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Dívida bruta e comparações internacionais no mundo pós-Covid

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A crise do coronavírus, em 2020, agravou os problemas brasileiros, pois entramos numa nova recessão sem nos termos recuperado totalmente das perdas da recessão anterior (2014-16). Recuando um pouco mais, o Brasil passou por duas “décadas perdidas” nos últimos 40 anos. O resultado disso foi um crescimento médio do PIB per capita inferior a 1% desde 1980. Um dos graves problemas brasileiros, que tem impactos no crescimento e na geração de empregos, é a situação fiscal, que já estava delicada antes da Covid e piorou bastante com a crise deste ano.

Após 16 anos de superávit primário (1998-2013), a partir de 2014 o país passou a apresentar déficit primário. Com isso, a dívida bruta (em proporção do PIB) subiu fortemente. A média da dívida (conceito BCB) entre 2006 e 2013 foi de 54% do PIB e, a partir de 2014, a dívida cresceu até chegar próximo dos 75% no final de 2018, com um leve recuo em 2019. Pelo conceito do FMI, a dívida bruta média (2006-13) foi de 63% do PIB e aumentou para próximo de 90% no final do ano passado. Para este ano, não tinha outro jeito que não o aumento do gasto, com grandes déficits e aumento da dívida, no Brasil e no mundo.

Vale frisar que existe uma diferença de metodologia entre a dívida bruta (% PIB) divulgada pelo Banco Central e a divulgada pelo FMI. Basicamente a dívida bruta do conceito do FMI é a dívida bruta (conceito BCB) mais os títulos emitidos pela STN que estão na carteira do Banco Central e os débitos de responsabilidade das empresas estatais dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal, excluindo a Petrobras e Eletrobras). Entre 2006 e 2019, a média da diferença foi de 8,9 p.p.. No ano passado, a diferença foi de 13,7 p.p., já que a DBGG foi de 75,8% do PIB para o BCB e 89,5% para o FMI. Neste artigo, como o objetivo é fazer comparações internacionais,[1] baseado nas projeções de outubro de 2020 do FMI, o conceito do Fundo Monetário Internacional será utilizado.

O Gráfico 1 mostra a dívida bruta (% PIB) do Brasil no conceito do FMI, em 2013, antes da forte evolução da dívida e no ano passado, quase 30 p.p. mais alta.[2] Esse foi um dos principais aspectos da deterioração fiscal do Brasil nos últimos anos. Em 2020, segundo as projeções do FMI, a dívida vai passar dos 100% do PIB, permanecendo próximoa deste nível (104%) na média 2021-25[3].

Já o Gráfico 2 mostra a proporção de países com dívida bruta maior do que o Brasil (conceito FMI), em 2013, antes do grande aumento da dívida, e em 2019, com a dívida próxima dos 90% do PIB. Essa mudança de 25%[4] para 13%[5] em poucos anos também é uma outra forma de observar a deterioração fiscal nos últimos anos no Brasil, numa análise comparativa internacional.[6] Em 2020, segundo as projeções do FMI, 15%[7] dos países devem apresentar uma dívida maior do que a brasileira – e isso num ano em que praticamente todos os países do mundo apresentaram um aumento da dívida, em função da crise do coronavírus. Na média 2021-25, somente 12%[8] dos países do mundo devem ter uma dívida bruta média superior à brasileira. Ou seja, pelos próximos anos o Brasil deve continuar com uma dívida alta e entre as maiores do mundo.

Dentre os países mais endividados, há economias avançadas, como EUA, Reino Unido, Japão, entre outros. Porém, países avançados são “menos arriscados” do que emergentes, com mais condições de honrar o pagamento das suas dívidas. Ao se olhar somente para as economias emergentes, o Brasil continua sendo um dos países mais endividados. Em 2013, antes do forte aumento da dívida brasileira, 19%[9] dos países emergentes eram mais endividados do que o Brasil, taxa que passou para 9%[10] no ano passado.[11] Segundo as projeções do FMI, o Brasil só estará atrás de 11%[12] de economias emergentes neste ano, e 8%[13] na média 2021-25 (Gráfico 3).

O aumento da dívida bruta brasileira deve ser próximo de 12 p.p. neste ano em comparação com o ano passado, segundo as projeções do FMI. A dívida em 2025 deve ser quase 15 p.p. acima do nível de 2019 (Gráfico 4). Nesse caso, 31%[14] dos países do mundo devem ter um aumento da dívida maior do que o Brasil na comparação 2020 / 2019 e 26%[15] quando se comparam as projeções de 2025 com a dívida do ano passado (Gráfico 5).

Em resumo, este artigo mostrou alguns dados e projeções do FMI sobre a crítica situação fiscal do Brasil, que já estava com uma dívida alta antes de 2020 e, com a crise do coronavírus, o panorama ficou mais grave ainda. O mundo pós-Covid será de países mais endividados e o Brasil entre os países com as maiores dívidas.

[1] Ver também “Dívida bruta e comparações internacionais”, publicado em 08/01/19 no Blog do IBRE.

[2] A dívida bruta, no conceito do BCB, aumentou de 51,5% do PIB em 2013 para 76,5% do PIB em 2018, e diminuiu um pouco em 2019 (75,8%).

[3] O FMI divulgou projeções até 2025.

[4] 48 países, numa amostra de 189.

[5] 24 países, em 189.

[6] Ao se considerar a dívida bruta pelo conceito do BCB para o Brasil, e do FMI para os demais países,  33% (63, numa amostra de 189) dos países tinham uma dívida maior do que a brasileira em 2013 e 22% (41 países, em 189) em 2019.

[7] 28 países, em 188.

[8] 23 países, numa amostra de 186.

[9] 28, numa amostra de 151 países.

[10] 14 em 151.

[11] Ao se considerar a dívida bruta pelo conceito do BCB para o Brasil, e do FMI para os demais países emergentes,  26% (40, numa amostra de 151) dos países tinham uma dívida maior do que a brasileira em 2013 e 19% (28 países, em 151) em 2019.

[12] 16 em 150.

[13] 12 países, na amostra de 148.

[14] 58 países, em 188.

[15] 49 países, numa amostra de 191.

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Marcel Balassiano

Marcel Balassiano

É mestre em Economia Empresarial e Finanças (EPGE/FGV), mestre em Administração (EBAPE/FGV) e bacharel em Economia (EPGE/FGV).

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