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Até quando o Brasil exigirá visto dos americanos?

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EMBAIX1No momento que começo a escrever este artigo, uma Vice-Presidente de uma grande multinacional hoteleira e o Principal de uma das maiores firmas de design de interiores do mundo estão tendo dificuldades de conseguir um visto para me encontrar no Brasil. Eles virão visitar um projeto multi-milionário no qual estamos trabalhando juntos e que gerará algo como mil empregos no país pelos próximos 30 anos. Mas isto não é nada comparado ao que estamos perdendo.
Caso você não saiba o Brasil faz parte de uma pequena e seleta lista de países que requerem vistos para turistas norte-americanos, seja lá o que estes forem fazer no Brasil. Este time de nações inclui, em sua imensa maioria, inimigos históricos dos EUA como Coréia do Norte, Afeganistão, Irã, Iraque, Syria, Libano, China e Russia. Além destes, apenas alguns países da África. Nem unzinho da Europa e, em todas as Américas, apenas Brasil e Venezuela possuem essa política. Estar ao lado da Venezuela em qualquer coisa é sempre um mal sinal, mas sequer a Cuba comunista partilha desta insanidade – cidadãos americanos são (ou eram) proibidos de viajar para lá apenas pelo governo americano, mas a ilha de Fidel não discrimina detentores de dólares e estes são até muito bem vindos, no que diz respeito a Cuba.

 

Americanos não estão acostumados a tirar vistos, mas estão menos acostumados ainda com a dificuldade especifica para tirar vistos para o Brasil. Além da espera que pode chegar a meses, só possuímos embaixadas/consulados em algumas cidades dos EUA, que são, por característica, uma nação com muitas cidades grandes. Caso venha a trabalho, é necessário apresentar uma carta de uma empresa brasileira “se responsabilizando” pelo viajante. E caso o gringo ainda assim, queira muito vir ao Brasil, terá de pagar caro pelo visto (o mesmo que cobram dos brasileiros que querem tirar visto para os EUA, apesar da procura significativamente menor). Depois disto, deverá deixar seu passaporte por alguns dias com a autoridade brasileira, o que requer bastante coragem, uma vez que o americano médio enxerga o governo brasileiro mais ou menos como nós enxergamos o governo do Zimbabwe. E só posso dizer que eles estão cobertos de razão.

 

A justificativa para tal expediente é o tal do princípio da “reciprocidade”. Este princípio diz que um país tem o direito de adotar com o outro a mesma medida que este adotar com ele. Portanto, se os EUA exigem visto para brasileiros (como fazem com diversos países), o Brasil devolve a gentileza também exigindo visto de turistas americanos. Ou seja, na cabeça do Ministério das Relações Exteriores, ambos os países têm as mesmas realidades, objetivos e problemas com seus turistas. Ou você não sabia que, todos os anos, o Brasil enfrenta um enxurrada de americanos imigrando ilegalmente para virarem baby-sitters e camareiras em terras tupiniquins?

 

É quase impossível calcular o prejuízo que tamanha obtusidade causa à economia brasileira. O Office of Travel and Tourism Industriesestima que os norte-americanos fazem algo como 70 milhões de viagens internacionais por ano (algo como 200 mil viagens/dia)! A magnitude destes números nos fazem perceber o quão ridículo é o montante de turistas que o Brasil recebe anualmente oriundos dos EUA – algo entre 600 e 700 mil, segundo o Ministério do Turismo. Ainda assim, são nossos segundos maiores visitantes, atrás apenas de nossos vizinhos argentinos.

 

Mas qual seria a razão e quem teria algo a ganhar com uma política tão tacanha? Por que continuamos tentando barrar desesperadamente a entrada de dólares que gerariam empregos e trariam divisas importantes ao país? Uma mente sensata só pode imaginar que seja megalomania política, o resultado de uma política externa cuja ideologia é subordinada ao Foro de São Paulo, ou uma combinação de ambos.

 

Seja como for, há uma esperança no fim do túnel e ela vem de fora. A superioridade americana se configura até mesmo no pragmatismo desta questão e hoje há uma discussão ativa para a remoção da necessidade de visto de turismo para países como Brasil, Argentina e Coréia do Sul (os dois últimos, não exigem vistos de turistas americanos, vale lembrar). O motivo? MONEY TALKS: os brasileiros gastam anualmente algo como US$ 11 bilhões nos Estados Unidos e esta cifra aumentou cerca de 560% nos últimos 10 anos. Como resultado, a indústria hoteleira azul e vermelha começou um pesado lobby no Congresso pelo relaxamento das exigências. Na terra do Tio Sam, turismo é coisa séria: considerado uma das maiores indústrias do país, movimenta todos os anos mais de US$ 2,1 trilhões (algo como 15% de todo PIB americano). Também acrescenta aos cofres públicos US$ 140 bilhões e emprega 15 milhões de americanos.

 

Nação rica deve ser o Brasil, que parece poder se dar ao luxo de esnobar o dinheiro da maior economia do mundo. Aliás, em tempos de recessão e ajuste fiscal, estava aí uma ótima medida indolor para o ministro Joaquim Levy, com apenas uma canetada, arrumar alguns belos trocados e ainda dar uma significativa bombada na combalida economia brasileira. Colaborar com o empresariado nacional e trazer reservas para o Brasil parecem medidas bem mais eficientes e sensatas do que a criação infinita de impostos. Já passou da hora do governo brasileiro começar a entender a distinção entre gerar e tomar riqueza.

 

PS: Antes da conclusão deste texto o problema do visto dos executivos mencionados foi resolvido. Conseguimos encontrar um despachante em Nova York que diz ter contatos na embaixada brasileira e obteve o famigerado visto no mesmo dia. A parte mais difícil foi tentar traduzir “despachante” para os americanos, uma vez que esta função simplesmente não existe por lá. Parece que arrumamos um novo produto tipo exportação: o “jeitinho brasileiro”.

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Paulo Figueiredo Filho

Paulo Figueiredo Filho

Cursou Comunicação Social e Economia na PUC-Rio e é bacharel em Filosofia. Teve significativa passagem pelo setor público como assessor especial e chefe de gabinete no Governo do Estado e na Prefeitura do Rio de Janeiro. De volta à iniciativa privada, hoje atua como CEO do grupo Polaris Brazil, à frente de empreendimentos imobiliários e hoteleiros de porte internacional, incluindo o Trump Hotel do Rio de Janeiro.

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