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Embusteiros enganam público de língua espanhola sobre eleições no Brasil

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Passei algumas das horas vagas nos últimos dias assistindo a repercussões da eleição brasileira nos veículos da imprensa de língua espanhola – tanto na América Hispânica, particularmente Argentina e Chile, quanto na própria Espanha. Observei que, se temos jornalistas ponderados e honestos por aquelas bandas, por outro lado proliferam sensivelmente os engodos e as distorções.

Os aspectos originais do chamado “fenômeno Bolsonaro” constituem o tema que mais tem chamado a atenção dos veículos de mídia desses países, interessados em lideranças locais que já vêm declarando apoio ao praticamente certo futuro presidente do Brasil e na possibilidade de que ele inicie uma “onda” capaz de impactar a América Latina como um todo. O interesse parece tê-los levado a absorver tudo que a grande imprensa brasileira e as agências internacionais lhes oferecem.

As antigas declarações desagradáveis e questionáveis de Bolsonaro já foram inteiramente decoradas por alguns jornalistas e comentaristas. Muitos deles estão escandalizados com a capacidade do povo brasileiro de eleger um “fascista” ou “ultradireitista” capaz de proferir as maiores barbaridades – como nunca devem ter ficado escandalizados com a eleição de uma terrorista comunista, tampouco com as inúmeras figuras deploráveis que governam ou governaram seus respectivos países. Nenhum deles aparentemente parece saber que José Dirceu falou em “tomar o poder”; quase ninguém fala na proposta de reforma constitucional desfraldada pela plataforma de Haddad no primeiro turno.

Embora não seja de um país da América, escolhi como exemplo um programa espanhol, que acredito sintetizar bem a média do que se pode observar na televisão dos nossos vizinhos. Transmitido na HispanTV, o programa, intitulado “Foro Abierto”, tem a qualidade de reunir duas bancadas, cada uma apresentando um ponto de vista sobre o assunto em pauta. Normalmente não é assim, e quando não é assim, em geral o foco é mesmo se escandalizar com o perigo do presidenciável do PSL. Justamente por isso escolhi esse programa: ele dá também um bom espaço ao lado mais sensato, ao mesmo tempo em que ao mais sórdido.

De um lado, João Compasso, diretor da Revista Bossa, e o jornalista Joanen Cunyat. Do outro, o sociólogo Eduardo Castillo e o jornalista Manuel Llamas. O primeiro time atuou, sem exageros, como advogado do lulopetismo. Bolsonaro é um monstro feio e apocalíptico; já o PT, uma vítima injustiçada do golpista Michel Temer. Exatamente nesse nível.

Cunyat foi o mais patético. Com tom de quem está maravilhosamente bem informado, ele disparou logo de início que não ter ganho em primeiro turno foi alguma espécie de derrota preocupante para Bolsonaro, por conta de sua alta rejeição – como se não tivesse milhões de votos à frente do PT em todas as pesquisas.

Em sua fala seguinte, ele disse que Bolsonaro defendeu “os golpes de Estado, o estupro, a xenofobia e o racismo” e fugiu dos debates com outros candidatos, algo que é típico de um “presidente antidemocrático”. O mesmo ele poderia dizer, naturalmente, de Fernando Henrique Cardoso e Lula, que igualmente faltaram a debates em segundo turno, sendo que nenhum dos dois sofreu qualquer facada.

Este senhor acrescentou que Bolsonaro é “a política de Temer multiplicada por dois” e que Temer faz “o governo mais corrupto da história do Brasil”. Sim, é isso mesmo. O governo Temer é o governo mais corrupto da história do Brasil! É isso que estão dizendo ao público de língua espanhola. Esse é o nível de canalhice. A cereja do bolo: a única plataforma de Bolsonaro é “acabar com o PT”! Que violência horrorosa, não é mesmo?

Llamas teve a rara bravura e sensatez de responder: “Creio que o PT acabou com o PT. O PT está vivendo um autêntico desastre devido a seus próprios erros. É preciso distinguir o que é um partido político do que é um partido personalista. PT era Lula e Lula era PT. Dilma era sucessora dele, mas controlada por ele, e Haddad é exatamente igual. O problema é que no momento em que Lula cai em desgraça por seus próprios erros, por ser um corrupto, um corrupto condenado, por ter levado o país a uma das maiores crises das últimas décadas, o PT começa a se decompor. Quando comete a grave irresponsabilidade de tentar deslegitimar o sistema democrático do Brasil, falando de golpe de Estado quando se aplica um impeachment perfeitamente legal e legítimo em um país republicano, quando começa a apoiar, quando dá uma guinada à esquerda e começa a exaltar modelos absolutamente fracassados como a Venezuela, isso gera um tremendo mal-estar na sociedade brasileira”.

Bravo, Llamas! Infelizmente, raros são os jornalistas que estão levando a verdade a esse público. Teremos muito trabalho para levar esclarecimentos. A maioria parece estar na turma de Cunyat, que não cessou de trazer suas asneiras com ar de absoluta sapiência. Ele teve a ousadia de dizer que Bolsonaro é o “candidato da oligarquia” e que “todos os canais de televisão e grandes grupos midiáticos estão fazendo campanha permanente e ativa por Bolsonaro”. Às vezes precisamos repetir para nos convencermos de que não estamos ouvindo coisas: ele disse “todos os canais de televisão e grandes grupos midiáticos”! Que adjetivos merece tamanho falsário?

Não podia faltar, é claro, o enaltecimento ao governo Lula e aos milhares que tirou da pobreza, caindo todos em desgraça por conta do governo golpista e corrupto de Temer. Eis o que tratam por jornalista por aí afora: um falastrão irresponsável que não deixa nada a dever aos maiores mentecaptos da imprensa brasileira, mas está espalhando sórdidas mentiras sobre outro país, o que torna as coisas ainda piores.

A construção de canais de contato com liberais e conservadores de outros países, particularmente os vizinhos de língua hispânica, é um caminho importante para ajudarmos a oferecer ao público internacional um pouco de realidade e coerência. Claro, porém, que a melhor maneira de os contrabalançar será com atos, e para tanto o governo Bolsonaro precisará ser cobrado.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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