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De Maria do Rosário a FHC, um bizarro apreço pelo banditismo

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MARIA DO ROSÁRIOAo contrário de alguns indignados que, com toda razão, se revoltam, mas acreditam que o remédio para os problemas da humanidade esteja na erradicação imediata de todos os tipos de esquerda no campo político-ideológico – discurso que facilmente descamba para um totalitarismo de viés oposto -, sempre manifestei posição mais comedida. Mesmo em países mais civilizados que o Brasil, a esquerda não desapareceu completamente; acredito que, em um sistema de democracia representativa, é preciso saber conviver com as diferentes correntes que existem na sociedade, e com isso não estou atribuindo nenhum valor moral intrínseco às ideologias sociais democratas ou socialistas. Acredito apenas que precisamos robustecer nossos argumentos e vencê-los através da negociação e do convencimento público, e que, como disse o imortal Edmund Burke, “quem luta contra nós reforça-nos os nervos e aperfeiçoa-nos a habilidade. O nosso adversário outra coisa não faz senão ajudar-nos”. É válido o contraditório. No entanto, embora reconhecendo isso e admitindo que há esquerdas mais moderadas e compatíveis com o rito democrático que outras, alguns problemas muito irritantes parecem figurar em todos os seus matizes.

Um desses aspectos irritantes é o apreço que nutrem pelo banditismo. Em defesa de todos os tipos de imoralidades e ameaças à integridade física ou patrimonial alheia, tratadas como “potências revolucionárias” – como muito bem ilustrou o acadêmico de engenharia e técnico químico Marcos Henrique Martins Campos em artigo para o nosso Instituto Liberal – ou como “detalhes” menores, erguem-se vozes que vão do socialismo mais obtuso para a social democracia mais esclarecida. Foi o que provaram esta semana a petista Maria do Rosário, intransigente defensora de assassinos e canalhas travestida de “lutadora dos direitos humanos”, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um social democrata de ideias mais arejadas, mas de pusilanimidade conivente e proteção imperdoável aos adversários eleitorais do partido criminoso que nos governa.

Comecemos pelo segundo. FHC, em entrevista para a Folha de São Paulo, ainda na contramão do que articularam parlamentares de oposição, inclusive de seu próprio partido (o PSDB), insiste em alegar que eles não conseguiram ainda produzir uma “narrativa convincente” para alcançar o impeachment de Dilma. Paciência zero para essa cegueira incorrigível, própria dos covardes que se recusam a assumir o seu papel na história. Mas o que nos importa foi a seguinte declaração: “o PT é um partido importante, é um partido necessário, que canaliza setores da sociedade que precisam ser canalizados. (…) Eu sou um democrata, não tenho essa visão de que o PT deve ser destruído. Pela lei, tudo que foi feito pelo PT (no esquema de corrupção da Petrobras) era motivo de cassação da legenda. Agora, eu seria contrário”. Em outras condições, eu poderia concordar com a posição de Fernando Henrique. Realmente, se um partido RESPEITA AS LEIS e representa uma camada da sociedade, por mais odiosas que sejam as suas opiniões para mim, não parece correto simplesmente abolí-lo. Seria uma atitude autoritária e “anti-natural”, sobretudo para alguém como eu que, com um temperamento burkeano e hayekiano, dá valor à “ordem espontânea” e não se afiniza com imposições esquemáticas artificiais. No entanto, ele mesmo apresenta a sua contradição ao final de sua fala. Segundo ele, a lei determinaria o fim do registro do PT. O partido, enquanto tal, se teria beneficiado diretamente do estado inadmissível de coisas nas estatais, e por isso, deveria, em condições normais de temperatura e pressão, ser extinto. No entanto, diz FHC que, ainda assim, mesmo admitindo isso, ele “seria contrário”. Ou seja, o que ele está dizendo, na prática, é que o PT pode descumprir a lei impunemente, que, por “representar um segmento da sociedade”, ele deve sair ileso. Não que nos surpreenda, vindo do mesmo homem que disse, há pouco tempo, que uma eventual prisão de Lula deveria ser cercada de cuidados, porque ele seria um “líder popular” a ser simbolicamente resguardado. FHC apanha, apanha e apanha do PT, mas ainda os protege, mesmo quando amplamente descobertos em seus malfeitos.

O caso de Maria do Rosário, como quase tudo que a envolve, é ainda mais repulsivo. Como noticiado anteriormente, o líder do MST, João Pedro Stédile, cujo exército havia sido convocado pelo “líder simbólico” Lula, foi hostilizado verbalmente em Fortaleza, quando chegava ao aeroporto. Foi chamado de “fascista”, “vagabundo”, “comunista” e “traidor da pátria” – nenhum adjetivo que ele não merecesse, goste-se ou não do método dos manifestantes. Em sessão no Plenário, apiedando-se dele, a deputada petista disse que “não podemos ceder à intolerância” e “não podemos permitir que nenhuma liderança dos movimentos populares, dos movimentos sociais, assim como nenhum brasileiro ou brasileira, por suas ideias, seja atacado onde quer que seja. Por isso, pela liberdade de expressão, pelos direitos humanos, pela afirmação da liberdade de organização, eu quero repudiar veementemente os ataques que foram sofridos por João Pedro Stédile. (…) João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tem o pleno apoio da bancada do PT. Nós sabemos a importância do MST para a democracia e para a luta do povo”.

O líder de um movimento terrorista, que não respeita um dos direitos mais básicos – o de propriedade -, que invade e rouba o patrimônio alheio, que submete uma cidade inteira a um regime de estrangulamento de suas possibilidades produtivas e econômicas – como mostra o caso de Quedas do Iguaçu, onde a empresa Araupel vê sua propriedade reduzida a cada dia e áreas de preservação ambiental destruídas -, que dá todo suporte a um governo criminoso e corrupto e mantém relações confessadas com regimes fascistóides de toda a América Latina – tais como o cubano e o venezuelano -, é tudo, menos um brasileiro “atacado por suas ideias” e cuja luta é importante “para a democracia e para a luta do povo”. Stédile, como seus “companheiros” e “comandados”, é um bandido, porque o MST é banditismo puro. Nenhum amante legítimo dos direitos individuais e da civilização confere qualquer respeito a esses bárbaros.

Todo respeito a divergências de qualquer sorte, desde que respeitem e se submetam ao jogo legal e democrático. Passem disso, e deverão sofrer as consequências – ou assim deveria pensar qualquer cidadão de bem.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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