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Sobre Fatos e falácias da economia de Thomas Sowell

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A diferença entre um fato e uma falácia reside na capacidade de evidenciar a concretude dos acontecimentos. Vivemos em um tempo cuja expressão fake news se tornou tão corriqueira e demasiadamente utilizada para, muitas vezes, simplesmente julgar uma opinião contrária, sem que haja a devida avaliação sobre a realidade factual de determinados assuntos. À medida em que as redes sociais se fizeram presentes no dia a dia de bilhões de pessoas, e estas se tornaram produtoras de conteúdos digitais e emissoras de opinião, tornou-se um desafio entender o que, de fato, condiz com a veracidade ou não passa de uma falácia.

O autor Thomas Sowell aborda esse assunto à luz da perspectiva econômica em seu livro “Fatos e falácias da economia”, com o objetivo de sujeitar crenças econômicas ao teste dos fatos concretos, pois basear-se nelas para criar diretrizes pode ter impactos devastadores. A diferença entre políticas econômicas saudáveis e falaciosas realizadas por um governo poderá afetar o padrão de vida de milhões de pessoas. É isso que torna o estudo da economia importante – e a exposição de falácias, mais do que um exercício intelectual.

Sowell discorre sobre diversos aspectos da Economia, a começar pelas questões urbanas. Destaca que a maioria das cidades ao longo da história foi construída proximamente a hidrovias navegáveis, como rios, lagos ou o mar, havendo algumas exceções em tempos modernos, como é o caso de Los Angeles, que se tornou relevante com a invenção do automóvel.

Na maioria das cidades, durante muitos séculos, havia uma necessidade de se concentrar a população em pequenas áreas, visto que as pessoas, majoritariamente, se deslocavam a pé. Cidades modernas nos últimos séculos passaram por transformações com as inserções de ônibus, metrôs e carros. Desse modo, o que gerava uma compactação de pessoas em poucos lugares, passou a permitir uma maior dispersão de indivíduos, principalmente pela redução nos custos de transporte.

Uma das falácias urbanas consiste em que cidades densamente povoadas sejam um sinal de “excesso de população”, quando de fato é comum, em alguns países, que mais da metade de seu povo viva num punhado de cidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, menos de 5% da área são urbanizadas, e apenas as florestas, sozinhas, cobrem uma extensão de terra seis vezes maior do que a de todas as grandes e pequenas cidades do país reunidas.

Ainda em relação ao adensamento da população, quando observamos favelas em países como o Brasil, o que muitos dizem é que o excesso de população é a causa da pobreza, quando, na verdade, a pobreza é a causa da concentração de pessoas que não conseguem arcar com os custos do transporte ou de um espaço maior para viver e, sobretudo, não estão dispostas a renunciar aos benefícios de viver na cidade.

Nesse aspecto, é comum ouvir a maior falácia econômica em relação à moradia: a de que habitação com preço acessível requer intervenção governamental no mercado, quer seja com subsídios, controle de aluguel ou quaisquer outros mecanismos que interfiram diretamente no preço de casas e apartamentos.

Ocorre que ao longo de milhares de anos e em países no mundo todo, as cidades têm se caracterizado pela concentração não apenas de pessoas, mas, também, de empreendimentos industriais, comerciais, culturais e artísticos. Assim, foram estes empreendimentos que atraíram as pessoas para as cidades.

Sob a prerrogativa de planejar as cidades, muitas vezes os governos retiram habitantes de locais como as citadas favelas, ou até mesmo demolem bairros inteiros com a perspectiva de criar um ambiente ordenado e planejado. Ainda que haja o pagamento dos imóveis expropriados aos seus antigos proprietários, as relações ora existentes, os negócios criados, as bases de clientes construídas e os aspectos culturais são simplesmente excluídos. Sem contar que, sob a ótica de reduzir a criminalidade nesses locais, a realocação dos indivíduos com hábitos criminosos apenas transferirá os crimes de ambiente, não havendo qualquer evidência de redução, segundo Thomas Sowell, com base nas análises desse tipo de ação realizada anteriormente.

Outro assunto abordado trata dos fatos e dasfalácias masculinos e femininos. Uma análise mais detalhada dos fatos sugere que os padrões femininos de casamento e concepção de filhos têm muito mais impacto nas diferenças de ocupações profissionais do que uma dita discriminação para com as mulheres no mercado de trabalho. Ademais, várias pesquisas mostram que mulheres têm muito menos tendência do que homens a escolher ocupações que exijam uma carga horária muito longa, o que acaba interferindo na projeção do que poderiam alcançar no mercado de trabalho em suas carreiras. Soma-se a isso a descontinuidade em alguns momentos das mulheres do mercado de trabalho por questões pessoais, tais como quando o marido recebe uma oportunidade profissional em outra cidade e a mulher acaba deixando seu atual emprego para investir na família, priorizando a carreira do marido em detrimento da sua.

O autor comenta sobre como há falácias também no que tange às universidades e aos docentes. Há dois principais aspectos que cabem ser abordados. O primeiro está relacionado à qualidade das instituições. Os rankings criados para mensurar o nível de cada instituição baseiam-se na quantidade de pesquisas, mestres, doutores e PhDs, por exemplo. Todavia, a presença desses itens em uma universidade não garante que os alunos estejam sendo bem formados, visto que boa parte dos professores estão preocupados com as próprias carreiras e no seu crescimento profissional, baseado nos incentivos que as instituições oferecem. Quando passam a focar em pesquisa, delegam a formação dos graduandos para os também jovens alunos pós-graduandos ainda em formação. Desse modo, uma das maiores falácias sobre instituições acadêmicas consiste na crença fundamental de que frequentar faculdades e universidades famosas é praticamente fundamental para, posteriormente, chegar ao topo.

O segundo aspecto se refere aos custos gerados por entidades de classe que se prestam a fiscalizar e regulamentar o que cada instituição de ensino pode ou deve fazer. Um exemplo disso foi inserido no livro para mostrar como uma universidade com cursos de direito com baixas anuidades (em função da capacidade de manter uma estrutura enxuta de custos), se viu obrigada a construir um prédio de 40 milhões de dólares para cumprir com as exigências da American Bar Association (uma espécie de Ordem dos Advogados). Se antes a universidade conseguia ser viável com uma anuidade de 6.700 dólares, teve que aumentar para 16.738 dólares para quem era residente no estado do Colorado, e para 30.814 dólares para quem fosse de outros estados. Com o intuito de “melhorar a educação”, o efeito conseguido foi o de privar diversos alunos que antes tinham condições de acessar aquela instituição – que também tinha ótimos resultados acadêmicos.

Sowell ainda descreve como assuntos relacionados à renda sofrem distorções e são influenciados por vieses de análises mal-intencionadas. Se em algum momento dizem que a renda média das famílias reduziu ao longo do tempo, deixam de considerar que a renda média per capita aumentou, possibilitando aos indivíduos morarem em lares separados para criarem novos núcleos familiares, eventualmente com menos integrantes do que no passado.

Existem, segundo o autor, elementos fundamentais da maioria das críticas sobre distribuição de renda. Em primeiro lugar, existe a suposição implícita de que a riqueza é coletiva e que, portanto, deve ser igualmente distribuída; depois, a de que atualmente esta divisão não se deve a qualquer princípio, mas “simplesmente acontece”; e, finalmente, a de que o esforço feito pelo recebedor da renda é um critério válido para medir tanto o valor do que foi produzido quanto a adequação da remuneração.

“Na realidade, a maior parte da renda não é distribuída, então a metáfora elegante da “distribuição de renda” é enganosa. A maior parte da renda é proveniente da produção de bens e serviços, e quanto essa produção “realmente” vale é uma questão que não precisa ser determinada por terceiros, uma vez que aqueles que recebem diretamente seus benefícios sabem melhor do que qualquer pessoa qual é o seu valor – e têm os maiores incentivos para buscar maneiras alternativas de obtê-la da maneira mais barata possível.”

Quando o autor discorre sobre aspectos raciais, ressalta que as diferenças são a regra, logo, eventuais narrativas sobre a necessidade de implementar medidas de igualdade não fazem muito sentido por uma perspectiva histórica, visto que as diferenças de culturas, regiões e desenvolvimentos de comunidades em diferentes lugares do mundo impactam diretamente nos índices comparativos sobre diversos grupos étnicos.

Isolar qualquer grupo específico para estabelecer uma comparação com a média nacional, por exemplo, pode sugerir de forma enganosa que a situação do grupo em questão é peculiar, em vez de ser parte de um padrão mundial de amplas variações de um grupo para outro. Isso não quer dizer que as diferenças entre grupos não tenham importância. Sowell argumenta que “talvez a maior falácia sobre a história de minorias raciais e étnicas seja que a passagem do tempo reduz a hostilidade e a discriminação que esses grupos enfrentam. Em muitos países, as minorias enfrentaram mais hostilidade e discriminação num período mais recente do que em épocas anteriores. Em outros países aconteceu o contrário”.

Um fato relevante, e que não é muito abordado atualmente, é que durante muitos séculos existiu escravidão e que, pela primeira vez na história ocidental, o status do escravo coincidia com uma diferença de raça. Uma das várias falácias sobre escravidão – a de que sua prática se baseava em raça – é sustentada pela simples, porém difundida, prática de abordar a escravização de africanos por europeus, como se fosse algo singular, em vez de parte de uma tragédia humana mundial maior. O racismo teve sua origem na escravidão africana, principalmente nos Estados Unidos, mas a escravidão surgiu milhares de anos antes do racismo. Europeus já haviam escravizado outros europeus durante vários séculos antes de o primeiro africano ser trazido como escravo para o hemisfério ocidental.

Por fim, Thomas Sowell traz à luz as falácias do Terceiro Mundo. Acredita-se que existam grandes separações entre países desenvolvidos e outros em desenvolvimento, ou que a exploração de uns em detrimento de outros possa ter gerado um impacto nos níveis de prosperidade de diferentes países. Ocorre que questões relacionadas à geografia, tais como a configuração e a fertilidade da terra, o clima, os recursos naturais, as hidrovias, a flora e a fauna, limitam ou aprimoram as perspectivas de desenvolvimento econômico, apesar de raramente um único fator determinar o ritmo ou a magnitude do desenvolvimento. Somam-se a diferenças quanto à demografia, história, cultura, motivos pelos quais diferentes regiões do globo possam ter níveis de prosperidade diferentes.

Não há qualquer razão para que se espere que indivíduos, nações e povos sejam iguais ou minimamente tenham condições de se equipararem, visto que a diferença é a regra. O que Sowell se presta a fazer em suas obras é traduzir,de forma simples e direta, estudos, estatísticas e fatos de modo a jogar por terra inúmeras falácias enraizadas em nossa sociedade, sendo, portanto, um papel fundamental na construção de conhecimento embasado em fatos e dados, e não apenas em narrativas falaciosas.

Bruno Rigamonti Gomes – Associado II do Instituto Líderes do Amanhã. 

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