A trajetória de Antônio Delfim Netto (1928-2024)
Figura inescapável da vida pública brasileira no século XX, Antônio Delfim Netto (1928-2024) foi professor emérito da FEA-USP, ministro da Fazenda dos governos Costa e Silva e Médici, embaixador do Brasil na França, ministro e secretário no governo Figueiredo e deputado federal constituinte.
Depois de ter servido por tanto tempo aos governos militares, terminou dando conselhos a Lula e emitindo pareceres favoráveis a diversas políticas econômicas petistas. Conseguiu ter boas relações com pessoas de diversos ângulos do espectro politico brasileiro, mas, respeitosamente, creio que, para um liberal, ele é a ilustração mais pedagógica de que o regime militar passou longe de representar nossa concepção de sociedade e economia.
Quando da assinatura do Al-5, Delfim sustentou que o que chamava de “Revolução” tinha a tarefa de “restabelecer a moralidade administrativa” pervertida pelo governo João Goulart e pelo radicalismo de esquerda, mas acrescentou que também teria o papel de “criar as condições que permitissem uma modificação de estruturas que facilitassem o desenvolvimento econômico”.
Queria, mais ainda, que a “revolução” não se envolvesse em uma “camisa de força” e se institucionalizasse “tão cedo”, sentenciando que o Al-5 não era apenas necessário como insuficiente, já que o presidente deveria ter amplos poderes para fazer mudanças constitucionais (numa Constituição que, desde o ano anterior, já era a consagrada dentro do próprio regime) para que o país se desenvolvesse rapidamente, ou seja, elas envolveriam ingerências no campo econômico.
Se um decreto que permitia cassação de mandatos em todas as esferas, intervenção em governos estaduais e municipais, suspensão de garantias individuais e habeas corpus, emitido logo após o Congresso se recusar a cassar um parlamentar por críticas feitas aos militares, era pouco – e Delfim nunca modificou essa posição -, então podemos apenas imaginar quão longe chegaria a “revolução ideal” do vulto que hoje se despediu de nosso palco histórico.