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“Ecologia liberal”: um trabalho necessário

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Embora disponível apenas em formato eletrônico, o trabalho do biólogo Dr. Marcos Araújo, Ecologia liberal: uma poderosa doutrina de gestão ambiental no Brasil é uma contribuição muito necessária ao debate brasileiro. O livro é resultado de uma profunda investigação sobre os últimos 240 anos de história da gestão do meio ambiente no mundo e no país.

O autor empreende uma síntese das construções teóricas e ações que moldaram essa área de atuação, demonstrando, ao contrário das narrativas dos radicais ambientalistas, por vezes associados às teses de esquerda, que o Brasil, por exemplo, sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo, apresenta uma área antropizada de apenas 35,8% de sua superfície, com cerca de 58,5% do território coberto por florestas.

Entretanto, ele atesta que o cientificismo e a mentalidade anticapitalista influenciaram significativamente a nossa gestão ambiental, pautando-se nos discursos de cientistas que se apresentam como “defensores de causa”, emitindo opiniões como se fossem verdades científicas absolutas, assentadas no paradigma – segundo ele, já superado – do “equilíbrio ecológico”. Sua meta é oferecer uma alternativa, que ele chama de “ecologia liberal”, um “conjunto de preceitos que devem ser postos em prática para implementarmos uma gestão ambiental democrática, eficiente, eficaz e efetiva”, procurando superar as abordagens radicalizadas em vigência no país, prontas a dizer que o mundo desaparecerá mediante cada mínimo movimento da espécie humana.

A primeira parte do livro oferece uma riquíssima explanação do liberalismo, com um primeiro capítulo constituindo uma introdução ao pensamento liberal e o segundo ao seu histórico no Brasil, bem como ao histórico do pensamento autoritário que se lhe opõe. Autores como Antonio Paim, Ricardo Vélez Rodríguez e mesmo este que vos escreve são referenciados nesta parte, que vincula indiscutivelmente a ousada abordagem do Dr. Marcos ao paradigma liberal.

A segunda parte “busca levantar os diversos subsídios que permitem compreender a evolução da gestão ambiental brasileira”, mapeando influências em seis capítulos, entre elas o já referido paradigma do equilíbrio ecológico e as organizações internacionais.

A terceira parte “aborda o passado, o presente e o futuro da gestão ambiental no Brasil”, estruturando a sua evolução desde 1780 até 2022, o poderio da mentalidade antiliberal e da retórica apocalíptica entre nossos compatriotas, a história da ocupação amazônica, o papel dos cientistas e, por fim, a doutrina da ecologia liberal.

Recomendando a leitura, limito-me a partir de agora a reproduzir o prefácio que muito honrosamente fui convidado a redigir para este livro, sobre assunto que não é do meu mais profundo domínio, o que não me impede de apreciar o singular esforço do autor:

“O liberalismo é uma corrente de pensamento que pretende influenciar o rumo dos acontecimentos. Desde sua fundação, em 1983, sob a liderança do empresário Donald Stewart Jr., o Instituto Liberal sempre entendeu dessa maneira. Sua vocação sempre foi intelectual, tendo por referência iniciativas similares, estimuladas por nomes como o icônico economista da Escola Austríaca Friedrich Hayek (1899-1992), com o propósito de articular a difusão e a defesa de ideias para que tenham consequências práticas.

Para alcançar esse objetivo, porém, é preciso abraçar uma das estratégias mais típicas da instituição que ora presido em toda a sua história: a pluralidade. Por si só, o liberalismo é uma tradição plural. Seu desenvolvimento histórico comporta escolas e tendências internas diversificadas, com entendimentos distintos acerca das aplicações de determinados princípios liberais, ainda que seu núcleo comum possa ser reconhecido pelo observador atento e cuidadoso. Não se pode agir vislumbrando a hipótese de que uma dessas vertentes atue de forma absolutamente hegemônica, aniquilando as demais. Faz-se necessário contemplar todas elas, facultando o debate e a discussão saudável, e essa tem sido a tônica do Instituto Liberal em seus quase 40 anos de existência.

Mais do que isso, porém, é preciso também fazer com que essas ideias possam ser comunicadas em diferentes meios, sobretudo aqueles em que se faz mais urgente apresentá-las. O liberalismo deve ser devidamente exposto na academia, no mercado editorial, entre os mais jovens e os de idade mais avançada. Devemos ser capazes de explicitar as vantagens que as soluções liberais podem trazer aos diversos campos da atividade humana. Estando seu autor inscrito nessa percepção, este livro é um exemplo excepcional de esforço nesse sentido.

Na maioria das vezes, o catastrofismo associado à militância ambientalista é explorado por narrativas que interessam às agendas intervencionistas do que usualmente chamamos de “esquerdas”. Seus opositores, entretanto, apostando em reducionismos estúpidos, slogans vazios e retóricas obscurantistas, cedem munição gratuitamente, abdicando de tomar parte em debates importantes ao sistematicamente menosprezá-los. No caso da arena do meio ambiente, o biólogo, mestre e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais Marcos Antônio Reis de Araújo fez sua parte com a elaboração desta obra para retificar essa abordagem desastrosa.

O resultado do esforço do autor é nada menos que impressionante. O volume de informações e o peso da sustentação bibliográfica que ele logrou êxito em reunir, qualidades que devem ter demandado um nível extraordinário de dedicação, tornam este trabalho um título de referência, que o Instituto Liberal tem orgulho de referendar.

Ecologia liberal – Uma poderosa doutrina para a gestão ambiental no Brasil é um livro audacioso. O adjetivo se aplica porque sua pretensão é formular toda uma doutrina, designada “ecologia liberal”, para lidar com o problema no Brasil. Ao mesmo tempo, porém, essa doutrina contém, como elemento intrínseco, a modéstia de admitir que não dispõe de todas as respostas. Em diversos momentos, o autor se lança ao propósito de demolir falsas certezas, a fim de que uma construção estratégica mais sólida e realista, bem como mais simplificada, possa ser realizada.

A partir de uma discussão metodologicamente rica sobre a filosofia da Ciência e a teoria dos paradigmas científicos, valendo-se de autores consagrados nessas temáticas, como Thomas Kuhn (1922-1996), o doutor Marcos se insere honrosamente na longa tradição liberal brasileira da crítica consciente ao problema do cientificismo, na qual constam nomes de enorme relevância, em especial o já saudoso mestre Antonio Paim (1927-2021). Sem jamais lançar-se a um excesso anticientífico, como se tem lamentavelmente visto nos últimos tempos, ele fomenta uma reflexão sincera e abrangente sobre o entrelaçamento entre os cientistas e as distorções promovidas por ideologias e interesses, particularmente pela mentalidade anticapitalista, fazendo com que bravatas perniciosamente panfletárias sejam apresentadas como axiomas científicos.

O principal diagnóstico do autor é que um paradigma já superado no entendimento da questão ecológica, o do “equilíbrio ecológico” – uma falsa percepção de estabilidade do mundo natural, em que o ser humano seria um elemento estranho e perversor -, permanece a orientar muitas de nossas análises, pregações e políticas públicas. A esse problema, ele soma a influência de organizações internacionais, traçando um vasto histórico do ambientalismo e da ecologia no Brasil e no mundo a fim de chegar às suas conclusões com o máximo possível de embasamento no manancial acumulado de experiência e saber. Em virtude dessa confluência de desvios, emergiriam problemas como o excesso de regulamentos – que, como bem diziam personagens como José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838, cujas preocupações ambientais registramos e o livro também ressalta), mais contribuem para sua ineficiência e abandono que para o atingimento dos propósitos almejados.

Tendo a intenção de criticar a influência predominante do estatismo e do autoritarismo sobre o setor ambiental no Brasil e apresentar uma doutrina especificamente para esse setor que se embasasse no liberalismo, seria de se esperar que o autor relacionasse uma síntese teórica e histórica do pensamento liberal. Também faria bem em apresentar um breve histórico da tradição autoritária e antiliberal responsável por moldar os obstáculos culturais e práticos que deseja combater; afinal, expor seus contrários é algo que enriquece a explanação sobre qualquer teoria. O que não se poderia esperar seria o nível de profundidade com que ele efetivamente realizou as duas tarefas.

Esta obra, para os liberais, é uma iniciativa necessária, operada com extrema competência e abrangência, de propor aplicações do liberalismo a um campo temático em que nosso movimento liberal ainda é muito ausente. Para os profissionais de sua própria área, o autor oferece, além disso, uma autêntica apresentação ao liberalismo, sobre a qual sequer se pode dizer que é subsidiária, tamanho o destaque que recebeu, apoiando-se em grandes nomes que vão do já mencionado professor Paim ao famoso austríaco Ludwig von Mises (1881-1973).

Só posso agradecer ao doutor Marcos, em meu nome e em nome do Instituto Liberal, pela oportunidade de divulgar e prefaciar este livro, que presta serviço importantíssimo à sociedade brasileira, e sobre cujo autor jamais se poderá dizer que é um reles aventureiro.”

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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