Arnaldo Jabor segue progredindo

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RODRIGO CONSTANTINO *

Arnaldo Jabor tem tido a coragem de mudar, de rejeitar seu passado comunista, de reconhecer as tolices de sua juventude, e de abraçar bandeiras cada vez mais capitalistas. É verdade que ainda faz isso com certa timidez, e mantém o ranço antiamericano latente. Mas o progresso é inegável. Em sua coluna de hoje isso ficou mais evidente ainda. Nela, ele diz:

Na tradição do “ideologismo” brasileiro entranhado nas mentes, a ideia de complexidade é vista como “frescura” — macho mesmo seria simplista, radical, totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está justamente no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.

A ideia de uma solução “geral”, total para o crescimento da economia brasileira é a herança dos velhos tempos da esquerda centralizadora. Para haver progresso, há que esquecer “planos” ou algo assim; temos de abandonar a ideia de uma política central, como nos planos quinquenais da URSS ou nos “saltos para a frente” da China de Mao. Somente uma política econômica indutiva, descentrada e pragmática com mudanças possíveis, pode ir formando um tecido de parcialidades que acabem por mudar o conjunto. É isso que os jovens propõem.

A chave é: “ações indutivas”, conceito que é a fobia do pensamento filosófico de tradição europeia, continental. Bom mesmo sempre foi um doce silogismo aristotélico, com premissas e conclusão. Ou então uma boa causa universal que abranja tudo, o todo, o uno, do qual se deduz o particular. É uma herança da religião e do mito. Já o pensamento pragmático tem uma tradição mais anglo-saxônica (Hume, Locke, J.S. Mill), principalmente Francis Bacon e depois William James. Não é por acaso que o pensamento pragmático nas ciências e na filosofia acelerou muito mais o progresso, saído de dentro do ventre da revolução comercial e conceitual inglesa. Esta, sim, foi a nascente do moderno pensamento filosófico e político. Suas ideias regeram o ritmo do capitalismo e dominaram o mundo.


Tenho ressalvas em relação ao Pragmatismo enquanto filosofia, mas admiro a visão de gradualismo por tentativa e erro do progresso institucional presente no pensamento de David Hume, citado pelo autor. Este, assim como Vico, iria influenciar as ideias de um gigante do liberalismo moderno: Hayek. Esta linha de pensamento rejeita as utopias, as certezas absolutas que vão solucionar todos os males da sociedade, as respostas prontas, definitivas.
Popper iria resumir a ideia em seu conceito de a Grande Sociedade Aberta. Algo em construção, eliminando erros mais do que apresentando fórmulas perfeitas. Esse intercâmbio com o mundo nos beneficia. Jabor finalmente parece ter entendido isso, ainda que não consiga deixar de dar uma espetada no “mercado”, ou na “globalização”. Ele diz:

A chamada globalização da economia é um bonde carregado de problemas? Sim. Pode nos jogar num vazio de excluídos? Pode. Mas teve a vantagem de nos botar em contato com um pensamento mais livre. Isso foi a maior novidade: abandonar o simplismo totalizante e paranoico da tradição do marxismo vulgar que nossa esquerda adotou. A globalização rompeu as paredes da “taba” imaginária em que vivíamos. Eu tinha um orientador comunista que dizia que tudo era culpa do “imperialismo americano”. Nós éramos vira-latas tupiniquins à mercê do temível mundo externo. Hoje sabemos que a causa de nossa miséria somos nós mesmos.

O apagamento de fronteiras culturais com o mundo nos tirou de um sonho de futuro e nos colocou mais no presente.


A esquerda costuma ser fechada, protecionista, rejeitar a liberdade presente nessas trocas voluntárias entre indivíduos do mundo inteiro. Ela gosta de olhar para fora em busca de culpados por nossos problemas. Mas os culpados somos nós mesmos! E a mudança começa por aqui, justamente se abrindo mais e mais para o mundo, para absorver as boas ideias. Jabor conclui em tom mais otimista do que seu padrão recente:

Melhoramos muito com a ideia do “possível”, em vez da bravata das utopias. E isso não é covardia ou omissão; é sabedoria e prudência.

A tal “mão invisível” do mercado pode nos dar bananas, claro, mas “mercado” pode ser um termômetro dos perigos de gestões voluntaristas como temos hoje no Brasil e pode questionar certezas burras e relativizar um poder público que tende para o autoritarismo. Mudar o país tem de ser por dentro, e não uma intervenção mágica ou ditatorial.

A democracia brasileira, se for mantida, vai expelindo os micróbios que a atacam.

Por isso, neste artigo-cabeça há esperança e otimismo. Muitas novidades que nos parecem detestáveis podem estar trazendo novos conceitos operadores que ajudarão a modernizar o país.

* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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