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A Esquerda e o Paradoxo de Fermi

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enrico_fermiTodo mundo tem gostos ou interesses considerados não muito convencionais. Em minha vasta lista pessoal, incluo a Ufologia, suas polêmicas e especulações. Sim, círculos em plantações, discos voadores, Roswell, homenzinhos verdes ou cinzentos, tecnologias secretas… Tudo isso. Mas, óbvio – avisamos desde já o leitor compreensivelmente surpreso -, este artigo não é sobre Ufologia.

Durante um almoço em 1950, o físico Enrico Fermi, um cético conhecido pelos entusiastas dessa área paracientífica, fez um questionamento hoje mundialmente famoso. Segundo ele, todas as probabilidades matemáticas apontariam para a existência de civilizações e seres inteligentes avançados em outras partes do Universo. Sendo assim, objetou Fermi, por que não se tem evidência concreta? Por que não são encontradas objetivamente pela Ciência essas tais formas de vida? Em outras palavras, como ficou célebre a pergunta: “onde eles estão?”.

Pouco importa se você acredita ou não em OVNIs; tendo algum conhecimento do assunto, você já ouviu falar do que se convencionou chamar Paradoxo de Fermi. Onde estão os sinais? Onde está a concretude dos fatos? Os defensores da Ufologia dirão que eles foram dados; os críticos, que não. Mas a indagação é fundamental, e serve para mais do que avaliar se estamos ou não sozinhos no espaço.

Tragamos Fermi para a dimensão da política. Talvez, como físico, ele não se sentisse muito à vontade por ter suas reflexões transplantadas para a área das Humanidades. Pedimos sua licença, porém, porque a causa é justa. Desde Marx, os socialistas fazem essa conjugação, na maioria das vezes de forma inadequada; consideram possível aplicar perfeitamente leis ou concepções científicas, com rigidez e absoluta precisão, aos fenômenos humanos e sua notória subjetividade. Com efeito, Marx e Engels disseram estar inaugurando o “socialismo científico”, por oposição aos anteriores, como Fourier e Saint-Simon, tidos por “utópicos”. Afirmavam estar descrevendo uma ordem evidente de fatos sociais, equiparáveis, nesse aspecto, aos fatos da natureza; com base nisso, tinham a convicção de estar prevendo, com precisão, os acontecimentos futuros – de um futuro bem próximo. Um futuro de revolução, derrubando o sistema capitalista, introduzindo o regime do proletariado, e culminando na abolição completa da “luta de classes” e o advento em glória do comunismo perfeito.

Hoje, os esquerdistas mais retrógrados conservam essa mentalidade. A prova mais evidente disso nas últimas semanas tem sido a candidata do PSOL, Luciana Genro. Reiteradas vezes, em entrevistas para diferentes emissoras, ela tem dito que sua plataforma política mantém a fé na “grande verdade socialista”, do profeta Karl Marx. Como os repórteres, mesmo aqueles com tendências de esquerda moderada, não podem deixar passar seu radicalismo sem apertá-la contra a parede, por dever de ofício e consciência, perguntam: “mas candidata, onde o socialismo funcionou? Onde estão os países em que essa ideologia marxista, aplicada na prática, rendeu resultados?” Isto é… “Onde estão eles?” Perguntaria Fermi. Onde estão os exemplos, as evidências; onde estão os lugares onde essa nova “ciência social” comprovou sua eficácia e concretude? Onde o sonho de revolucionários de todo o mundo se provou uma possibilidade justa e real?

Aí, Luciana Genro demonstra um cinismo inacreditável, em pleno 2014, segunda década do século XXI. Depois de o mundo assistir às atrocidades soviéticas no gelo árido dos gulags; depois de assistir aos horrores genocidas do Khmer Vermelho no Camboja; depois de ver a fome do Holodomor sorver até o último sopro de vida das vítimas; depois de ver os nacional-socialistas da Alemanha, pomposos, anunciarem que o seu “socialismo” de viés racial era o verdadeiro e enfrentarem diretamente as outras versões dominantes, provocando, aliados ao fascismo italiano, uma Guerra Mundial; depois de, aqui do lado e agora mesmo, o regime chavista deixar a população venezuelana sem papel higiênico, Luciana Genro não se abala. Ela dá respostas como esta: “nenhum desses regimes era socialista. Na verdade nós não temos modelo de socialismo que tenha seguido fielmente Marx. Ele se revira no túmulo cada vez que dizem que esses regimes eram socialistas. Nós, no Brasil, podemos e vamos criar o nosso próprio modelo, diferente dos outros, aplicando o VERDADEIRO socialismo.”

Iluminado seja o PSOL, partido nanico da grande “terra brasilis”, que implantará, pela primeira vez em toda a história da humanidade, o modelo puro e fiel do sistema socialista. Iluminados sejam os grandes missionários Luciana Genro, Jean Wyllys, Marcelo Freixo, Chico Alencar e quejandos, que farão o que nenhum dos grandes líderes políticos do planeta conseguiu fazer em todos os últimos séculos – e em todos os tempos! Temos todos os motivos para acreditar que isso vai funcionar. Temos todos os motivos para acreditar que o Brasil será a vanguarda do planeta, e todos seguirão o nosso puro e maravilhoso modelo, que é o único que será verdadeiro e perfeito – a mesma coisa que disseram todos os tiranos assassinos listados acima.

Não, é claro que não temos todos os motivos. Na verdade, diria Fermi, nesse caso, nem mesmo as probabilidades estatísticas estão a nosso favor. Pense o que quiser sobre Ufologia, mesmo o mais empedernido cético terá de reconhecer que é “essencialmente, ontologicamente, existencialmente, não-sei-o-quê-mais-mente” mais fácil defender a existência dos discos voadores e dos ETs do que defender os socialistas. No entanto, ainda existem brasileiros que votam em candidatos como Luciana Genro.

Agora, ao terminar de escrever essas linhas, penso se foi uma boa ideia mencionar ETs e outros mundos por aqui. Talvez Luciana Genro e os psolistas se inspirem e resolvam procurar outros planetas onde o socialismo tenha dado certo. Porque na Terra, não está fácil… De qualquer modo, tenho para mim que não acharão. E se os alienígenas avançados contatarem um terráqueo, e este terráqueo for um dos militantes e políticos dessa legenda que acredita que socialismo e liberdade podem andar juntos, terão a “certeza” – queremos crer que falsa -de que não existe vida inteligente por aqui.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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