Fora da realidade. Ou: a Grécia é logo ali!
Até alguns economistas da Unicamp, entusiastas do desastre apelidado de “Nova Matriz” econômica, reconhecem que a situação financeira do país não é das mais fáceis.
E para quem conhece o título “Missão Impossível” apenas como filme de ficção tem visto a expressão se encaixar como uma luva à realidade que mais desafia os homens públicos de hoje: consertar as contas públicas. Mas será que eles entenderam a situação?
O mercado já nem aposta que a meta anunciada de 1,2% do PIB (66,bi) para o Superávit Primário seja cumprida. Em um cenário em que a perspectiva dos juros é de alta ( para conter a inflação) e a da atividade econômica é de recessão com emprego e renda deteriorados, é mais que razoável promover um corte de gastos. Mas não é só o governo, o Congresso precisa fazer a parte dele.
Não temos de onde tirar, mas, ainda assim, o Congresso aprovou o repasse de R$ 50 bi para o BNDES, o mesmo que, além da falta de transparência, empresta dinheiro a baixas taxas para empresas que não precisam disso e para obras de infraestrutura no exterior de alto risco e baixa garantia.
Pode-se somar a essa conta de gastos discutíveis e desnecessários aprovados pela Casa da leis, ao menos, mais R$ 1 bi para instalar um complexo comercial no parlamento, chamado por alguns de “shopping”, aprovado como jabuti em uma medida que elevava impostos sobre importação. Somam-se nessa conta mais R$ 100 milhões de gastos que serão despendidos graças ao aumento salarial concedido aos defensores públicos da União (passaram de R$ 31 para 33 mil mensais), também aprovado pela Câmara Federal.
Nesse compilado de prejuízos podemos acrescentar 578 milhões pela triplicação do fundo partidário (que passou de R$ 289 mi para R$ 867 mi), e poderia ser, caso tivessem aprovado a intenção inicial, que era disponibilizar a bagatela de R$2 bi para o fundo. Junto a tudo isso, tivemos a extinção do fator previdenciário (vetado posteriormente) que teria potencial de elevar o rombo da previdência de 7,5% do PIB para 15% em 50 anos, (conforme projeção da Chicago Boys Investimentos) período em que teremos muito mais idosos do que pessoas trabalhando para sustentar o regime de repartição simples do INSS.
Para finalizar com “chave de ouro”, nessa semana, a CCJ aprovou aumento de 53% para 78% para os 120.000 servidores do poder judiciário federal que, se aprovado, pode impactar em 25 bi nos próximos anos. Desconheço, no cenário atual de crise, alguma empresa que siga a mesma linha de raciocínio; resta saber se alguns parlamentares são alquimistas e, além de leis, aprenderam a criar riqueza do nada.
Fechamos o ano passado com um rombo histórico de R$ 32,5 Bi nas contas públicas e nesse ano temos um crescimento da dívida bruta de mais de 500 bi (de 54% para 62%,5 do PIB) no mesmo instante em que a arrecadação e o crescimento vão ladeira abaixo. Depois de tanto número, nem é necessário ler até o fim para entender que a conta não fecha e que o aumento de impostos e o contingenciamento de gastos não vão dar conta de resolver o problema.
O governo tem muito a fazer (são mais de 100 mil comissionados e 38 ministérios, em sua maioria improdutivos), até porque a crise de hoje foi causada pelos erros da gestão Dilma 1. Ao Poder Executivo, cabe cortar gastos e parar com maquiagens contábeis, além de alinhar os empréstimos dos bancos públicos à SELIC, finalizando o ciclo de crédito inseguro. Mas se o Congresso continuar nesse rumo, aprovando medidas na contramão, as coisas serão ainda mais difíceis e custarão mais caro.
Outro player importante nessa crise é a imprensa; é preciso entender, de uma vez por todas, que inflar os gastos não é derrota do governo (como tem sido amplamente noticiado) e sim de nós, cidadãos, que bancamos toda essa farra. O papel das coberturas é, mais do que nunca, enfatizar que governo nenhum produz nada, apenas extrai compulsoriamente de quem o faz, com o agravante de que nosso governo investe pouco e tende a gastar o dinheiro numa eficiência muito menor do que seu dono de origem.
Enquanto nada disso acontece, muitos “não enxergam o que veem” e guiam suas canetas a assinaturas de leis completamente desconexas da realidade. É amigos … Parece que não, mas a Grécia é logo ali!