As Guerras da Independência do Brasil
Introdução
O 7 de Setembro carrega o simbolismo de ser a data de nascimento do Brasil como um país soberano. Essa data também sempre foi capaz de reunir — e unir — os brasileiros em belas demonstrações de orgulho de serem… brasileiros. Porém, o esquecimento da própria história deu lugar a sentimentos desagregadores no seio da nossa sociedade.
Ao recuperar a história de nossa independência, devemos lembrar que ela não foi obtida por mera declaração formal. Ao contrário, a liberdade teve que ser conquistada em um sangrento processo que durou seis anos, de norte a sul do país, com milhares de brasileiros derramando sangue para fazer valer a sua vontade.
Independência da Bahia
Muito antes dos acontecimentos do ano de 1822, já estava claro para Portugal que surgia no sudeste brasileiro um sentimento avesso às ordens emanadas de Lisboa. Diante desse cenário, tropas portuguesas concentravam-se mais fortemente ao norte do Brasil para uma possível recolonização que se fizesse necessária.
A Bahia era um desses polos de concentração estratégica. Aliás, a província ficou ao lado de Portugal quando da Revolução Liberal do Porto e se desligou do Rio de Janeiro em 1821. Porém, foi em fevereiro de 1822, com a ordem portuguesa de trocar o governador, que uma guerra civil eclodiu naquela província. De um lado, comerciantes portugueses apoiados por tropas expulsas do Rio de Janeiro e da Cisplatina; do outro, proprietários de terra brasileiros apoiados por tropas enviadas por D. Pedro.
Voluntários vindo de Pernambuco, Alagoas e Sergipe engrossaram as fileiras dos combatentes baianos. Pelo mar, o mercenário escocês Almirante Cochrane realizava o cerco a Salvador. Após meses de batalhas — e centenas de mortos de ambos os lados —, as tropas portuguesas bateram em retirada para o outro lado do Atlântico e, em 2 de julho de 1823, os baianos conquistaram a sua independência.
Batalha do Jenipapo
O Piauí era outra província estratégica nos planos portugueses de recolonizar o Brasil — ou, na pior das hipóteses, manter a posse de metade norte do território, denominando-o Estado do Grão-Pará.
Em outubro de 1822, chegaram as notícias do “grito do Ipiranga” naquela província, o que levou a elite da vila de Parnaíba a aclamar D. Pedro imperador. A reação dos leais a Portugal foi imediata e 1,5 mil soldados marcharam da capital Oeiras em direção ao litoral para suprimir os independentistas. Porém, eles haviam fugido em direção ao Ceará para formar o “Exército Libertador do Ceará e Piauí”.
Com o exército formado, os brasileiros engajaram a tropa portuguesa no interior do Piauí, utilizando o leito seco do rio Jenipapo como trincheira. A Batalha de Jenipapo foi um massacre. Brasileiros com pouca experiência em combate e mal equipados enfrentaram soldados de 1ª Linha e armamentos superiores. Porém, em uma ação que surpreendeu o inimigo, os independentistas atacaram a linha de suprimentos da tropa portuguesa e os forçaram a se retrair até o Maranhão.
Os portugueses esperaram por reforços, os quais nunca chegaram devido a mais um bloqueio naval realizado pelo Almirante Cochrane. Foram derrotados e o Piauí, enfim, aderia à Independência.
Maranhão e Grão-Pará
As províncias mais setentrionais do Brasil, Maranhão e Grão-Pará eram as mais ligadas comercialmente à Europa. Portanto, não surpreendia que tivessem ignorado totalmente a Independência. Tudo mudou com a vitória dos brasileiros na Batalha de Jenipapo.
Preocupadas com o movimento independentista batendo à porta, aquelas províncias se armaram e reclamaram reforços, em vão. À medida que o Exército Libertador marchava pelo Maranhão, conseguiam a adesão de proprietários de terra, escravizados, libertos e agricultores. É verdade que motivados muito mais pelo temor de o sentimento independentista ser interpretado de outra forma pelos escravos.
Os portugueses e as tropas leais a Lisboa, vendo o número de insurgentes crescer, dependiam dos reforços que deveriam chegar por mar. Porém, mais uma vez os navios de Cochrane ameaçavam bombardear os portos e aos portugueses não restara outra opção que não a rendição para os brasileiros.
Guerra da Cisplatina
O último embate decorrente da Independência do Brasil se deu no extremo sul do país, na Cisplatina.
Incorporados ao Império Brasileiro muito recentemente por D. João VI em 1817, os orientais da bacia do Prata se dividiram. Enquanto uns eram favoráveis ao Brasil, outros preferiam ser incorporados às Províncias Unidas do Rio da Prata (a atual Argentina). Havia, ainda, aqueles que clamaram pela própria independência.
Entre 1825 e 1828, ocorreu a Guerra da Cisplatina, na qual tropas brasileiras enfrentaram os uruguaios apoiados pela Argentina, tudo observado de perto pela Inglaterra. Foi com a intervenção diplomática dos ingleses que se deu o fim da guerra que se arrastava num impasse bélico. Foi colocado um “algodão entre cristais”, ou seja, reconhecido o Uruguai e instituída a livre navegação pelo rio da Prata.
Assim encerravam-se, após a morte de milhares de brasileiros, as guerras motivadas pelo Grito do Ipiranga.
Conclusão
Registre-se que, além das Guerras da Independência, outras batalhas foram travadas para manter a unidade territorial. O Brasil seria muito diferente caso a Confederação do Equador (1824), a República do Piratini (1837–1845) e a Revolução Acreana (1900–1903), tivessem saído vitoriosas.
É por sua história que a nação brasileira deve transbordar seu nacionalismo para além da “pátria de chuteiras”. A brasilidade também não deve se limitar a um simples orgulho geográfico ou a uma exaltação pueril de nossas riquezas naturais. São os laços culturais — construídos por uma história comum — capazes de criar o sentimento de pertencimento a uma comunidade, seja ela local, regional ou nacional.
Há 200 anos, milhares de brasileiros não temeram as ímpias falanges que os desafiaram. Muitos morreram para tornar a Pátria livre. É necessário lembrar essa luta pela liberdade. É necessário lembrar o que nos torna brasileiros. Hoje e sempre.