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Considerações sobre o “Encontro com Presidenciáveis” no Fórum da Liberdade 2018

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Ainda não foi um debate dos presidenciáveis, mas o encontro promovido no início da semana, pelo Fórum da Liberdade, já deu o tom do que esperar de alguns pré-candidatos. O evento acontece anualmente em Porto Alegre (RS), desde 1988, é promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e, em 2013, foi reconhecido pela Revista Forbes como o maior espaço de debate político, econômico e social da América Latina. É voltado para um público mais simpático ao liberalismo, mas em ano eleitoral, costuma abrir espaço para pré-candidatos de outras vertentes ideológicas. Foram convidados para o painel “Encontro com Presidenciáveis”, realizado na segunda-feira (09/02), os presidenciáveis: João Amoedo (NOVO),Henrique Meirelles (MDB), Flávio Rocha (PRB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL), que se apresentaram nesta ordem:

João Amoedo (Novo): tem o perfil de executivo de empresa. Goste ou não goste de suas ideias, Amoedo foi bem claro, e é o único que dá para saber exatamente o que esperar. Usou seu tempo para apresentar objetivamente seu diagnóstico, propostas, metas e direcionamentos para o país. Sem apelar para o populismo, não contou histórias pessoais emocionantes ou atacou outros candidatos. Mesmo tendo lutado contra um grave linfoma e vencido no ano de 2010, não se utilizou de vitimismo e focou apenas no que pode contribuir para o país. Sua plataforma inclui privatizações, enxugamento da máquina, cortes de privilégios, reduções de impostos e desburocratização. Mas se sobrou clareza de ideias e propostas, faltou na sua oratória aquela pitada de Ciro Gomes. Ao ficar preso ao texto e aos slides da apresentação, perdeu a oportunidade de mostrar sua personalidade e de se conectar mais com o público. Ainda assim, foi o único presidenciável aplaudido de pé.

Henrique Meirelles (MDB): pode até saber fazer, mas não empolga ninguém. Discurso morno, sem grandes momentos, mas também sem grandes gafes. Não apresentou propostas, apenas falou sobre sua experiência como ministro da Fazenda e apresentou alguns resultados. Sua competência e resultados são bem conhecidos no mercado, mas seu perfil está muito mais para o Ministério do que para a Presidência. Se mostra adepto de alguma reforma, mas nada muito radical, que o afaste do centro. Se ganhar a eleição, é provável que as pessoas prefiram voltar a discutir futebol. Seu lema: Make politics boring again.

Flávio Rocha (PRB): discurso de empreendedor que já foi atrapalhado pelo agigantamento do Estado. O dono da Riachuelo aprendeu a falar como político – afinal, já foi deputado federal no passado. Consegue construir narrativas usando as emoções para legitimar conclusões racionais: o governo atrapalha a geração de riquezas. Dá sinais de que irá atacar a questão do custo Brasil e ao mesmo tempo combater o “marxismo cultural”, mas não deixa claro como. O que deixou claro é que seu foco de campanha será a guerra cultural, pois aposta na ideia de que o Brasil tem um povo majoritariamente conservador e quer se apresentar ao brasileiro como a alternativa conservadora antagonista da esquerda, mas distante do reacionário. Não chegou a apresentar propostas concretas, mas destacou o programa pro-sertão, do qual sua empresa faz parte. Mais combativo que Amoedo e mais propositivo que Bolsonaro, quer roubar eleitores dos dois concorrentes.

Ciro Gomes (PDT): De acordo com uma famosa pesquisa sobre eficiência da comunicação, 7% dela é atribuída ao componente verbal (o que você diz), 38% ao componente vocal (tom e impostação da voz) e 55% à linguagem corporal. Ou seja, a forma importa muito mais que o conteúdo, e Ciro Gomes é uma prova viva disso. Ótima oratória e excelente retórica, iniciou seu discurso amaciando a plateia “hostil” com um discurso de paz e integração, para em seguida defender a China como o modelo ideal de estado. Surpreendentemente, o coronel do Ceará conseguiu aplausos defendendo ideias que desde sempre fracassaram e alimentam a corrupção endêmica no Brasil: “um estado empoderado, sadio, controlado socialmente e um empresariado convergente com a estratégia concessada (sic) ou pelo menos hegemonizada”. Fala bonito, erra grosseiro e derrama dados e números numa velocidade que nosso cérebro não consegue processar, mesmo jurando de pés juntos e dedos cruzados que “odeia números”. É capaz de dizer uma mentira como se fosse a maior verdade do mundo, e convencer. Vai acabar pegando muitos incautos, basta dizer que, defendendo um governo forte e centralizador, conseguiu a simpatia de parte de uma plateia majoritariamente liberal.

Marina Silva (Rede): Começou o discurso enumerando quatro qualidades que a fariam abusar do tempo para discursar: é mulher, professora, latino-americana e política. Falou, mas infelizmente não teve muito a dizer. Adepta do discurso moça frágil e sofredora, enumerou meio mundo de doenças que já teve e todas as agruras que passou na vida. Como se o fato de ter sofrido, credenciasse alguém para ser presidente da República. Vendeu a imagem de boazinha, falou em “oferecer a outra face”. Equivocadamente, atribuiu à Revolução Americana – que garantiu a supremacia do indivíduo frente ao Estado – os lemas coletivistas da Revolução Francesa e afirmou – frente a uma plateia que enxerga no Livre-Mercado a melhor solução para a pobreza – que o capitalismo estaria em crise. Prometeu fazer uma política diferente, sem dizer muito bem como. Tentou se posicionar ao centro, sem atacar os oponentes, mas não apresentou nada parecido com propostas.

Geraldo Alckmin (PSDB): tem um jeito meio insosso, que lhe rendeu o apelido de “picolé de chuchu”, mas tem discurso e resultados para apresentar, principalmente na questão fiscal e na segurança pública, embora tenha claramente fugido de algumas perguntas mais diretas, como o estatuto do desarmamento. Provavelmente se sairia igual num evento de esquerda, com outras pautas, pois quer se posicionar ao centro. Se não for preso por corrupção, capaz de levar essa eleição, pois historicamente, o eleitor brasileiro não vota em radicais. Nem de direita, nem de esquerda.

Jair Bolsonaro (PSL): continua sendo uma incógnita em termos de plano de governo. Foi convidado, mas não apareceu para apresentar suas ideias, e isso diz muita coisa.

A 31ª edição do Fórum da Liberdade recebeu um público superior a 5.190 pessoas, teve 20 palestrantes e mais de 635 mil acessos nas plataformas online. Dentre os palestrantes, o juiz Sérgio Moro foi um dos mais requisitados pelo público, sendo ovacionado como herói e aplaudido de pé nos dois painéis que participou. As ideias de liberdade nunca estiveram tão presentes no Brasil.

Texto de Priscila Chammas e Alexandre Freitas. 

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