Como salvar, de fato, a indústria brasileira?

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oil refinary industryQuando o assunto é indústria, inúmeros economistas vestem uma camisa da seleção e afirmam que é necessário proteger a indústria nacional dos produtos importados, a qualquer custo. Segundo eles, empregos seriam preservados e setores estratégicos ficariam nas mãos de empresários brasileiros.

Por isso, os governos, especialmente o brasileiro, acabam por ceder ao enorme lobby feito pelos conglomerados industriais e aumentam as barreiras comerciais, desvalorizam a taxa de câmbio, concedem linhas de crédito subsidiadas e etc. O problema é que tais medidas não apenas geram mais ruídos para os agentes econômicos, como punem os consumidores, uma vez que estes arcam com a conta dessas benesses.

Nos últimos anos, o governo Dilma vem aumentando a proteção e os incentivos ao setor industrial. As medidas, que vão desde isenções fiscais a aumento de empréstimos feitos pelo BNDES, acabaram por contribuir para a elevação dos gastos públicos e reduziram a receita do governo. Com estímulos bilionários e proteção aos produtos importados, o governo esperava elevar a competitividade da indústria nacional e proteger os empregos no setor. Contudo, qual foi o real impacto dessas intervenções?

O gráfico a seguir mostra a produção industrial durante o governo Dilma. Valores menores do que 100 indicam queda na produção, ao passo que valores acima de 100 indicam aumento da produção. Como é possível notar, ao longo dos últimos anos, a produção industrial não cresceu e, atualmente, está em queda.

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Fonte: Ipeadata

 

 

Em relação aos empregos, a situação não é muito diferente. O gráfico a seguir foi tirado da Pesquisa Industrial Mensal do Emprego e Salário (PIMES), elaborado pelo IBGE. Como é possível notar, o número de trabalhadores na indústria vem caindo nos últimos anos.

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Se essas medidas de cunho protecionista e intervencionista não surtiram efeito, o que o governo deveria ter feito para tornar a indústria nacional mais competitiva? Ele simplesmente deveria forçar o setor a ser mais competitivo, ao passo que promoveria um ambiente mais propício aos negócios através da estabilidade macroeconômica.

Abertura econômica

Atualmente, o Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo. Segundo um estudo feito pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil foi a nação que mais adotou medidas contra produtos importados e, segundo o Banco Mundial, nosso país é o que menos importa no mundo, como proporção do PIB (13%).

Tal fato é extremamente danoso não apenas à competitividade, mas principalmente aos consumidores. Estes, como não podem consumir bens e serviços importados, acabam tendo que se contentar com os produtos nacionais. Dado que os produtores brasileiros enfrentam baixa concorrência do exterior, sua produção é cara e de má qualidade (um exemplo disso são os carros fabricados aqui).

Se o país fosse mais aberto a produtos importados, os produtores nacionais teriam que elevar a qualidade dos seus produtos, como teriam que reduzir o preço dos mesmos. No final, o consumidor seria o mais beneficiado com a abertura econômica.

É evidente que algumas empresas não conseguiriam se adaptar à concorrência e acabariam por falir, deixando inúmeros trabalhadores sem emprego, no curto prazo. Entretanto, no longo prazo, os setores competitivos cresceriam e absorveriam essa mão de obra ociosa. Por mais que o longo prazo demore a chegar, não é justo fazer com que os indivíduos sejam forçados a pagar para manter certo número de trabalhadores empregados.

Retorno do tripé

Abandonado após 2008, o tripé macroeconômico, que norteou a política econômica do país depois de 1999, precisa ser retomado urgentemente. Os pés do tripé são: metas de inflação, superávit primário (economia feita para o pagamento de juros da dívida) e câmbio flutuante. Com ele, será possível tornar o ambiente econômico mais propício ao investimento.

O ministro Joaquim Levy vem trabalhando para reativar o tripé, principalmente no lado fiscal. Seu ajuste, que é basicamente composto por aumento de impostos, tem como objetivo obter um superávit primário de 1,2% do PIB. Entretanto, as medidas de Levy vêm esbarrando no jogo político de Brasília, o que dificulta ainda mais o trabalho do ministro.

Além do mais, o ministro afirmou que a política de subsídios a setores específicos, bem como empréstimos por parte do BNDES a um grupo de empresas, chegou ao fim. Tal fato é bem vindo, dado que na maior parte das empresas que recebiam empréstimos (como Embraer, JBS e etc.), a taxa de juros subsidiadas tinha capacidade para se financiar no mercado.

Outro ponto que mostra o compromisso em reestabelecer o tripé é o fim do programa de swap cambial. Com ele, o Banco Central fazia intervenções no mercado (comprando ou vendendo dólares), com o objetivo de manter a cotação em um patamar competitivo (para o setor exportador e controlar a pressão inflacionária). É importante que a autoridade monetária se preocupe apenas com o controle da inflação, dado que o mercado é o único que sabe a cotação ideal para do dólar.

Em relação à inflação, durante o primeiro mandato de Dilma, o IPCA ficou acima da meta de 4,5% e a autoridade monetária demorou para elevar a taxa de juros. Dessa forma, as expectativas do mercado em relação à inflação ficaram acima da meta estabelecida, fazendo com que salários e preços passassem a ser corrigidos acima de 4,5%. Atualmente, devido ao aumento dos preços administrados, o IPCA tem batido altos níveis e o mercado espera que o índice fique acima de 8%, em 2015.

O Banco Central parece estar com mais autonomia do que no primeiro mandato, mas a SELIC ainda está abaixo do que alguns economistas acreditam ser o ideal, devido à expectativa do mercado de 8%. Atualmente, a SELIC encontra-se em 12,75%, mas seria necessário elevá-la para 14%.

Portanto, o retorno do tripé, através dos ajustes que estão sendo feitos pelo governo, trará estabilidade econômica ao país. Dessa maneira, o governo ajuda muito mais o setor industrial do que se estivesse realizando intervenções pontuais, visando “corrigir falhas” e atender pedidos de elevação de barreiras contra produtos importados.

Conclusão

Por mais que o governo, mesmo contra a sua vontade, venha reduzindo as benesses ao setor industrial e retomando o tripé macroeconômico, seria necessário abrir o país aos produtos importados. Dessa forma, por mais que, no curto prazo, o custo de tal abertura fosse alguns empregos, o setor industrial seria tornaria muito mais competitivo.

Os setores que conseguissem se adaptar à concorrência se tornariam muito mais sólidos e maiores, podendo se integrar às cadeias internacionais de valor. Além do mais, no longo prazo, outros setores da indústria poderiam se desenvolver.

Os empregos gerados não ficariam a mercê do lobby em Brasília e não onerariam os pagadores de impostos. Além disso, os consumidores teriam acesso a produtos mais baratos e de melhor qualidade. No final, a solução passa por mais mercado e menos intervenção estatal na economia.

 

 

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Mateus Maciel

Mateus Maciel

Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Colunista dos sites: Spotniks e Liberzone.

4 comentários em “Como salvar, de fato, a indústria brasileira?

  • Avatar
    28/04/2015 em 2:31 am
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    Pode parecer distante do tópico, mas acho que o caminho passa também por tentar diminuir o custo Brasil.Ele tira e muito da competitividade dos comerciantes do país no comércio internacional. Se especializar no que se é bom e ter uma indústria forte é um bom caminho, desde que não se ponha todos os ovos numa cesta só. Quanto a perda de empregos no curto prazo, é importante analisar os custos sociais e financeiros para o governo de se ter uma massa de pessoas sendo demitidas e possivelmente não encontrando no mercado emprego que condiz com sua capacitação.É necessário sabedoria para lidar com a situação.Abçs Mateus, parabéns pelo texto

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    15/04/2015 em 2:01 pm
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    Bacana o texto, obrigado!

  • Avatar
    15/04/2015 em 8:29 am
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    Caro Maurício,

    Desde já agradeço pelo elogio. Concordo com você que tirar o poder do Banco Central de fazer política monetária, através da implementação de um currency board seria benéfico para economia do país. Entretanto, duvido muito que isso seja viável politicamente.

    Um exemplo disso foi quando o Banco Central adotou o “câmbio fixo”, no Brasil. Havia, no governo, os defensores do câmbio flutuante e do câmbio “fixo”, como Gustavo Franco. Contudo, após as crises russa, asiática e latino-amaricana, os defensores do câmbio flutuante acabaram por vencer o debate.

    Acredito que, diferente da década de 1990, atualmente nossa macroeconomia seja mais robusta. Além do mais, nosso nível de reservas está muito mais alto. Tal fato poderia tornar economicamente viável a adoção de um currency board.

    Contudo, como disse anteriormente, duvido muito que o governo adote tal sistema.

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    14/04/2015 em 1:59 pm
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    O autor assume que a melhor maneira de salvar a indústria é abrir o mercado e confiar a ele o cambio, já que ele é o único capaz de avaliar o poder de uma moeda corretamente. Por que essa postura seria mais eficiente do que controlar somente o câmbio? Em um mercado competitivo, uma moeda apreciada não seria o suficiente para manter estável a economia? O que achas de um currency board ou algo parecido?Pra não ir tão longe, vender as reservas internacionais e sinalizar ao mercado que o real vai se valorizar, independentemente do juros ou da inflação, não seria o suficiente pra atrair investidores interessados na nossa moeda? A indústria não sairia ganhando? Política monetária não é pior que política cambial?
    De qualquer modo, excelente texto!

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