Dando boot

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bootpor MARIANO ANDRADE

Burocracia paralisante, impostos acintosos, cidades atoladas em problemas de trânsito, violência assustadora – tudo levando a uma economia em crise e a uma crescente desesperança. O Brasil tem funcionado como um computador claudicante, lento e pouco confiável – um computador que precisa de um “boot”.

Os boots não só são importantes, mas também possíveis e a História mostra que as sociedades e economias dão saltos quânticos após boots oportunos e certeiros.

Os Estados Unidos deram um boot na economia com o Plano Reagan, que reduziu impostos e estimulou o mercado de capitais como meio de desintermediação bancária. Esse arcabouço rendeu algumas décadas de extraordinários resultados econômicos, além de uma redução perene no custo de capital das empresas.

O Reino Unido bootou as relações trabalhistas quando Margaret Thatcher peitou a greve dos mineiros, saiu vencedora e desmantelou o paternalismo sindical. Conseguiu criar a base para uma economia com alocação eficiente de recursos produtivos.

O Brasil também teve boots importantes. Collor flexibilizou o comércio internacional, o que possibilitou aos brasileiros comprar carros melhores que carroças. Collor também fechou estatais paquidérmicas e inúteis e plantou as sementes para as privatizações que se intensificaram nos governos seguintes. Empresas cronicamente deficitárias, como Vale, Embraer e tantas outras tornaram-se lucrativas e eficientes em poucos anos de gestão privada. O Plano Real foi mais que um boot, foi um upgrade de equipamento, através do qual reduziu-se o enorme imposto inflacionário.

Mas paramos no tempo. Demos “tela azul” e estamos rodando em “safe mode”. Precisamos de novos boots e upgrades. Precisamos “resetar” o Brasil em várias esferas. Precisamos “deletar” várias práticas corrosivas já estabelecidas aqui.

É necessário bootar o conceito de reforma fiscal – a fórmula de Malan, Palocci e (ao que parece) Levy não funciona. Aumentar impostos sem reduzir gastos é cortina de fumaça. Reforma de verdade é cortar gastos e cortar impostos, desasfixiando a economia e tornando a atividade produtiva mais atraente do que se encostar em programas de transferência de renda.

Temos que deletar regras idióticas que incentivam o não-crescimento, tais como a descontinuidade do regime tributário quando as empresas saem do simples, a tributação de livros escolares, dentre tantos outros lixos no hard disk brasileiro. O que falar de 39 ministérios? Vários deveriam ser arrastados para a latinha e não fariam falta alguma.

É premente passar um anti-vírus na burocracia que atrapalha a vida cotidiana do cidadão e reduz a produtividade da economia. É preciso mudar a opção default para a presunção da honestidade e correção. É fundamental fazer da Lei um software que proteja os cidadãos de bem e não os menores assassinos.

Há que se bootar a oposição, dando-lhe mais velocidade e mais megabites para quebrar o tabu da “palavra com i”. Sim, o impeachment já é cabível. Estando provado que a maior empresa do país foi usada como conta corrente de um partido político com a anuência da então presidente do conselho e hoje presidente da república, o que mais é necessário?

Alguns boots são fundamentais, mas utópicos no curto prazo. Teríamos que re-startar a Suprema Corte e , de quebra, a maior parte de um poder judiciário paternalista, ineficiente e viciado. Seria auspicioso passar um “cleaner” no funcionalismo público, eliminando a ineficiência e a fisiologia. A lista seria muito longa para caber aqui. No entanto, certos líderes conseguem transpor a barreira do utópico e, com a coragem que separa estadistas de coadjuvantes, fazer mudanças impensáveis. Reagan demitiu maçiçamente os controladores de vôo americanos quando estes entraram em greve, colocou os militares para evitar interrupções, e fortaleceu a confiança da população num dos serviços essenciais que cabe ao estado – a segurança.

No nosso caso, o governo tem pouco incentivo para dar o boot, seja qual for o partido. Décadas a fio de parasitas se acoplando ao estado nos levaram ao quadro atual – uma máquina pública auto serviente, e inchada de forma exponencial pelos últimos governos. Portanto, cabe amplamente à sociedade civil liderar o processo de redesenho econômico e social do país – reclamar seus direitos, exigir que o estado cumpra com suas obrigações, exercer escrutínio incômodo e constante.

A população produtiva do Brasil tem condições para isso. Ainda temos imprensa livre e acesso fácil à internet. Na era da informação, vimos mudanças profundas na maneira como as sociedades podem se organizar em torno de uma meta. Vimos a queda de alguns ditadores nascer online. Será que não conseguimos nos organizar para cobrar do nosso estado aquilo que é sua obrigação constitucional? Saúde, segurança e educação. Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido.

Temos que dar um basta e um boot nisso tudo. Temos que voltar às ruas todo fim de semana, temos que bater panela todo dia, temos que exigir dos parlamentares de oposição mais coragem e mais resultados, temos que fazer passar vergonha aqueles que não têm vergonha na cara. Se formos esperar até 2018, quem sabe nem uma formatação resolva, vamos virar sucata. Melhor não arriscar.

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