Mais um efeito nefasto da greve dos caminhoneiros

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Além de ter provocado grave retrocesso com o acordo que admitiu tabelamentos e reduções dos preços do diesel, estabeleceu tarifas mínimas de frete, interferiu na cobrança de pedágios e garantiu preferências espúrias nas contratações de fretes pelo governo, esta greve dos caminhoneiros pode ter ocasionado mais um prejuízo incalculável.

Pouca gente sabe, mas a Petrobras está atualmente em processo de venda de participações em quatro de suas refinarias.

Serão duas operações diferentes, uma envolvendo ativos na região Nordeste e oura na região Sul. A Petrobras vai criar duas subsidiárias, cada uma com dias refinarias, e colocar à venda 60% de cada uma.

A subsidiária nordestina terá as refinarias Landulpho Alves, na Bahia, e Abreu e Lima, em Pernambuco, além de cinco terminais de movimentação de petróleo e derivados e 770 quilômetros de oleodutos. A subsidiária garante ao comprado mercado potencial de combustíveis nas regiões Nordeste e Norte.

Essa nova empresa terá 19% da capacidade de refino do país. Se decidir concluir as obras da refinaria Abreu e Lima, dobrando sua capacidade para 230 mil barris por dia, ampliará sua fatia de mercado para 24%.

A subsidiária da região Sul reúne as refinarias Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, e Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, além de sete terminais e 736 quilômetros de oleodutos. É responsável por 17% da capacidade nacional de refino.

Em conjunto, como se vê, essas quatro refinarias representam quase 40% da capacidade atual de refino do país. Caso as vendas sejam efetivadas, estamos falando da quebra real e efetiva do atual monopólio do refino de combustíveis no país, sonho da maioria dos liberais e conservadores de Pindorama.

Com a greve dos caminhoneiros, que infelizmente contou com o apoio de parte da direita tupiniquim, iludida com reivindicações oportunistas de cortes de impostos, os quais, depois do acordo divulgado, demonstraram-se apenas chamarizes para adoçar o paladar do povão, todo o processo ficou comprometido e corre o risco de “micar”.

Como chamou a atenção o excelente Felippe Hermes, do site Spotniks, com o absurdo acordo, o governo conseguiu aumentar mais um pouco a insegurança jurídica vigente no mercado de derivados. Tal fato pode, senão afastar da licitação potenciais compradores, no mínimo tornar menos lucrativa a venda, já que ninguém quer ter uma refinaria onde o mercado é refém de preços de venda manipulados e/ou ditados pelo governo.

Além disso, o atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, que vem fazendo um excelente trabalho na recuperação da companhia, está sendo fritado de todos os lados, e não é improvável que caia logo. A uma greve dos petroleiros, cuja principal reivindicação é a sua demissão, juntou-se, semana passada, uma denúncia aparentemente irresponsável da revista eletrônica Crusoé, que publicou uma matéria envolvendo o nome do presidente da Petrobrás. Segundo a notícia, o banco presidido por um sócio de Parente recebeu 2 bilhões de reais da Petrobrás. Que banco é esse? Ninguém menos que o poderoso J.P Morgan.

Não sou advogado de defesa de Parente, mas bastaria o repórter ter feito uma pequena pesquisa na internet para constatar que, talvez, aquela acusação seja, no mínimo, precipitada e, no máximo irresponsável. Isso porque, como já foi noticiado, inclusive pela imprensa tupiniquim, apenas em 2018, a estatal já antecipou o pagamento ou o resgate de US$ 15 bilhões em dívida e títulos com bancos e instituições financeiras, entre eles o J. P. Morgan.

As operações fazem parte de um planejamento financeiro para tentar reduzir o endividamento da companhia, usando recursos obtidos com a venda de ativos.  O esforço já permitiu à empresa reduzir a concentração de vencimentos entre 2018 e 2019, vencimentos estes que chegaram a gerar boatos, em 2015, sobre necessidade de aporte federal para evitar calotes.

Em resumo, o J. P. Morgan recebeu antecipações de pagamento, assim como várias outras instituições credoras da Petrobras. Ademais, quem conhece ou pouquinho do mercado financeiro sabe que, para os bancos, não é bom negócio receber antecipações de pagamentos, principalmente de bons pagadores, pois isso representa menos juros e, conseqüentemente, menos lucros.

A eventual queda de Pedro Parente seria, sem dúvida, uma derrota para os acionistas da petroleira, e uma grande vitória de todos aqueles que só pensam em manter a Petrobras monopolista e estatal. Vitória esta obtida com a ajuda de parte da nossa direita, que prefere acreditar em mitos e ídolos, em vez de pensar pela própria cabeça. Parabéns a todos os envolvidos.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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