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Como deter a escalada da violência?

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violencia_2De acordo com o Mapa da Violência 2015, morrem quase cinco pessoas por hora no Brasil. E essa violência vem aumentando, ano após ano. Em 1980, o total de mortos por armas de fogo foi de 8.710 pessoas. Em 2012, esse número subiu para 42.416. Sendo que, nesse mesmo período, a população brasileira cresceu 61%. Esses números são chocantes; como explicá-los? Com certeza, parte do problema tem origem na questão social. O Brasil sempre foi, desde o período colonial, um país marcado pela pobreza e desigualdade extremas. E toda essa injustiça social é com certeza combustível para violência. Todavia, desde 1994, tanto PSDB quanto PT contribuíram para incluir os grupos mais vulneráveis da população. Esse movimento foi em grande medida uma reação à ampliação da desigualdade ocorrida durante o período militar. Desde a implementação do Plano Real, tem havido uma clara redução da desigualdade e da pobreza.

Isso nos leva necessariamente a uma indagação: se a situação econômica tem melhorado, por que a violência tem aumentado em vez de diminuir? Para quem acha que a questão social não é relevante e a solução é simplesmente reprimir, convém notar que, em 2014, policiais civis e militares mataram 3.022 pessoas no Brasil – uma média de oito pessoas por dia. Esse número representa um crescimento de 37% em relação a 2013. A polícia no Brasil é extremamente letal e cadeia parece que também não é a solução. Com 607.700 presos, o Brasil tem a quarta maior população encarcerada do mundo, atrás somente de China, Estados Unidos e Rússia.

Particularmente, acredito que esse aumento da violência tem a ver com uma combinação explosiva: liberdade sexual e baixos níveis de instrução. Explico melhor. Por volta dos anos 1970 – com um certo atraso –, a revolução sexual chegou finalmente ao Brasil. Isso, por um lado, foi positivo. Vivíamos em uma sociedade patriarcal, com mulheres submissas e oprimidas. Quem (da minha geração) não se lembra da então sexóloga Marta Suplicy argumentando contra o tabu da virgindade no programa TV Mulher?

Sou plenamente favorável à emancipação sexual das mulheres. Mas, por outro lado, acredito que toda essa liberdade sexual em um país com baixíssimo nível de instrução produziu resultados indesejados: famílias desestruturadas, crianças abandonadas, violência doméstica, entre outras coisas. Adolescentes passaram a ter filhos cada vez mais cedo e ser mãe solteira se tornou algo cada vez mais normal. Sem essa base familiar, muitas dessas crianças oriundas de famílias pobres e de pouca instrução acabam se transformando em marginais.

Não acredito num retorno aos valores morais dos anos 1950-60. Isso pode acontecer para alguns grupos, mas não para a sociedade como um todo. A humanidade, por vezes, parece caminhar em círculos, mas creio que estamos na realidade seguindo em frente. Certas mudanças são definitivas, não há como voltar atrás. Portanto, não existe outra alternativa, as pessoas têm de aprender a lidar com essa liberdade. Entendo que a educação poderia dar uma grande contribuição para redução da violência. Pessoas mais instruídas normalmente têm maior capacidade de discernimento e consequentemente tendem a evitar comportamentos destrutivos. Basta fazer uma comparação do Brasil com algum país desenvolvido. Na Suécia, por exemplo, as pessoas, de um modo geral, são liberais do ponto de vista sexual, mas o país apresenta baixíssimos níveis de violência. É evidente que a Suécia é um país rico, com alta renda per capita e um Estado de Bem-Estar Social generoso. Tudo isso ajuda, mas acredito que o ponto mais importante está na educação. Enquanto não resolvermos essa questão, continuaremos sendo uma das nações mais violentas do mundo.

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Ivan Dauchas

Ivan Dauchas

Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.

7 comentários em “Como deter a escalada da violência?

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    19/10/2015 em 4:12 pm
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    Abordagem extremamente coerente. No livro FREAKONOMICS, de Levitt e Dubner, há um paralelo a isto, dizendo que a legalização do aborto nos EUA em 1973 teria, indiretamente, diminuído a criminalidade na geração seguinte, dado à diminuição de lares com pai e/ou mãe ausentes.

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      20/10/2015 em 9:39 am
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      FRed, também no Freakonomics se oberva que encarceramento e presença da polícia – desde que depois haja punição proporcional – são fatores que influenciam muito a redução da criminalidade.
      Apenas pondero: de todos estes, seria o aborto a primeira opção? Não seria mais correto iniciar a punição por quem de fato praticou crime, ao invés de quem ainda não o fez? (é claro que se entrarmos no debate “quando começa a vida” abriremos grande frente de debate, e nem pretendo adentrar nesta seara, é só uma ponderação mesmo para relexão, sem qualquer intenção de fechar questão)

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    18/10/2015 em 3:55 pm
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    Quantidade absoluta de presos não tem valor comparativo válido. Correta seria a quantidade por 100 mil habitantes. Neste aspecto, estamos muito atrás. Prende-se pouco no Brasil.
    Educação e renda podem influenciar, mas tenho minhas dúvidas. Se assim fosse, a Índia seria o país mais violento do mundo. E não é.
    O que realmente reduz a violência é polícia e Justiça eficientes e bandido na cadeia (não quis dizer morto), como já comentado pelo Sr. Michel Carvalho.

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    17/10/2015 em 11:54 am
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    Muito interessante os pontos observados pelo nobre economista formado pela USP; e por ser uspiano deve ser visto e lido como suspeito, pois que foi da USP que saíram os atuais dirigentes do pais. FHC, José Serra, Alquimim, Fernando Hadad e outros. Todos amigos do capital falacioso predador que tomou conta da sociedade brasileira. Todos cantando a mesma “lenga lenga, didática filosófica” adquiridas nas páginas xerocadas de suas tarefas de graduação. Sem nunca terem tomado as rédeas para mobilizar a sociedade a praticar o que “filosofam”… Só cópia da cópia, referindo-se as mentes iluminadas que trouxeram ao mundo as ideias do socialismo, única forma possível de convivência social; SEM NUNCA terem vivenciado o que professam. Foi da USP que criaram o fonema DITADURA, para tentar convencer a população que o regime militar foi um retrocesso. Foi da USP que saíram os “caras pintadas” aliciados pelo então MDB para saírem as ruas para depor o presidente Collor sob a insígnia falaciosa do impeachment. Foi da Usp, diga-se de passagem à revelia que saiu o gestor do plano Real que mostrou o caminho de uma transição “ainda que primeva” para o mudança do regime “capitalista” para um arremedo de socialismo para inglês ver. Ele como os outros se “pelam” quando a população pede a volta do regime militar, (que coibiu as manifestação dentro daquela faculdadezinha que quer ser primeiro mundo, mas um verdadeiro antro de desvio de verbas públicas, e formação de pseudos sábios. Os militares cortaram as asas dessas “sumidades”, que foi o único movimento verdadeiro que proporcionou a população, pelo menos durante l0 anos, condições mínimas de igualdade, segurança e início de uma nova era de modernismo para o Brasil, que até então era movido por carroças no dizer de Collor… época em que os bandidos “pediam delicadamente licença para assaltar – dizendo: É um assalto, não vou fazer-lhe mal se me derem o que quero… – Hoje matam, depois perguntam…
    Na época dos militares a lei era cumprida a risca. Hoje, comandada pelos partidos que combateram a Ditadura temos esse resultado estarrecedor, onde os cartéis e quadrilhas banidas pelo regime militar estão lá dentro do planalto dando as cartas. É isso o que quer os sociólogos da USP? Do couro sai a coreia, ensina a sabedoria milenar. O Brasil tem solução SIM! A alternativa mais viável e menos dolorosa para a população, (Não o que professam os gurus das elites e filósofos uspianos) é VOLTAR ATRAS, com a implantação de uma DITADURA VERDADEIRA, com todas as suas cominações, mas uma ditadura contra esse regime “capitalista” comandado pelos mesmos facínoras que os doutores da USP defenderam no passado e presente; com prisão, confiscação de bens de todos os políticos, extensível até a quinta geração de todos os familiares, antes e depois da volta da falsa DEMOCRACIA… Repatriamento do dinheiro roubado, arresto de todas as contas existentes no exterior desses ratos do congresso. Semelhante ao código de Hamurábi, imitado por Fidel Castro e o saudoso conde “Drácula”, – o Vlad empalador da Romênia, que colocou os políticos no “lugar que merecem” – lembram-se? A SEGUIR IMPLANTAR NO PAIS O REGIME “SOCIALISTA COMUNISTA” dirigido por socialistas, admistradores, legisladores concursados saídos do povo, com apoio de toda a massa, única solução viável e duradoura para o mundo. Podemos começar com o modelo Chinês como forma de transição. Que tal Doutor? Terás a coragem de comandar um movimento dessa natureza, ao invés de ficar arrostando sabedoria copiada? Com essas medidas os valores morais de l950/60 voltarão incontinente.

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    17/10/2015 em 9:36 am
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    Há diversas pesquisas demonstrando que o encarceramento e a presença da polícia são os fatores mais relevantes no combate à violência já instalada, como no Brasil.

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      17/10/2015 em 12:03 pm
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      De que estás falando? Poderias ser mais claro? Tudo depende de quem está no comando! Lembra-se da 2a guerra? Os aliados só venceram porque seguiu um sólido planejamento comandado por uma única mente catalizadora, lógica e imparcial a revelia dos idealismos e interesses pessoais, sintetizado nessa frase de Churchil, : “Um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um otimista vê uma oportunidade em cada dificuldade.”

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        21/10/2015 em 3:59 pm
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        Kurumin, eu coloquei alguns links aqui mas acho que é bloqueado.
        As pesquisas podem ser encontradas, por exemplo, no site do Laboratório de Criminologia da Universidade de Chicago, no compêndio Freakonomics e em levantamento feito pelo O Globo há uns dois anos atrás (todos encontráveis pelo google).

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