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Bolsonaro, Jornalismo e ideologia nas eleições

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Este assunto não é novidade, contudo, gostaria de enfatizá-lo uma vez mais: grande parte dos jornalistas – bem como grande parcela dos intelectuais – está sob efeito de um ópio ideológico que a arrebata da realidade. E esse fenômeno fica cada vez mais nítido a partir das entrevistas realizadas com o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). A propósito, mais do que discutir a qualificação de Bolsonaro, quero aqui abordar a desqualificação de certa espécie de jornalismo.

No que se refere à Bolsonaro, creio que falta preparo e mesmo oratória. A despeito da militância de muitos jornalistas, Bolsonaro se esquiva de perguntas que deveriam ser tratadas com mais refinamento. Não obstante, talvez seja daí que também venha sua popularidade. Quer dizer, Bolsonaro fala ao povo comum. E isso, evidentemente, não agrada ao jornalista que vive “doidão” de ideologia.

Por isso façamos a seguinte reflexão: é mais fácil eleger Bolsonaro, com seu discurso simples, direto e sem “freio na língua” ou um sociólogo com um assombroso repertório intelectual e que cite autores e conceitos diversos? Nem é preciso responder.

Além dessas entrevistas, vejamos o que escreveu Luiz Felipe Pondé em um dos seus artigos para a Folha: “Escravidão, ditadura, anistia, frases racistas, sexistas e similares, a população não se importa. Você pode ficar irritado, irritada, a inteligência pode espumar de raiva, gente bacana pode dizer ‘que absurdo’, mas de nada adiantará.” Eis um fato! Por exemplo: fale a respeito disso com aquele seu tio comum, que está longe dos livros e distante das discussões intelectuais, e veja o que ele dirá. Não é difícil que você ouça algo como: “Naquela época [ditadura] era melhor. Não havia essa ‘zona’ de hoje em dia.”

Sei de alguns pedantes que estariam tendo espasmos diante dessas palavras. Pedantes do tipo que agoniza quando percebe que o trabalhador braçal não quer saber do Manifesto do Partido Comunista e não está nem aí para o conceito já ultrapassado de mais-valia. Trabalhador quer ser patrão. Quem quer “socializar os meios de produção” é aluno da USP, como já dizia um meme antigo.

O povo real, aquele que paga boleto e fica “puto” com o preço da gasolina não dá a mínima para quem foi Vladimir Herzog! Desde que a roubalheira seja ao menos diminuída e a segurança pública consideravelmente melhorada, para o povo real tanto faz se Herzog se matou ou foi assassinado – ainda que os fatos deponham a favor da segunda tese.

Digo mais, o povo – você pode espernear, porém, isso não muda os fatos – não está preocupado com as comunidades indígenas nem com os quilombolas. Para a população que passa o dia pegando ônibus lotado com medo de ser assaltada, tanto faz se há ou não demarcação de terras para essa ou aquela comunidade. O povo comum – e não aquele que quer salvar o mundo por meio do Lattes ou do Facebook – não se sente nem mesmo minimamente culpado pela escravidão. Ele não quer saber desse papo de dívida histórica e nem vai dar atenção a ele. O povo sabe que a escravidão é um episódio lamentável, e claro que jamais irá defendê-la, mas ninguém vai chorar pelos cantos por causa do que foi feito lá trás. Para a maioria, o que importa é aqui e agora. Em outras palavras: a segurança pública e o preço da carne etc.

Veja. Não estou dizendo que isso não é importante. Penso que é também importante discutir Metafísica, Ética, História do Egito, etc., mas é fundamental que tenhamos a noção de que a maioria da população não está nem um pouco preocupada com os conceitos que dirigem tais discussões. Repito: não é isso que vai eleger ou deixar de eleger um candidato.

Quantas vezes você ouviu pessoas comuns reclamando dos excessos de Fleury ou do DOI-CODI? Quantas vezes o dito “povão” conversou sobre Marighella? Agora pense: quantas vezes você as ouviu indignadas porque algum bandido matou um inocente ou porque do preço da gasolina está nas alturas? Nem é preciso responder – de novo. Bolsonaro, claro, fala àqueles que não sabem quem foi Fleury nem Marighella, mas que viam os discursos retardados da Dilma, os crimes cometidos por Lula e ainda vêem o preço do combustível lançado ao céu.

Jornalistas entorpecidos querem que Bolsonaro fale de ditadura, de guerrilha, etc. Eis um dos delírios que derivam dessa composição química ideológica. O frenesi causado pelo uso desse tipo de narcótico é tamanho que temos a impressão de que, se pudesse, seus usuários pediriam ao candidato entrevistado ao vivo para definir o conceito de materialismo-histórico ou discursar sobre hegelianismo – se soubessem do que se trata, claro.
Recordemos novamente que Lula não se elegeu com discurso intelectual, mas populista. É por isso que a mídia, como bem definiu Rodrigo Constantino em vídeo, é o maior cabo eleitoral de Bolsonaro, que não tem um discurso erudito, mas popular.

Sendo assim, vejamos outra questão. Esse jornalismo vexatório que usa Wikipedia como referência – que passa vergonha até mesmo diante de um telespectador mediano – quer parecer preocupado com o povo. Porém, quando grande parte desse mesmo povo se manifesta de forma contrária ao mainstream midiático, consideram-no uma massa embrutecida. Logo, fica a pergunta: e se a chamada “massa” eleger Bolsonaro? Será que ela é composta de alienados ou é esse jornalismo viciado que perdeu a noção da realidade? Se o povo é “alienado” pelo futebol e pela novela, esse tipo de jornalismo é alienado pela ideologia e pela militância.

Em função disso, é preciso que essa turba de jornalistas, cujos cérebros já carcomidos apresentam lapsos de discernimento, corra para a clínica de reabilitação mais próxima. Talvez Bolsonaro não seja o que eu e você queiramos, mas é preciso reconhecer que é o que boa parte do povo quer.

Vejamos os próximos capítulos, ou, em outras palavras, os próximos efeitos desse ópio dos jornalistas.

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Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher é estudante de História na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Tem interesse por História das Ideias, Filosofia, Literatura e tradição dos livros clássicos.

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