Ainda é possível recuperar o controle da inflação?
Soube que José Márcio Camargo sugeriu um aumento de no mínimo 3% na meta para a Selic. Se foi isso mesmo, ele está certo por pedir o choque e por usar o prestígio dele na academia e no mercado para dizer que o rei está nu.
O choque de oferta da pandemia e crise hídrica joga a inflação para cima, a política fiscal joga a inflação para cima e a política monetária, com juros abaixo da taxa neutra, joga a inflação para cima. Alguém tem que colocar alguma pressão para baixo e essa é a tarefa do Banco Central.
A aposta em que a crise por si mesma vai parar a inflação está dando errado mês após mês. Não faltam argumentos empíricos e teóricos para explicar os erros dos modelos econométricos e dos modelos do lado da demanda em um contexto de incerteza, mudança de regime e choque de oferta.
Enquanto o Banco Central se recusa a reconhecer o que está óbvio faz tempo e segue em um dos maiores casos de, para usar a palavra da moda, negacionismo inflacionário da história recente, a população segue vendo seu poder de compra derreter. Basta!
O tempo para recuperar o controle da inflação é curto e o custo da perda desse controle é alto. É preciso entender o que deu errado, entender por que não viram uma inflação de mais de 10% chegando, ter humildade para reconhecer os erros e agir rápido.