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Cara d’um, focinho d’outro

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Nossos representantes são legítimos representantes do povo

Urna_eletronicaNo programa Painel, da Globo News, dirigido competentemente por William Waack, despontou um interessante tema em pauta: “Como vota o eleitor brasileiro?” Eu refaria essa pergunta assim: “Como votam os eleitores brasileiros?”.

Digo isso porque há vários grupos de eleitores, não um só, como pode dar a entender a formulação no singular, e estes vários grupos são mobilizados por diferentes ideologias.

Não sei se já identifiquei todas, mas algumas são de fácil reconhecimento por quem acompanha a vida política neste país.

O primeiro grupo, de uns 30 milhões de eleitores, é o do Bolsa Família.

José Dirceu, ao ser indagado pelo advogado Hélio Bicudo, quando o PT cogitava em fazer essa Bolsa, fez uma pergunta simples e direta: “Zé, o que é o Bolsa Família?” E recebeu uma resposta curta e grossa: “Bicudo, são 30 milhões de votos!”

Nunca ouvimos uma confissão tão sincera sobre uma grande compra de votos, coisa de dar inveja aos currais eleitorais dos velhos coronéis do sertão!

Essa quantidade é suficientemente grande para fazer diferença em qualquer eleição. Não se trata de um número irrelevante diante dos cerca de 130 milhões de eleitores.

Podemos agora indagar: Como votam os eleitores recebedores do Bolsa Família? E a resposta é de um óbvio ululante: votam em qualquer candidato para Presidente, desde que ele seja do PT.

Mas qual a ideologia desse grupo de eleitores? Ora, a ideologia dos que não se importam de ganhar pouco, desde que não tenham que trabalhar. Ela expressa muito bem a curta e mesquinha mentalidade de 30 milhões de brasileiros.

O Barão de Itararé a reconheceu numa de suas Máximas e Mínimas: “Na hora de comer, comer. Na hora de beber, beber. Na hora de dormir, dormir. Na hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro!”

A verdade, a dura verdade, que muita gente tenta escamotear é: O brasileiro não gosta de trabalhar. Nem de ganhar dinheiro quando isto exige grande esforço e honestidade. Dinheiro só agrada quando é fácil, ainda que escasso.

O Brasil é antípoda do Japão, tanto na geografia física quanto na mentalidade. É por isso que, nesta terra, onde tem japonês tem trabalho e prosperidade. Você já viu um mendigo nissei ou sansei?

BOLSAFamilia_chargeAo criar o Bolsa Família, o PT criou 30 milhões de pensionistas vitalícios e ainda se serve da jogada eleitoreira de dizer, nas campanhas presidenciais, que seus adversários vão acabar com esse programa.

E vão acabar porque não gostam de beneficiar os pobres. São “elitistas, conservadores e reacionários”.

Talvez qualquer um de nós, que estivesse vivendo na penúria e ignorância dos milhões de miseráveis, reagiria do mesmo modo. Parece que as aflitivas circunstâncias, neste caso, pesam muito mais do que o caráter dos indivíduos.

Com o Bolsa Família, 30 milhões saíram da miséria (pobreza absoluta, segundo a ONU) para a pobreza relativa, tudo indicando que ali vão ficar numa dependência eterna dos agradinhos do Estado-Babá.

E que político tem coragem suficiente para acabar com esse assistencialismo barato? Somente aquele que não dará a mínima importância, caso não seja eleito.

Outro grupo, não muito menor do que o primeiro, é o dos componentes do Estado aparelhado, seus beneficiários e agregados.

Ou seja: os que deste ou daquele modo, com mais avidez ou menos, mamam nas fartas tetas da dadivosa viúva, Ártemis, a deusa grega das mil tetas.

Lula conseguiu ser plenamente o que Getúlio Vargas tentou ser: o Pai dos Pobres e a Mãe dos Ricos.

Se o primeiro epíteto se justifica com o Bolsa Família e outras bolsinhas que o acompanham, o segundo se justifica com empréstimos camaradas do BNDES para grandes empresários e grandes obras em Cuba e Venezuela para empreiteiras aliadas do partido.

E é por isto mesmo que insisto em dizer que o PT não é um partido criptocomunista, como muita gente boa pensa, mas sim um partido tipicamente fascista.

Em relação aos miseráveis, populista. Em relação aos operários, peleguista. Em relação aos ricos, aliado das grandes corporações apaniguadas. Some-se a isto sua tendência centralizadora e aparelhadora do Estado. Trinta ministérios e milhares de aspones na Ilha da Fantasia…

O Estado é o governo e o governo é o partido. Um forte patrimonialismo para nenhum Max Weber botar defeito! E se isto não é fascismo, já não sei mais o significado deste termo.

Mas entre os miseráveis e os ricos está a classe média real. Não aquela que, segundo o IPEA, ganha entre 200 reais e 2000 reais e onde estão incluídos contínuos, pipoqueiros, flanelinhas, etc.

Refiro-me à classe média real, a baixa e a alta, aquela que ganha de uns 5 a uns 30 salários mínimos.

Esta classe se divide em relação às tendências do eleitorado. Uma pequena parte dela – composta de assalariados, profissionais liberais e pequenos empresários, basicamente – tem um verdadeiro horror do PT por seus frequentes escândalos financeiros e por sua incompetência em governar o País.

Estes são por volta de 10% desta mesma classe, pessoas que costumam ler, ser bem informadas e ter bom discernimento.

Como chegamos a esse número? É fácil: é o número aproximado daqueles que, em todas as eleições, não votam no PT nem que a vaca tussa! Aqueles que, em todas as pesquisas, consideram os governos do PT ruins ou péssimos.

Ao passo que os que acham que eles são bons ou ótimos já chegaram a uns 80%. Inacreditável! Uma peçonhenta mistura de crassa ignorância e atroz beocidade.

Isto para não falar no atávico mau-caratismo de Macunaíma, “o herói da nossa gente”, segundo o epíteto de Mario de Andrade, seu criador.

Isso mostra que o eleitorado cativo do PT não se resume aos eleitores miseráveis e ricos. Inclui também os votos de boa parte da classe média letrada.

Qual o perfil desses eleitores? Creio que a maioria deles é composta de grandes apedeutas e pessoas que não se incomodam nem um pouco com a deslavada corrupção e o desgoverno do País.

Eles costumam dizer: “Não é só o PT, a corrupção está em todos os partidos e sempre existiu”. E esperam com isso “dividir o mal pelas aldeias”, como se diz em Portugal.

São justamente esses eleitores indiferentes à, ou coniventes com a, corrupção que elegem representantes à sua imagem e semelhança.

voto_12345De onde se conclui, com irrefutável coerência, que os eleitos são legítimos representantes de seus representados. Eleitores de Bangladesh ou Costa do Marfim não poderiam mesmo ter representantes suecos ou finlandeses.

Cada povo tem o governo que merece, esta é a dura verdade! Qual a solução? Trocar de governo? Não, trocar de povo!

Chegamos assim a uma conclusão final: o maior problema do Brasil é o seu povo e o maior problema do seu povo é a educação.

E é imprescindível explicitar que por “educação” entendemos tanto a chamada educação formal, uma boa escolaridade, como também a chamada educação informal.

Países como a Finlândia e a Coreia do Sul possuem ambas. São países de excelente IDH e muito pequeno grau de corrupção.

A educação informal começa no berço e acaba no túmulo. É aquilo que Wilhelm von Humboldt chamava de Bildung (formação), formação do caráter dos indivíduos, consciência de seus direitos e deveres como cidadãos.

Um dos fundadores da Universidade de Berlim, Wilhelm von Humboldt era irmão do naturalista Alexander von Humboldt, o que visitou o Brasil para estudar sua fauna e flora no século XVIII.

Wilhelm foi educador, diplomata e filósofo político, autor de Ideen zu einem Versuch, die Grenzen der Wirksamkeit des Staats zu bestimmen. Publicado em sua versão final em 1851, e traduzido para o inglês com o título de The Limits of State Action.

livro_Humboldt_The_Limits_of_State_ActionEste livro notável exerceu grande influência sobre On Liberty (1859), do filósofo e economista John Stuart Mill, na esteira do também filósofo e economista Adam Smith.

É escusado dizer que, para Humboldt, a formação dos indivíduos como bons cidadãos começava com uma limitação dos poderes de ação do Estado reduzido às suas funções próprias enquanto Estado:

Garantir os valores da vida, da liberdade, da propriedade privada, bem como estimular a formação de cidadãos conscientes de sua individualidade como os indivíduos únicos que realmente são, estimular suas autotelia e criatividade em todos os setores da vida.

Ah! Com a hegemonia do PT, estamos muito longe de tudo isso!

Abre-se uma longa e penosa caminhada… Mas, como diz o vetusto e sábio provérbio chinês: “Uma longa caminhada sempre começa com um primeiro passo”.

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imagens: Wikipédia e charge do Chico; links atribuídos pela Editoria

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Mario Guerreiro

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

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