Só confie no mercado
No entanto, por mais sedutor que seja atribuir ao Estado o dever de promover igualdade de oportunidades, isso não é possível na prática. O objetivo desta constatação, naturalmente, não é que o pobre se lasque; também não desconsidera as dificuldades da vida de quem não teve oportunidades. Em verdade, trata-se de aceitar a realidade e lidar com ela: o Estado não é capaz de, artificialmente, corrigir desequilíbrios.
Essa impossibilidade de corrigir desequilíbrios de forma artificial, ou seja, com um ato de intervenção que altere a ordem natural, pode ser visualizada de várias óticas. Vamos a uma delas: a falta de interesse de agir. Por exemplo, você concorda em que, para que haja investimento público em educação, é preciso contar com a boa-vontade do governo para isso? É preciso que alguém, uma pessoa física como nós, munida da função pública, decida destinar recursos à educação. E o que essa pessoa ganha com isso? Qual é o interesse envolvido? Nenhum, pois há pouco mecanismo de incentivo no poder público. Tudo bem, eu sei que políticos têm interesse eleitoreiro. Mas muito do que é feito pelo governo não está nas mãos dos políticos, mas sim de servidores, que não recebem nenhum centavo a mais por fazer um bom trabalho. Como não há qualquer incentivo para que haja desenvolvimento, é preciso confiar com a boa-vontade das pessoas. Você confia? Eu não.
Por isso, confie no mercado. O mercado tem interesse em prosperar e gerar melhoras reais na vida das pessoas. Sempre haverá alguém interessado em prestar um serviço de qualidade, se o resultado daquela prestação de serviço for o lucro. Parece cruel e mesquinho: “você quer vincular tudo ao dinheiro?”. A resposta é sim, pois no dinheiro eu confio. Sei que haverá alguém interessado em fazer aquilo bem-feito, já que, fazendo bem-feito, será devidamente remunerada para isso. E quanto melhor fizer, melhor remunerada será. Só confie no mercado.
*Artigo publicado originalmente no site do Instituto Líderes do Amanhã por Anna Luiza Guerzet.