Rio de Janeiro: um estado que não quer se ajudar?

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As últimas notícias indicam que realmente o Rio de Janeiro, chafurdando no abismo da crise mais devastadora em muito tempo, permanece submerso no autoengano, ao menos sob o ponto de vista de seus representantes políticos. A pergunta que nos assola é se vivemos em um estado que não quer se ajudar.

Em primeiro lugar, sendo carioca, já deixei claro noutras oportunidades que não considero meu estado a escória da humanidade e enxergo dramas muito significativos em diversos outros recantos deste Brasil varonil. É fato que tudo aqui é superlativo e que os principais vícios da brasilidade se arregimentam em síntese dramática por estas plagas, mas, por exemplo, há estados em que legendas completamente vermelhas disputam o segundo turno, enquanto o Rio tem pelo menos sido regido pelo fisiologismo emedebista.

Os radicais do PSOL encontram no estado, preparado para isso como laboratório do brizolismo e de todo tipo de esquerdismo esclerosado por muitos anos, uma particular acolhida, mas até o momento não conseguiram efetivamente conquistar o Poder Executivo e transcender a “beautiful people” que lhes serve de reduto eleitoral. O Rio serve também de vitrine para insanidades como a petista Marcia Tiburi, mas igualmente com chances de alcançar o governo distantes do realismo.

Mesmo assim, a nota triste é que o emedebismo fluminense tem sido suficientemente corrupto, falsário e demagógico para provocar um grande estrago nas contas públicas digno do poder de destruição de socialistas de fé. O prejuízo vexatório causado pela era Cabral, que se traduz nos diversos processos contra o ex-governador e na particular lentidão do estado em recuperar os números do desemprego, é uma tragédia de que demoraremos muito para sair de vez.

Demoraremos ainda mais se aqueles a quem compete tomar as decisões mais impactantes nesse sentido não souberem dar de si mesmos o exemplo necessário. Mais que isso, não souberem ou não quiserem fazer contas. O assunto nem é o debate entre os candidatos ao governo do estado em que o pedetista Pedro Fernandes assombrou com sua afirmação de que o Rio tem dinheiro sobrando. Não; estamos falando daqueles que já exercem seus mandatos e exibem todas as provas do motivo por que não deveriam ser reconduzidos.

A começar pela Assembleia Legislativa, que derrubou um veto do governador Pezão a um aumento de 5% no salário dos funcionários públicos do Judiciário, do Ministério Público estadual e da Defensoria Pública. A medida desafia o compromisso do Rio com o regime de Recuperação Fiscal, que envolvia medidas como a privatização da Cedae e o corte de custos.

Os profissionais contemplados com esse aumento não sofreram atrasos de salários, como tantos de outras categorias e departamentos. Segundo a Folha, os servidores do Judiciário chegaram a ganhar um auxílio natalino de R$ 2000 em 2017 enquanto as folhas de pagamento dos demais funcionários públicos fluminenses permaneciam em stand by.

A magistratura em si não recebe o reajuste, mas não há dúvida de que estará esperando uma oportunidade depois que, nacionalmente, o STF ofereceu pornográfica inspiração ao aumentar sem qualquer motivo plausível o já elevadíssimo salário. Tudo isso está acontecendo quando a dívida acumulada no fim do primeiro quadrimestre deste ano no Rio já alcança a marca de R$ 14,9 bilhões.

Essa vitória da pressão das corporações não traz nada de bom ao caldo já entornado, mas o governador Pezão não pode se considerar um santo nessa história. Não apenas por ter sido parte do desastre. Também porque o governo não tem condições de proclamar que está fazendo de tudo para resolver o quadro, enquanto as forças malignas dos grupelhos de pressão o atrapalham.

Ao mesmo tempo em que Pezão reclama da decisão da Alerj, o gasto com cargos comissionados no governo do estado, em 2018, foi elevado em quase R$ 20 milhões. O governo disse ao jornal Extra que o número de comissionados não tem peso significativo sobre a folha de pagamento geral. Não é o detalhe que se deveria enfatizar. O que Pezão deve saber é que a administração precisa dar de si a demonstração de suas intenções. Todos querem sacrifícios; ninguém quer fazê-los. Assim não haverá saída.

O cenário eleitoral pode ser preocupante e nebuloso, mas urge que os cidadãos conscientes do nosso estado estejam preparados para uma mobilização constante, durante e depois do voto. As forças internas à máquina pública se cobram mutuamente pela obtenção de vantagens, a paralisia permanece e populistas de todos os tipos vendem delírios nos debates. O Rio de Janeiro na verdade só pode contar conosco. Não esperemos a sensatez desses homens públicos indignos.

Nós somos o Rio e precisamos nos ajudar. O caminho para isso é não deixar em paz e não cerrar os olhos aos malfeitos de quem nos ofende a decência com presentes generosos às corporações e apaniguados, bem como substituindo-os por nomes que digam as duras verdades que precisamos ouvir e estejam dispostos a pô-las em prática.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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