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Como fazer a Revolução Liberal?

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Hélio Rodrigues Pereira*

Todos os movimentos de esquerda tem apresentado modelos de prática econômica cujos fundamentos são facilmente superados pela argumentação teórica da Escola Austríaca e da Escola de Chicago1 2 3.

Todavia, no que diz respeito estratégia e tática para alcançar o poder, são os movimentos de esquerda que tem superado os pensadores liberais.

Em conseqüência disso, o movimento comunista apesar de sucessivas derrotas continua vivo na América do Sul, ameaçando trazer aos povos e nações a mesma situação trágica que vem se repetindo vez após vez, sempre que o bom senso é substituído pela loucura e o totalitarismo é aclamado como a solução final de todas as misérias humanas4.

A gravidade de tal situação chegou a tal ponto que só medidas urgentes podem oferecer alguma esperança razoável de contornar tamanha dificuldade, e este senso de urgência tem mobilizado filósofos, pensadores e políticos em busca desesperada de uma reação antes que seja tarde demais.

Nos inúmeros eventos sobre essa questão, a maioria das soluções são irreais porque não levam em consideração o estado real das coisas e procuram resolver a crise apresentando modelos de código a serem adotados na constituição como se a hegemonia esquerdista fosse alegremente ceder espaço para uma reforma política liberal. Fazendo esta crítica, o filósofo Olavo de Carvalho delineou os requisitos gerais que deveriam ser respeitados para um plano de ação minimamente aceitável. Na mesma linha de pensamento, Ubiratan Jorge Iorio forneceu algumas linhas gerais sobre o que deve ser feito.

Respeitando as exigências assinaladas por Olavo de Carvalho e aproveitando as sugestões de Ubiratan Iorio foi elaborado um novo esquema motivado pelo mesmo objetivo.

É tarefa deste artigo propor uma teoria do poder, que seja capaz de apresentar o caminho para conduzir os pensadores liberais à vitória política sem violar os princípios mais básicos do liberalismo que é a rejeição à violência e à fraude e que possa se rivalizar em eficiência, com os métodos leninistas e gramscianos do movimento comunista5.
Formulado então o problema de criar uma estratégia de poder para o movimento liberal surge então a questão de como deve ser esta estratégia de poder, quais requisitos deveriam ter uma estratégia de conquistar o poder político para um movimento baseado no liberalismo.
Foi então estabelecido cinco pontos principais:

1 – Coerência

O primeiro requisito importante para a revolução liberal é a de não violar os princípios mais básicos do liberalismo, é a de desenvolver um programa geral de luta sem que envolva os meios violentos e fraudulentos de combate político que caracterizam respectivamente o leninismo e gramscismo.

2 – Vantagem

O segundo requisito importante para a revolução liberal é a que esta deve saber tirar vantagem de seus próprios princípios em relação aos movimentos adversários. Deve saber reconhecer os elementos fortes, as vantagens potenciais e explorá-los ao máximo para obter o maior ganho possível. A identificação de uma vantagem imanente aos próprios princípios liberais que se visa defender garantirá sua exclusividade como prática da revolução liberal, que não poderá ser repetida pela estratégia de seus adversários sem incorrer em adotar os princípios que eles desejam combater. É criar um dilema em que o adversário será obrigado a adotar a mesma tática para igualar a eficiência combativa, e com isso se deixar contaminar pela doutrina liberal, ou aceitar a derrota em troca da pureza ortodoxa e ser extinto.

3 – Amplitude

Nenhuma estratégia para alcançar o poder pode ser bem sucedida se não contar com o apoio de entidades influentes na esfera política. E este apoio significa a igreja e o empresariado6. Para que isto seja possível é necessário que a base doutrinária seja flexível permitindo alianças com um amplo espectro da sociedade7. Deve se sustentar numa palavra de ordem genérica o suficiente a ponto de coincidir com os anseios mais diversos dos mais variados setores da militância e das causas intelectuais8.

4 – Apelo aos intelectuais

Uma boa estratégia de revolução ideológica deve possuir apelo aos intelectuais9. Deve criar tarefas para intelectuais cumprirem, e com isso uma ocupação que ponha a classe falante em destaque. Os pensadores profissionais precisam acreditar, no mesmo modo em que se dá no marxismo e no gramscismo, que o processo revolucionário liberal irá lhes oferecer posições vantajosas na sociedade.

5 – Apelo Moral

E por ultimo, uma boa estratégia deve possuir apelo moral. Deve evocar sentimentos nobres capazes de criar motivação pública, facilitar a criação de slogans publicitários que torne possível a formação de uma militância envolvida na defesa de um ideal tão belo como a “luta contra a fome”, o “combate à pobreza”, ou um ersatzqualquer do entusiasmo esquerdista.

Estas cinco características mencionadas não foram estabelecidas fortuitamente ao sabor da livre invenção, mas resultaram de um estudo sobre as razões do movimento comunista ser tão bem sucedido. É este estudo que deve orientar a formação de uma estratégia eficiente. A inspiração em modelos bem sucedidos é, além disso, uma atitude epistemológica que nos distingue da esquerda, já que esta ultima prefere se orientar em modelos ideais de perfeição abstrata.

Esta diferença fundamental de orientação epistemológica entre esquerda e direita é uma das chaves para fornecer os contornos mais gerais de como deve ser a teoria do poder para a revolução liberal. Esta diferença epistemológica é inclusive a razão mais profunda de que a longo prazo, o liberal-conservadorismo está destinado a vencer seus inimigos, precisando apenas ser despertada de seu torpor para exercer a plena capacidade de suas potências adormecidas. A vitória do liberal-conservadorismo está assentada em sua atitude superior quanto ao conhecimento adquirido. Tudo que precisa ser feito é deslocar esta situação vantajosa para o terreno de combate político e fazer da desinformação esquerdista uma arma contra eles mesmos.

Pois é justamente por causa da desinformação que o movimento comunista esta “ocupando” os espaços culturais, é por causa da desinformação que o movimento comunista está consolidando o seu domínio e portanto é a desinformação o alvo principal contra o qual a luta liberal conservadora precisa investir para obter a destruição de nossos inimigos.

Desta forma, não é uma luta de violência, de armas, não é uma batalha que deve ser travada fisicamente, mas intelectual e espiritualmente deixando os confrontos físicos para as instituições republicanas que representam a vontade democrática do Estado de Direito.

Como deve ser tal estratégia? Qual deve ser então esta estratégia misteriosa que é capaz de preencher todos os cinco requisitos acima expostos e que poderia dar ao movimento liberal-conservador uma chance de vitória contra a hegemonia esquerdista mesmo que a longo prazo?

Para acharmos a resposta, vamos analisar os elementos fundamentais da Escola Austríaca. Tomemos como exemplo a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. Façamos então a pergunta: Qual é o conceito central que orienta a teoria da Escola Austríaca a identificar as causas das crises e da recessão?

Resposta: A falha em preservar a integridade das informações dos agentes econômicos.
A falta de integridade das informações entre os agentes econômicos corresponde na economia, a desonestidade intelectual entre os agentes culturais.

Então, se a resposta na economia é eliminar as falhas de comunicação entre seus agentes, eliminando ou reduzindo a intervenção estatal e com isso a sua tendência deformadora nas informações vitais para o comércio, para a produção de bens e operações financeiras; a resposta na política, seguindo o mesmo padrão de análise, é eliminar as falhas de comunicação entre os agentes culturais, eliminando também as intervenções ideológicas e sua tendência deformadora nas informações vitais para os estudos e produção de conhecimento.

E somente uma atitude pode nos conduzir a isto, somente uma atitude que preencha todos requisitos formulados para caracterizar uma boa estratégia de poder. E esta atitude, esta estratégia é:

A defesa e promoção do pensamento crítico em larga escala sob a forma de Debate Crítico, ou seja, o Debate orientado por regras de pensamento crítico que seja capaz de fornecer ao final da disputa, um vencedor claramente reconhecido10.

O Debate Crítico reúne dois conceitos pilares para a revolução liberal que são a aceitação e a credibilidade.
A defesa do Debate Crítico é coerente com os princípios do liberalismo, pois significa a exigência da honestidade intelectual como fundamento básico da democracia, da atividade cultural e do exercício do direito. Defender o Debate Crítico é defender a honestidade intelectual nos debates políticos e culturais como valor supremo, e defender este valor é possibilitar ao caminho da revolução liberal um grau de aceitação maior que a divulgação do liberal-conservadorismo poderia obter. A campanha pela honestidade intelectual e o pensamento crítico como solução dos problemas políticos e sociais, como solução para todos os conflitos, nos facultariam obter uma aliança com um leque maior de entidades, que não necessariamente apoiem a causa liberal, mas que acreditam poder vencer pela via do pensamento crítico. O apelo publicitário de uma busca pela ética nos debates, uma ética nos eventos culturais, e fazendo significar para tais slogans a prática de uma forma honesta de Debater, poderá trazer ao nosso lado entidades que vão da Opus Dei aos ateus materialistas11.

O desafio intelectual envolvido em organizar, criticar, analisar e desenvolver modalidades de regras para determinar como uma ideia deve vencer um Debate irá deixar os intelectuais ocupados e inclinados a favorecer uma atividade que fornece a eles um sentido enobrecedor. Este sentido pode ainda ser amplificado, se no desenrolar desta campanha, houver uma identificação com uma Escola de Pensamento, uma novidade cultural que faça todos se sentirem como que fazendo parte de um processo criativo original que irá prestigiar todos os seus integrantes, incutindo-lhes uma perspectiva vaidosa de estarem na vanguarda de uma atividade intelectual revolucionária.

Todo este processo deve ser realizado sem que se suspeite que esteja ocorrendo a serviço do liberalismo, é necessário que aconteça sem que haja, no início, qualquer vinculação clara com o movimento liberal e conservador. O propósito desta fase, deste processo inicial, é preparar o terreno, é trazer uma atmosfera de aceitação que estenderá o tapete para a revolução liberal. É a fase da aceitação. Concluída a fase da aceitação, estendido os tapetes para dentro das universidades, para dentro dos centros formadores de cultura, então a segunda fase será a de tomar todos os seus alvos de assalto.

É quando o pensamento liberal e conservador, armado de material bibliográfico, armado de uma retórica e dialética superior, irá vencer cada um dos debates estruturados, não de um modo que a platéia possa contestar, mas de um modo que confira a seus vencedores um grau de credibilidade que jamais teriam se vencesse qualquer outro debate sem o reconhecimento de uma testemunha atenta.

Da mesma forma que poucos contestam o valor daquele que vence uma competição esportiva, daquele que vence um jogo, o valor das idéias que vencerem um debate estruturado por regras mutuamente aceitas será reconhecido como jamais o seria em qualquer outro cenário possível.

É deste reconhecimento que o movimento liberal e conservador deverá construir sua credibilidade e capitalizá-la para seu ganho político.

Mas para dar início a este processo, para viabilizar o início da revolução liberal é preciso que sejam alcançados dois objetivos intelectuais:
1) Apresentar um modelo de debate estruturado, ou seja, um modelo baseado em critérios para decidir qual opinião deve prevalecer sobre outra. 2) Desenvolver uma proposta bem sucedida para tornar Debate Crítico uma atividade lucrativa com o propósito de divulgar sua pratica tão amplamente quanto possível.

Se estes dois objetivos intelectuais forem conquistados, então a Revolução Liberal estará a meio caminho da vitória. Todavia, tais objetivos representam um grande desafio que seria digno de ser solucionado por um novo grupo de trabalho, ou uma nova escola de pensamento que ponha as duas questões acima como questões fundamentais para a economia e a política, entendendo a integridade das informações culturais como portadora de valor e significado econômico.

Pois não é apenas necessário estar certo, é preciso que as regras tornam esta certeza visível aos olhos de quem presencia o confronto entre as idéias. E isto é um problema político e econômico.

1 Mises, L., 1981 [1922], Socialism: An Economic and Sociological Analysis, trans. J. Kahane, available online at http://www.econlib.org/library/Mises/msStoc.html.

2 Mises, L., 1949, Human Action: A Treatise on Economics, available online at http://www.mises.org/humanaction.asp.

3 Böhm-Bawerk, Eugen von, “The Positive Theory of Capital and Its Critics,” Quarterly Journal of Economics, vol. 9, (January), 1895, pp. 113-131. ver http://www.mises.org/content/bawerk.asp

4 “Salto del Guayrá — A presença do grupo guerrilheiro colombiano Forças Armadas Revoluncionárias da Colômbia (Farc) no Brasil não se restringe hoje apenas à montagem de bases estratégicas para o tráfico de drogas e armas na selva amazônica. As ações das Farc incluem o treinamento de criminosos e líderes de movimentos sociais, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Os centros estão montados estrategicamente na fronteira do Brasil com o Paraguai. Relatórios sigilosos em poder de autoridades brasileiras e paraguaias registram a ocorrência de pelo menos três cursos sobre técnicas de guerrilha destinados a brasileiros, realizados este ano – em maio, julho e agosto – na região de Pindoty Porã, departamento de Canindeyú, no Paraguai, cidade na fronteira com o Mato Grosso do Sul e o Paraná.”
Correio Braziliense 30 Outubro de 2005

5 Murray N. Rothbard . was dean of the Austrian School. Este artigo é uma parte do primeiro capítulo do For a New Liberty: The Libertarian Manifesto.
http://www.mises.org/story/2123

6 “Havia um outro erro dos pangermânicos que Hitler não iria cometer. Este erro consistia no fracasso quanto à consecução do apoio de pelo menos algumas das poderosas instituições estabelecidas da nação: se não a igreja, então o Exército, ou o Gabinete, ou o Chefe-de-Estado. A menos que um movimento político conquistasse tal apoio, percebia-o o jovem, seria difícil, senão impossível, que assumisse o poder. Foi precisamente tal apoio que Hitler teve a astúcia de conseguir em Berlim, nos dias cruciais de janeiro de 1933, e que tornou possível a ele e a seu Partido Nacional Socialista assumir o governo de uma grande nação”.

William L. Shirer, “Ascensão e Queda do Terceiro Reich”, Vol 1 – Civilização Brasileira , 1963, pp. 50.

7 “Quando o Partido está fraco para o assalto direto ao poder, dizia Gramsci, deve formar um amplo ‘pacto social’ baseado no ‘consenso’, mas conservando para si a hegemonia, o primado das idéias e valores que soldam a aliança.”

http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm

8 “E fazem isso sem nenhuma unidade doutrinal, antes curtindo gostosamente a nebulosidade e a indefinição cuja fecundidade estratégica e tática aprenderam com Antonio Gramsci.” http://www.olavodecarvalho.org/semana/060515dc.html

9 “Os intelectuais desempenham por isso, na estratégia gramsciana, um papel de relevo.”

http://www.olavodecarvalho.org/livros/negramsci.htm

10 “O assunto dos argumentos demonstrativos foi discutido nasAnalíticas, enquanto o dos argumentos dialéticos e críticos foi tratado noutra parte; agora passaremos a falar dos argumentos que se usam nas competições e debates. Antes de tudo, deveremos conhecer os vários fins visados por aqueles que argumentam como competidores e rivais encarniçados. Esses fins são em número de cinco: a refutação, o vício de raciocínio, o paradoxo, o solecismo, e em quinto lugar reduzir o adversário a impotência – isto é, forçá-lo a tartamudear ou repetir-se uma porção de vezes; ou, então, produzir a aparência de uma dessas coisas sem a realidade. Pois eles preferem, se possível, refutar cabalmente o outro, ou, na falta disso, demonstrar que ele cometeu algum erro de silogismo; em terceiro lugar, levá-lo a afirmar um paradoxo; em quarto, reduzi-lo a um solecismo, isto é, fazer com que ele, no curso do argumento, use uma expressão contrária a gramática; ou então, em último recurso, obrigá-lo a tartamudear “. Aristóteles, “Tópicos; Dos Argumentos Sofísticos”-Seleção de Textos de José Américo Motta Pessanha. São Paulo:Abril Cultural , 1978 (156-157)

11 Smith Georg. How to Defend Atheism Atheism: The Case Against God (Buffalo, NY: Prometheus, 1980)
http://www.infidels.org/library/modern/george_smith/defending.html

Sobre o autor: Hélio é engenheiro elétrico e livreiro. É um dos fundadores do grupo de estudos e debates COF RIO sobre filosofia, literatura, política e história. Ministra palestras e workshops sobre filosofia e teoria econômica.  

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