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Com todo o respeito, eles estão errados

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granmaSurpreendo-me ao encontrar, no site de notícias Uol, na coluna de um jornalista com mestrado sobre a imagem internacional do Brasil pelo Brazil Institute do King’s College de Londres, Daniel Buarque, referências a matérias redigidas por portais de instituições estrangeiras afirmando que o impeachment de Dilma Rousseff não é a melhor saída. O jornalista cita a rede internacional de economia Bloomberg, o think thank Council of Foreign Relations (CFR), a emissora norte-americana Fox News (conhecida por dar voz aos setores mais conservadores dos EUA) e o Granma (conhecido jornal cubano).

Segundo Buarque, “independentemente de simpatizar ou não com o governo, em termos de imagem internacional, a estabilidade institucional da política brasileira é um marco que ajudou a fazer com que o Brasil fosse visto no resto do mundo como um país sério e confiável”, e os demais países desconfiam de mudanças constantes nas “regras do jogo” e de presidentes “trocados fora das regras eleitorais – mesmo se fosse considerado o impeachment como um processo institucional e legal”. Quero dizer, de antemão, que não julgo o caráter do jornalista ao expressar tal posição. Nada afirmo quanto a ser de boa ou má-fé que diz o que diz. No entanto, discordo profundamente, e tomarei o exemplo dele, e dos veículos internacionais por ele citados, para fazer uma oposição geral a posicionamento similar de outros jornais, como o próprio O Globo, que têm apontado que devemos pacificar o país em torno da manutenção de Dilma, e não de sua derrubada.

Em primeiro lugar, analisando o caso específico das afirmações de Buarque, o texto do Granma é irrelevante, afinal é um jornal do partido comunista da ditadura cubana, e o que eles dizem não merece a mínima consideração. Quanto à Fox News, sua matéria dá conta de que diferentes organizações brasileiras, como o MST, a Pastoral da Terra e membros do PT (!!!), acusam a “direita brasileira” de estar tramando um golpe contra Dilma. Os conservadores da Fox News não emitiram opinião nenhuma sobre o assunto, portanto a notícia não pode ser encarada como uma posição editorial.

Os casos da Bloomberg e do CFR são realmente mais importantes, afinal os dois se referem a textos que de fato criticam as intenções de impeachment de Dilma. O artigo da Bloomberg alega, desde o título, que o impeachment “não ajudará o Brasil”, embora concordem que haja todos os motivos para que a população esteja irada com a presidente. Os editores acreditam que a prioridade seja devolver ao país a credibilidade com os investidores, afastando o país dos riscos de rebaixamento no grau de investimento; a seu ver, a oposição deveria parar de criar conflito para a aprovação dos diferentes aspectos do ajuste fiscal de Joaquim Levy, e o Brasil deveria fazer cortes na carne do Estado e restaurar o crescimento da produtividade. Deixando de lado o fato de que alguns aspectos do ajuste proposto por Levy merecem críticas, não consigo entender o fato de que os editores da Bloomberg parecem ignorar os fatores e circunstâncias políticas, atendo-se aos aspectos estritamente econômicos da questão. É o tipo de julgamento tecnocrático com que não se chegará a lugar nenhum. Já começam errando ao acreditar que podemos promover cortes decisivos e aumentos na produtividade sob o comando – frouxo – de Dilma e do PT.

Ora, com todo o respeito, é preciso escolher entre as duas coisas: ou bem se buscam esses objetivos, ou se mantém a presidente e seu partido no poder. Ambos simultaneamente são inalcançáveis. A Bloomberg deve saber muito bem que, ideologicamente e praticamente, o lulopetismo é avesso a qualquer possibilidade de progresso econômico efetivo, calcado na redução da máquina burocrática e na economia de livre mercado. Não negamos que certas posturas adotadas pela oposição podem atrapalhar soluções mais imediatas das agruras financeiras que vivenciamos – por culpa da situação, frise-se -, mas igualmente não podemos nos cegar às condições políticas, geradas por um governo incompetente e extremamente corrupto, que suscitou por livre vontade a divisão e o desentendimento entre os brasileiros, que sustentou todo tipo de retórica “demonizadora” das opiniões discordantes. Para atingir os propósitos nobres que a Bloomberg aponta como fundamentais para nos tirar do atoleiro – e que, não nos enganemos, não vêm por milagre, e não teremos soluções mágicas em curto prazo, seja qual for o cenário com que lidaremos -, precisaremos melhorar o cenário político, e não obteremos isso sob comando de uma presidente que não consegue ter dois dígitos de aprovação, em um sistema presidencialista. Ela tem que sair. Não se diz com isso, fique claro, que, se for esse o caso (e não a impugnação da chapa, que é outra possibilidade, embora talvez menos provável), entregar o poder a Michel Temer promoverá o “milagre”; mas, a despeito da oposição de certos setores radicais de esquerda, que certamente surgirá, acreditamos seja mais plausível promover negociações pragmáticas e vitais diretamente com alguém como ele do que com um governo totalmente desmoralizado, associado à marca carcomida, promotora do ódio ideológico e autoritária do PT e da ex-terrorista comunista que hoje finge presidir o país.

O CFR, por sua vez, é um think thank que apresenta posicionamentos bastante questionáveis, não é de hoje. Seus argumentos vão todos no sentido de descaracterizar qualquer evidência de responsabilidade de Dilma nas acusações que recebe, chegando a destacar as posições criminosamente reticentes de Fernando Henrique Cardoso quanto à sua queda. Incorre na ladainha de que o impeachment tende a enfraquecer a jovem democracia brasileira. Como apontou o filósofo e jornalista brasileiro Olavo de Carvalho, em artigo de 2006, um historiador ligado a este think thank, Kenneth Maxwell, simplesmente negou a existência do Foro de São Paulo, alegando que “nem os mais bem informados especialistas com quem conversei no Brasil jamais ouviram falar dele”. Olavo também alertou para a ocorrência de reuniões entre figuras do CFR e expoentes das FARC. Que razões temos para dar credibilidade a um órgão que difunde tamanho grau de ignorância acerca da realidade sócio-política latino-americana, quando se dispõe a falar do Brasil?

Com todo o respeito aos gringos, eles estão equivocados nesse parecer. Os jornalistas e jornais brasileiros, mais ainda, com o agravante de que convivem diretamente com o cenário de que se dispõem a tratar. O impeachment não se dará sem respaldo legal, e os pedidos movidos nesse sentido estão devidamente ancorados em argumentações jurídicas – se não estiverem, que se provem os erros abertamente! O desrespeito às contas públicas segue sendo praticado pelo governo. As condições políticas reclamam desesperadamente por uma substituição na Presidência, pela posse de uma figura que ao menos seja capaz de apaziguar os ânimos. Sabemos que a Operação Lava-Jato deve persistir e provocará, por efeito colateral, prosseguimento da intranqüilidade da classe política, mas isso é para o bem do Brasil, e não se pode cogitar de abortar a Justiça em prol de que se acomode nos mares cândidos da calmaria um sistema apodrecido. No entanto, precisamos de um fato novo, mesmo que sem garantias absolutas – não estou falando de revoluções ou aventuras, serei o último a defender isso. Mas precisamos de mudanças dentro da normalidade legal, e a única certeza absoluta que temos é a de que, perdendo a oportunidade de desferir um golpe moral retumbante no sistema lulopetista derrubando sua face pública na Presidência, não as atingiremos.

 

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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