liberdade, contudo, não é um estado estático, mas sim uma conquista contínua que exige vigilância e ação constante. Cultivar a resiliência, o autoconhecimento e a responsabilidade individual é necessário para enfrentar os desafios que ameaçam a liberdade, como o autoritarismo e a manipulação da informação.

A defesa da liberdade exige o engajamento ativo de cada indivíduo. Deve-se participar de debates públicos, exercer a cidadania e unir-se a movimentos que lutam por uma sociedade mais livre. A jornada pela liberdade é longa e desafiadora, mas é primordial para o progresso da humanidade.

Referências

Coreia do Norte força famílias a doar cães de estimação, diz jornal sul-coreano. G1, 20 de agosto de 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/08/20/coreia-do-norte-forca-familias-a-doar-caes-de-estimacao-diz-jornal-sul-coreano.ghtml. Acesso em: 14 de fevereiro de 2024.

EPITETO. O Manual de Epiteto e uma seleção de Discursos. Tradução: Fábio Meneses dos Santos. Editora Principis, 2021.

MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Tradução: José Paulo Paes. São Paulo: Editora Unesp, 2008.

HOLIDAY, Ryan; HANSELMAN, Stephen. Diário Estoico: 366 Lições Sobre Sabedoria, Perseverança e a Arte de Viver. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

*Daniela Hemerly é associada do Instituto Líderes do Amanhã. 

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