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Fusões e aquisições também são mecanismos de “destruição criadora”

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A cervejaria americana AB Imbev acaba de adquirir, por impressionantes 109 bilhões de dólares, sua concorrente inglesa de origem sul africana SABMiller.  O negócio abrirá as portas do mercado africano à Imbev, além de fortalecer a sua presença na China, onde a SABMiller já tem boa penetração.  Em termos de economia de escala, é praticamente certo que a fusão das duas cervejarias representará um bom corte de custos e, consequentemente, o aumento da lucratividade.

Muita gente, principalmente nos Estados Unidos, onde as duas empresas juntas detêm perto de 70% do mercado, já começa a bombardear o negócio, na expectativa de que as autoridades “antitrust” rejeitem o acordo.  Esta é uma postura tipicamente esquerdista, que vê no intervencionismo uma forma de tentar blindar o mercado contra os supostos monopólios.

Malgrado a alegada concentração, o mercado dos EUA continua bastante propício à abertura de novas cervejarias, tanto que, em 2014, o número de fabricantes alcançou a marca impressionante de 3.464 indústrias.  O aumento do número de cervejarias, só no ano anterior (2013), foi de 547 (mais de uma nova fábrica por dia).  Um sinal inequívoco de que há espaço para todo mundo.

Ao contrário do que pensam os esquerdistas antimercado, monopólios e oligopólios só prosperam quando os governos interferem no livre jogo do mercado para, direta ou indiretamente, protegê-los da competição e da tão temida “destruição criadora”. Quando a concorrência é permitida e incentivada, o que se vê é uma “gangorra” alucinante, em que empresas nascem e morrem numa velocidade muitas vezes frenética.

Um dos motores do desenvolvimento econômico é o processo, apelidado pelo austro-húngaro Joseph Schumpeter, de “destruição criadora”. Sua origem está no mecanismo virtuoso da concorrência e no espírito empreendedor, que induzem indivíduos e empresas a inovar, experimentar e criar. No interior desse processo, produtos obsoletos e métodos de produção ineficientes vão sendo constantemente substituídos por novos produtos, novas fontes de matérias primas e técnicas inovadoras.

Nesse sentido, a fusão das duas cervejarias, recentemente divulgada, também é um bom exemplo da “destruição criadora” de que falava Schumpeter. Entretanto, enquanto alguns compreendem os fantásticos benefícios derivados destas fusões e aquisições, muitos ainda teimam em rechaçá-las, especialmente aqueles que preservam a falsa ideia de que os consumidores precisam se defendidos pelo Estado, ou de que a função prioritária de uma empresa é gerar (ou manter) empregos.

Empresas existem com o objetivo de gerar lucro aos seus acionistas, o que só é possível através da inversão de poupança em investimento de risco e do atendimento eficiente das necessidades e desejos dos consumidores. A geração de empregos e o incremento dos salários são consequências virtuosas e desejáveis da busca pelo lucro e surgem somente em função da competitividade, das demandas do mercado e do incremento da produtividade. É um erro gravíssimo pensar em empregos como fins em si mesmos. Eles são meramente meios, fatores de produção como outros, sujeitos à inexorável lei da oferta e da demanda.

Numa economia de mercado, novas empresas nascem e prosperam muitas vezes conquistando espaços antes ocupados por seus competidores. Tentar proteger os mercados, as receitas, os empregos ou os lucros de empresas estabelecidas acaba por obstruir o processo natural rumo ao progresso. Compreender isso significa dar boas vindas tanto à criação de novas quanto à extinção de velhas empresas, pois só assim teremos certeza de que o mercado estará substituindo o que é obsoleto, ultrapassado, pelo que é superior.

Por isso, as empresas (sejam mercantis, industriais, financeiras ou de serviços) precisam estar constantemente inovando, revendo métodos de produção, reduzindo custos operacionais e oferecendo melhores produtos e preços, caso não queiram afundar no pantanoso gosto do consumidor.

Contrariando as ideias de Piketty e outros – segundo as quais haveria uma tendência intrínseca ao capitalismo para a concentração e perpetuação da riqueza -, a “mobilidade empresarial” nas economias onde a competitividade é estimulada é alucinante. O tempo médio de permanência de uma empresa na lista das 500 maiores norte americanas, por exemplo, é, atualmente, de ínfimos 10 anos, conquanto já chegou a ser de 65, num passado não muito distante. [*]

Comparando as listas das 500 maiores empresas, em 1955 e 2015, publicadas pela revista Fortune, por exemplo, ficamos sabendo que apenas 61 aparecem em ambas as listas. Em outras palavras, somente 12,2% das empresas listadas em 1955 estavam ainda na lista 60 anos depois. Isso quer dizer que, quase 88% das 500 maiores empresas de 1955 faliram, fundiram-se com (ou foram adquiridas por) outras, ou ainda existem, mas não estão mais entre as maiores (classificadas pela receita total).  Se a tendência atual continuar, é razoável esperar que, quando a lista da Fortune sair, daqui a 60 anos, a maioria das empresas que ali estão hoje não mais existirão, e terão sido substituídas por empresas mais eficientes e inovadoras.

[*] Dados extraídos do livro Destruição Criativa – Por que empresas feitas para durar não são bem sucedidas, de Richard Foster e Sarah Kaplan.

 

 

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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