O bitcoin e o futuro do dinheiro

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A Escola Austríaca de Economia surgiu no final do século XIX, tendo como principais fundadores Carl Menger, Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Esta corrente de pensamento econômico se destaca por defender a liberdade individual, o livre mercado, a propriedade privada e a não intervenção do Estado na economia.

Os economistas austríacos acreditam que a organização espontânea do mercado, por meio do mecanismo de preços, é mais eficaz do que a intervenção estatal na economia. Por isso, defendem uma abordagem laissez-faire, em que  o governo deve se abster de interferir nas transações comerciais.

Os economistas austríacos consideram que os acordos contratuais voluntários são a base para uma economia saudável, onde os indivíduos têm liberdade para negociar e estabelecer relações comerciais sem imposições coercitivas. Eles defendem o free banking, um sistema bancário não regulamentado, em que  os bancos podem emitir moeda privada.

Em seu livro A Desestatização do Dinheiro, Hayek aborda os problemas relacionados à moeda fiduciária, ou seja, aquela que não possui lastro em um valor tangível, como o ouro. Ele discute questões como a inflação, a manipulação governamental da moeda e a falta de estabilidade do sistema monetário baseado em moeda fiduciária. O fato interessante é que Hayek escreveu esse livro antes da existência do Bitcoin, uma criptomoeda descentralizada que surge como uma alternativa à moeda fiduciária.

Recentemente, houve um debate sobre se o Bitcoin poderia ser considerado uma ferramenta eficaz na defesa da liberdade. Naquela época, a criptomoeda ainda não era muito popular, não tinha um valor de mercado significativo e não era amplamente aceita globalmente. A ideia de usar o Bitcoin para realizar transações financeiras fora da vista dos governos parecia mais uma fantasia para entusiastas da tecnologia do que uma opção viável na época.

Atualmente, o Bitcoin não é apenas uma moeda digital amplamente utilizada em todo o mundo, mas também se tornou uma fonte de esperança econômica para pessoas que vivem em países com governos autoritários ou em colapso. Isso inclui jornalistas na Rússia, cidadãos venezuelanos, chineses que buscam uma alternativa ao yuan digital limitado pelo governo e professores no Afeganistão.

Para muitos usuários, o Bitcoin representa uma oportunidade de fazer transações financeiras em uma rede descentralizada, autônoma e imune à censura. O valor da liberdade é tão forte que muitos indivíduos veem com bons olhos a possibilidade de realizar operações no mercado sem a necessidade de permissão ou controle rigoroso por parte do Estado.

Em primeiro lugar, é importante refletir sobre as questões relacionadas à moeda fiduciária, que é o dinheiro cujo valor é respaldado pela confiança das pessoas nele. Um dos principais problemas da moeda fiduciária é a centralização, o que significa que sua emissão e controle estão nas mãos de poucos, como o governo. Isso pode levar a riscos de fraude, corrupção e má gestão. Outro problema é a possibilidade de emissão infinita de dinheiro por parte do governo, o que pode ocasionar a depreciação da moeda e, consequentemente, o aumento dos preços dos bens e serviços. Vale ressaltar que isso é um problema recorrente da moeda estatal, independentemente do governo que esteja no poder.

O sistema monetário também enfrenta desafios no processamento de grandes quantidades de informações, o que pode resultar em erros e falhas no controle e gerenciamento do dinheiro. Além disso, a confiança nos bancos é um aspecto crucial, pois a corrupção por parte dos funcionários pode levar à má gestão dos dados e ao processamento incorreto das informações, prejudicando as pessoas que têm seu dinheiro depositado nessas instituições. O controle e o confisco de poupanças, como ocorreu no Brasil durante o governo Collor, também representam problemas relacionados à moeda fiduciária.

O Plano Collor foi um conjunto de medidas econômicas implementadas durante o governo de Fernando Collor de Mello para combater a hiperinflação que assolava a economia brasileira no início dos anos 90. Uma das principais ações desse Plano foi o confisco da poupança, que gerou bastante descontentamento e desconfiança por parte da população.

A ideia por trás desse confisco era reter os recursos dos poupadores por um determinado período de tempo, prometendo devolvê-los corrigidos com juros após 18 meses. No entanto, não é nenhuma surpresa que essa promessa não tenha sido cumprida, o que levou muitas pessoas a recorrerem à justiça para tentar reaver o dinheiro que havia sido confiscado.

O Plano Collor foi criticado por gerar incertezas e impactos negativos na economia, principalmente no que diz respeito a destruição da vida privada desses poupadores brasileiros, além de ter causado um abalo na confiança da população em relação ao governo e às políticas econômicas adotadas na época.

Em 2008, Satoshi Nakamoto compartilhou on-line em um fórum um documento descrevendo um projeto de dinheiro Peer to Peer, chamado Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System. Nesse documento, ele propôs a criação de uma moeda digital que não dependesse de intermediários, como bancos ou terceiros, mas sim da tecnologia de mineração, que é um processo descentralizado.

As transações realizadas com Bitcoins são protegidas por criptografias no sistema Peer to Peer, garantindo a segurança e a privacidade dos usuários. A principal ideia por trás do Bitcoin é possibilitar que qualquer pessoa possa realizar transações financeiras de forma direta, sem depender de instituições financeiras tradicionais. Isso permite que as pessoas enviem Bitcoins para qualquer lugar do mundo, eliminando barreiras geográficas e burocracias.

Em suma, o fato de haver uma quantidade limitada de bitcoins em circulação (21 milhões) é uma vantagem significativa da criptomoeda, visto que isso tende a garantir sua valorização no longo prazo e evita a perda de poder de compra devido à inflação. Além disso, o Bitcoin proporciona inclusão financeira para aqueles que não possuem acesso a serviços bancários tradicionais, como conta corrente, uma vez que qualquer pessoa com acesso à internet e um celular pode realizar transações e fazer parte do sistema financeiro da moeda digital.

Dessa forma, o Bitcoin é visto como uma forma de combater a pobreza, oferecendo oportunidades de participação no mercado financeiro global para aqueles que tradicionalmente são excluídos dele.

*Deborah Palma é mentora financeira, autora do e-Book Riqueza 31, associada do IFL Brasil, Diretora de Formação do IFL Salvador e escritora de artigos publicados no Instituto Millenium, IFL Brasil, Instituto Liberal e Boletim da Liberdade.

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