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Como conversar com Marcia Tiburi?

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Apesar de sua natureza demagógica e perigosa, o presidenciável pedetista Ciro Gomes não se equivocou ao, diante do candidato do Patriota, Cabo Daciolo, no primeiro debate para o posto máximo da República, admitir os aspectos desagradáveis da democracia.

Por mais que estejamos no número dos que a advogam, desde que entendida como a República aristotélica, temperada pelo império da lei e o estabelecimento de regras do jogo, é preciso reconhecer que, sobretudo nesta época de massas, por menos disfuncional que ela seja e por mais organizadas que sejam as instituições, haverá sempre alguma brecha para palhaços e populistas de quinta categoria trazerem uma fração de ridículo à coisa pública.

As esquerdas se divertiram ao longo da semana com deboches sobre a performance de Daciolo, fazendo a sua tradicional troça com qualquer discurso antissocialista e anticomunista como se fosse “paranoia dos tempos da Guerra Fria”. Na verdade, a sigla é uma simplificação sarcástica para uma intenção absolutamente real, que é a de coalizão das forças internas ao bloco bolivariano e ao Foro de São Paulo. Ninguém que entenda o bê-a-bá político dos últimos vinte anos poderá duvidar de que tal associação, privilegiando forças autoritárias e bravateiras vizinhas por viés ideológico, tem concretude e impactou bastante os nossos rumos nesta quadra histórica.

Infelizmente, o circense e despreparado candidato, que vive a gravar vídeos contra os terríveis Illuminatti e a Nova Ordem Mundial, mas nem deve saber o que é a Reforma da Previdência, ao empregar essa expressão satírica totalmente fora de contexto, conseguiu ridicularizar um assunto sério. Deu às esquerdas a faca e o queijo na mão para mergulharem no deboche. Ocorre que, se Daciolo é engraçado, a extrema esquerda tem candidatos tragicômicos, de quem você ri mais por constrangimento que por diversão genuína. Que dizer dessa senhora que concorre ao governo do estado do Rio de Janeiro, a petista Marcia Tiburi?

Professora, ela é mais conhecida por ser a autora do célebre livro Como conversar com um fascista, categoria em que seguramente ela engloba qualquer um que não comunga de seus delírios – como o ativista Kim Kataguiri, do MBL, com quem ela, vejam só, não quis conversar quando a oportunidade se apresentou em um debate via rádio. Falta à bibliografia nacional alguém que revele como seria possível conversar com Marcia Tiburi – ao menos, sobre qualquer pauta minimamente séria. Como é possível debater as questões que afligem o nosso querido estado do Rio de Janeiro com uma mulher de 48 anos que mais parece um estudante de DCE daqueles que ficam batendo de porta em porta para interromper aulas nas universidades e pedir voto para sua chapa que vai “enfrentar o neoliberalismo”?

Nem é preciso falar sobre a camisa de Lula que Tiburi usava. A candidata é uma piada ambulante que parece ter saído de páginas de humor da direita na Internet. A começar, é claro, pela narrativa do “golpe” – o eterno fantasma da ruptura institucional, do “golpe dentro da lei” (para usar a expressão de Dilma Rousseff) que defenestrou a última presidente da República. Essa personagem folclórica – cujo exotismo se destaca mesmo em uma selva de figuras perdidas no tempo e espaço que já teve no elenco uma Benedita da Silva e hoje tem Pezão – entende sua candidatura ao governo do estado, que vive uma crise profunda e particular das mais graves em todos os tempos, como uma espécie de “missão de luta” por Lula.

Tiburi sabe muito bem que o ex-presidente está preso em Curitiba. A população do Rio de Janeiro está interessada em eleger seu governador para ajudar Lula? É essa a pauta demandada pela nossa sociedade desejosa de novos rumos? Acreditar nisso é bem mais que beirar a insanidade… Tiburi faz mais. Como Daciolo, ela é desastrada – não tão histriônica, mas nem um pouco atrás na bizarrice. Fez questão de frisar que não havia nenhum negro na bancada. Coube ao ex-jogador Romário, com toda a certeza um dos candidatos mais perdidos da história de qualquer disputa no Brasil, responder que era o negro presente no pleito – mesmo declarando-se “pardo” em seu registro de candidatura. Um espetáculo de horrores.

Outra coisa que Tiburi disse, e nisso ela em nada difere da turma do PSOL de seu oponente Tarcísio Motta, foi que, a despeito da “precariedade dessa concepção econômica chamada capitalismo”, sua atuação no campo do emprego giraria em torno da “economia tradicional”. Economia tradicional. Era só o que faltava. Qual seria a alternativa? Fariam os petistas uma nova economia? Inventariam leis e os fatos que se rendam? Nenhuma surpresa, é claro. Deve ser igual ao “comunismo brasileiro”, como ninguém nunca viu antes, que Manuela D’Ávila pretendia aplicar no Brasil se fosse presidente – cargo que, aliás, ela não mais disputará, para nosso bem.

O estado do Rio precisa desesperadamente de um choque, não diremos nem de liberalismo, embora não deixe de ser verdade, mas de amplo realismo, em todas as esferas. Marcia Tiburi representa o exato oposto dessa necessidade. Ela concluiu sua participação repetindo algo que enfatizou durante as cerca de duas horas e meia de discussão: que estava em meio a candidatos que estão ligados à quadrilha que assaltou o Rio, basicamente concordando em que todos eram o que Tarcísio Motta chama de “Cabrais”. Ela, a sonhadora, a justiceira, pairaria impoluta sobre essa corja de mafiosos e ladrões, prontos a ir para a cadeia amanhã mesmo.

Esqueceu-se a senhora Tiburi de um detalhe muito importante. Sérgio Cabral, Eduardo Paes, todos esses contra quem ela esbraveja, foram amiguinhos, parceiros, de andar de mãos dadas, do vilão-mor, o escroque condenado a quem ela defende. Se a quadrilha do PMDB comandada por Cabral assaltou o Rio, foi em conluio com a quadrilha do PT de Lula. Tivéssemos menos candidatos brizolistas e com culpa no cartório por encamparem tais projetos políticos estampada na testa e alguém no debate não permitiria que ela olvidasse esse fato inconveniente.

Ficamos no aguardo do lançamento do livro Como conversar com Marcia Tiburi, registrando desde já profunda admiração pelo autor que encarar esse desafio.

 

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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