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ENEM que a vaca tussa!

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lendoEstou ficando cansado de repetir que a educação no Brasil é um caso de calamidade pública. Sinto-me como uma voz pregando no deserto…

Numa época em que cada vez mais o conhecimento é valorizado como um instrumento de desenvolvimento socioeconômico e de consciência política, o Brasil está em condições cada vez piores.

Tanto que não conseguimos imaginar qual o futuro de um país em que a maioria é não só analfabeta como também incompetente para fazer qualquer coisa (coisa honesta e produtiva, é claro!).

Um quarto da juventude brasileira não trabalha nem estuda. São os chamados Nem-Nem. Que vergonha nacional!

Os números não mentem e depõem contra o Brasil: em cerca de 160 países, o Brasil ocupa o 88.o lugar em educação básica e o 66.o lugar em educação superior.

Nossa melhor universidade, a USP, está abaixo do 150º lugar no ranking da Times Higher Education, entidade que avalia a qualidade do ensino universitário em todo mundo.

É de sentar no meio-fio é derramar rios de lágrimas ou então soltar estrepitosas gargalhadas, uma vez que o que dá pra rir dá pra chorar, questão de peso e de medida, problema de hora e de lugar.

Há alguns anos venho colecionando “pérolas” do ENEM. Eis aqui algumas delas do vestibular de 2009 em que o tema era Ecologia.

1) “o problema da Amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta.”  2) “A Amazônia é explorada de forma piedosa.”  3) “Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar a planeta.” 

4) “A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu.”  5) “Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta.”  6) “O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação.”

7) “Espero que o desmatamento seja instinto.”  8) “A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo.”

9) “A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta.”  10) “Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis.”  11) “Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas.”

12) “Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna.”  13) “Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza.”  14) “A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica.”  15) “A amazônia tem valor ambiental ilastimável.” 

16) “Explorar sem atingir árvores sedentárias.”  17) “Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela amazônia.” 

18) “Paremos e reflitemos.”  19) “A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas.”  20) “Retirada claudestina de árvores.”  21) “Temos que criar leis legais contra isso.”  22) “A camada de ozonel.”  23) “a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor..” 

24) “A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração.”  25) “A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo desmatamento devastador, intenso e imperdoável.”  26) “Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação.”

27) “Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises.”  28) “A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes.”  29) “O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório.  30) “O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando.”

31) “Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc.”  32) “Convivemos com a merchendagem e a politicagem”  33) “Na cama dos deputados foram votadas muitas leis..”  34) “Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia.”  35) “O que vamos deixar para nossos antecedentes?”

Confesso que estou mais preocupado com o que vamos deixar para nossos descendentes.

Uma breve análise dessa amostragem de tolices e besteirol generalizado revela:  (1) vocabulário paupérrimo;  (2) desconhecimento de coisas elementares;  (3) erros grosseiros de gramática, etc.

Mas no vestibular de 2015, os alunos conseguiram se superar: mais de 500.000 (Quinhentos mil!) tiraram 0 (zero) em redação. Inferência imediata: 500.000 alunos não sabem escrever. São analfabetos.

Como é que conseguiram chegar ao segundo grau, condição indispensável para fazer o vestibular?!

Em “Vergonha nacional” (Folha de S. Paulo, 22/1/2015), Arnaldo Niskier fez uma avaliação do ENEM de 2015:

“Os resultados do ENEM são catastróficos. Houve uma queda de 7,3 no desempenho médio em matemática. Na redação foi pior ainda: 9,7. Vamos caminhando para o fundo do poço”.

E é importante assinalar que português e matemática são duas disciplinas essenciais do conhecimento: a primeira é indispensável para a área de Ciências Humanas e a segunda, para a área de Ciências Naturais.

Mas Niskier prossegue: “Dos 5,9 milhões de candidatos, 529 mil tiraram nota zero na redação sobre publicidade infantil. Ou seja: são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares. O que esperar dessa geração?” Resposta: Nada! Absolutamente nada de bom!

O autor menciona “os males do analfabetismo funcional”. Mas quais são eles? O indivíduo sabe ler as palavras de um texto simples – digamos: uma reportagem de jornal sobre a seca em São Paulo – mas não consegue entender o que leu.

Eu sou capaz de ler um texto em finlandês e/ou em turco. Mas se me perguntarem o que entendi do que li, eu responderei imediatamente: “Bulufas, neca de pitibiriba”.

Simples assim: tanto uma língua como a outra são escritas em alfabeto romano e eu sei ler palavras escritas nesse alfabeto.

Assim são os analfabetos funcionais brasileiros que elegeram seu semelhante com 1.400.000 votos para deputado federal por S. Paulo.

Justifica-se, desse modo, o velho provérbio inglês: Birds of a feather will gather together.

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Mario Guerreiro

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

6 comentários em “ENEM que a vaca tussa!

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    28/01/2015 em 5:06 pm
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    Acredito que esta frase é de Monteiro Lobato: “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê. E eu complemento … e tira nota zero na prova de redação do ENEM.

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    28/01/2015 em 4:04 pm
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    Privatização de escolas não seria um modelo que poderia ser experimentado? Projetos em que a empresa seria premiada no cumprimento de metas ou na melhora de índices?

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    23/01/2015 em 10:48 pm
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    Infelizmente, os políticos brasileiros não têm consciência educacional, senão Dilma Rousseff não cortaria sete bilhões de reais da educação, como medida de contenção de investimento em seu projeto do segundo governo, o que constitui uma vergonha.

    A educação que deveria ser tratada como medida prioritária de qualquer nação comprometida com o seu desenvolvimento, aqui é recebida de forma política e não como projeto de governo. E os exemplos estão aí: cotas raciais para ingresso nas universidades e serviços públicos federais, quando se deveria dar atenção fundamental na formação de uma escola pública de alta qualidade, visando a nivelar em capacidade, brancos, negros, índios etc., para, em igualdade de condições, disputarem o mercado de trabalho.

    O que se pode esperar de um país em que a Constituição Federal permite que um semianalfabeto tenha acesso à Presidência da República, bem como seja eleito parlamentar sem ao menos possuir formação completa do segundo grau? E são esses botocudos que vão fazer as leis do país.

    Se a educação brasileira fosse considerada como prioridade governamental, a qualidade profissional docente e discente refletiria no resultado positivo desta nação. Infelizmente, o país não trata a educação com a primazia devida, mas de forma política.
    Veja o caso do profissional da educação, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ministro da Educação no início do governo Lula, que foi grosseiramente defenestrado do ministério por telefone quando estava de férias em Portugal.
    As pessoas competentes e técnicas não são alocadas nos postos devidos. O MEC, no período petista, já foi conduzido pelos políticos Tarso Genro, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e agora por Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, que teve muita dificuldade de explicar a nota zero tira na redação por mais de 500 mil candidatos do Enem. Uma área que era para ser regida por especialista competente é relegada a políticos partidários.
    O MEC deveria ser um órgão apolítico, com autonomia própria e independente. O seu ministro deveria ser indicado pelo corpo docente brasileiro e referendado pelo Congresso Nacional para atuar por um período, por exemplo, quinquenal. Enquanto a educação for conduzida por viés político, a qualidade o ensino brasileiro continuará claudicante.

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    23/01/2015 em 4:55 pm
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    Excelente artigo ! O Mário sabe dispor das palavras como poucos , seus artigos refletem sua inteligência aguçada e crítica que ele mistura com um humor fino e agradável! Sou sua fã!

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    23/01/2015 em 12:10 pm
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    Caro Mario,
    seu texto é excelente mas deixa de lado um informação crítica: os mais de 500 mil que tiraram nota zero em suas redações o fizeram sob um regime de correção vagabundo que não corrige nada, funciona mais como uma loteria.
    Ora, é de conhecimento comum para quem acompanha e sabe ler que o MEC, O INEP, e os subordinados que corrigem as provas, o fazem com critério altamente subjetivo. Os responsáveis já deixaram claro um sem número de vezes que não corrigem erros de português, concordância ou pontuação, tudo que eles corrigem é se a redação está dentro do tema ou não. Existem redações com erros crassos de lógica e ortografia agraciadas com pontuação máxima. A redação é mero crivo ideológico, como a prova de português, geografia e história.
    Há 12 anos a meritocracia foi eleita inimiga número 1 pelo governo que adentrava e este é só mais um capítulo nesta história. É preciso desmistificar os vestibulares, não havia nada de tão errado com eles que justificasse seu fim desta maneira, e o tornou-se ENEM apenas um outro vestibular, muito mais mal feito, muito mais massacrante, sem direito a recursos contra toda sorte de erros desde sua confecção, passando pela aplicação até a correção.
    Eu posso garantir que a maioria dos alunos que fizesse uma prova de vestibular da UFRJ da década de 90 não conseguiria passar de média 5,0 nas provas e com certeza teria nota zero nas redações, e posso tranquilamente estender para os corretores das provas de ENEM.

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    23/01/2015 em 9:06 am
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    Eu já atestei isso há mais tempo. Enquanto empresário, já percebi que não há como contratar quem nasceu a partir de 1990. E quanto mais novo, pior. A molecada hoje em dia não tem iniciativa, não tem força de vontade, não tem visão de futuro, querem tudo na mão. Não conseguem associar idéias, assumir responsabilidades, não tem visão de futuro, enfim, são tudo um bando de “água de salsicha”, não servem pra nada.
    E ainda faço um mea culpa. Eu sou da década de 80, minha família me deu condição de estudar, e eu vejo que os mais velhos que eu, que tiveram que trabalhar desde pequenos, são muito mais eficientes.
    Não sei que pensador disse que a pessoa devia viver até certa idade totalmente livre, para ter o gosto da liberdade e lutar por ela acima de tudo. Eu empiricamente discordo. Acho que quando em formação, devemos ter disciplina para não sermos adultos frustrados que não conseguem focar para ser e ter o que desejamos.

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