RODRIGO CONSTANTINO *
O economista Marcelo Miterhof, que trabalha no BNDES e escreve na Folha, já foi chamado por mim de “Paul Krugman tupiniquim“, pois suas propostas são muito semelhantes. Em sua coluna de hoje, ele volta a destilar sua visão esquerdista que faz jus ao apelido que dei. Marcelo diz:
O problema é que, apesar de boas sacadas quanto ao poder da competição e da busca do lucro, não é assim que o capitalismo funciona melhor.
Por exemplo, grandes empresas são mais eficientes. O poder de mercado torna mais fácil acumular recursos para inovar. Como dizia Schumpeter, um carro pode correr porque tem freios.
O Estado também tem papel central na economia. Os gastos públicos estabilizam o capitalismo, criando uma demanda que impulsiona o investimento e, as sim, a produtividade. Além disso, para a esquerda, distribuir renda não é somente um valor moral, mas também uma forma de acelerar o crescimento: pobres consomem mais os ganhos adicionais que obtém.
A principal diferença entre direita e esquerda está na ênfase que cada uma respectivamente dá à competição e à cooperação.
Essas são formas de interação em alguma medida sempre presentes nas relações humanas. Exagerar na ênfase numa ou outra direção cria problemas. Sem cooperação, a força inovadora do capitalismo é desagregadora, como ocorreu até a crise de 29. Sem competição, o comunismo foi pouco dinâmico e repressor.
O Estado de bem-estar social foi uma inovação pública que consolidou a força do capitalismo ao torná-lo mais equilibrado, mas exageros cooperativos também ocorrem. Por exemplo, há casos de seguro-desemprego na Europa em que é demasiadamente pequena a diferença entre trabalhar ou não.
Vamos por partes. Quem disse a ele que empresas maiores são mais eficientes e inovadoras? Será que ele não sabe que Microsoft, Dell, Apple e tantas outras gigantes nasceram minúsculas, em garagens?
Gastos públicos como estabilizadores do capitalismo? Sério mesmo? Quase todos os países enfrentam graves problemas por conta dos excessos de gastos públicos, que acabam desestabilizando suas economias. Essa idéia repetitiva de que os gastos públicos criam demanda é uma falácia já refutada por Bastiat em 1850! Para gastar, o governo precisa, antes, tirar de alguém!
Sobre pobres consumirem mais que ricos e impulsionarem as economias, temos outra grande falácia: o crescimento sustentável necessita de investimentos produtivos, não de mais consumo apenas. Esquerdistas acham que o rabo balança o cachorro, que mais consumo é que gera mais produção, e não o contrário. Ao tirar dos mais ricos e distribuir aos mais pobres, o crescimento se dá apenas no primeiro momento, sacrificando o futuro do país.
Quanto à cooperação e à competição, temos aqui uma falsa dicotomia. Quem disse a ele que os mercados livres não contam com enorme grau de cooperação? O capitalismo é feito disso! A competição faz parte, e é fundamental para as inovações, o progresso, os melhores produtos e serviços. Mas o livre mercado é cooperação do começo ao fim! Basta entrar em um supermercado e ver a quantidade de produtos à venda. Cooperação absoluta para nos atender bem!
O que Marcelo quer dizer é “intervencionismo” versus “liberdade”, mas nesses termos fica mais feia sua mensagem. Ele acredita na imposição de cima para baixo, pelo governo e seus tecnocratas. Cooperação compulsória é contradição em termos.
Coloca a “terceira via”, o estado de bem-estar social, como essa grande solução intermediária é agir de má-fé, pois a história nos mostrou que esse modelo gerou ineficiência, engessou a economia, prejudicou inclusive os mais pobres. Ao menos o economista reconhece que em certos locais não trabalhar ou trabalhar passou a significar o mesmo ganho financeiro!
A tentativa de monopolizar os fins nobres, típica da esquerda, vem à tona no desfecho do artigo:
Por fim, uma boa questão levantada pelo liberal-conservadorismo é se haveria uma contradição entre o intervencionismo econômico e as liberdades individuais.
Não creio. Defender o Estado de bem-estar social é de meu interesse individual. Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, e, sim, porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico e porque uma sociedade mais equilibrada é boa para mim. Afinal, viver em meio a uma grande pobreza me põe sob risco.
Ora bolas, eu também não quero viver em meio a tanta pobreza! E justamente por isso defendo o capitalismo liberal, sem tanta intervenção como a defendida pelo economista do BNDES, pois esse intervencionismo, na prática (e não nos sonhos dele), produz apenas mais miséria.
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL