Breve reflexão sobre as manifestações no Brasil
Em 2013, aconteceram manifestações que se generalizaram pelo país, com uma balbúrdia de reivindicações, um caos, sem nenhuma definição organizada de pautas que tivessem viabilidade institucional e que pudessem materializar algum objetivo concreto. O desfecho foi violência, com a destruição e até o derramamento de sangue provocados pelos “black blocks”.
Em 2015 e 2016, foram organizadas manifestações gigantescas que tinham por propósito claro pressionar o Poder Legislativo, ao qual essa tarefa competia institucionalmente, pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Muito se dizia que isso não adiantaria nada, “o Congresso está vendido e comprado”, “nunca vai dar em nada”, “não tem solução”, alguns já pediam ação das Forças Armadas para aplicar um golpe e depor o PT. O objetivo foi pacificamente alcançado: o impeachment aconteceu. A receita: ampla participação da sociedade, pressão monumental. O Legislativo se viu instado a responder.
2022 e 2023. Manifestações são feitas em frente a quartéis-generais pelo país. Os sentimentos de indignação que as impulsionam são justos: a ascensão à Presidência de alguém que sequer deveria ser candidato e os excessos autoritários do STF e do TSE. No entanto, não há direcionamento para nenhuma pauta concreta que tenha conclusões institucionais viáveis. Muitos só vão para desabafar o inconformismo.
A única pauta recorrente que aparece é um apelo por uma intervenção militar inconstitucional para depor o STF e o governo Lula. A minoria que, em 2015 e 2016, falava em solução militar tornou-se a maioria nestas manifestações, que, é óbvio, são muito reduzidas comparativamente àquelas. Não resultaram em absolutamente nada a não ser os desdobramentos violentos e trágicos para a reputação da direita brasileira efetivados ontem em Brasília, aproveitados pelo autoritarismo judiciário e até pelo governo para aumentar seus poderes e prejudicar nossas liberdades.
A receita é clara: o modelo deve ser 2015 e 2016, pressionando o Legislativo a agir, não 2022 e 2023. O modelo deve ser o que funciona e funcionou.
Com respeito a todas as frustrações e indignações populares, não há como travar um combate dessa monta sem inteligência – e essa inteligência está escassa.
Tudo que se conseguiu foi uma repercussão internacional extremamente desfavorável e
criar terreno para que Alexandre de Moraes
cometesse o ato antidemocrático de afastar
sozinho o governador eleito do Distrito Federal e ordenar a dispersão à força das manifestações e que Lula decretasse, por uma confusão controlada em horas, uma intervenção federal na segurança pública da capital do país, como se lá houvesse qualquer problema sistêmico similar ao que motivou a intervenção no Rio de Janeiro.