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A lamúria dos petistas arrependidos e o filho bastardo de Chicago

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levy“Maldito Aécio, malditos tucanos que esse povo burro elegeu de novo! Agora estão tentando cortar gastos, aumentar imposto… Esses neoliberais malvados comedores de criancinhas! Não tem pena de pobre! Se as pessoas tivessem votado no PT…” Muitos dos que promoveram um verdadeiro terrorismo contra as candidaturas oposicionistas na eleição presidencial de 2014, acusando os riscos de medidas de austeridade e aumento da carga tributária, provavelmente estavam guardando essas palavras para soltar, a esta altura, em um novo governo do PSDB. Pois bem; o destino quis que engolissem essas palavras, provando do veneno amargo com que o lulopetismo colhe o seu próprio legado, como demonstra o novo pacote de propostas de corte orçamentário divulgado ontem.

Reelegeu-se Dilma Rousseff. Diante da desastrosa e irresponsável gastança e dos desvios intencionais para “maquiar” os malabarismos com as verbas públicas, o governo começou desesperadamente a tentar ver aprovadas, mesmo depois do clima de ódio que sedimentou durante esses mais de dez anos e elevou substancialmente na campanha, medidas de, vejam só, austeridade! O Congresso, enfurecido, não deu e continua não dando mostras de que vai cooperar com essas medidas que, se, em parte, podemos dizer que seriam inevitáveis, nem por isso deixam de constituir um estelionato eleitoral, por fazerem demolido o cenário fantasioso desenhado pelos marqueteiros do partido.

Visando cobrir o rombo de R$ 30 bilhões que havia sido previsto no Orçamento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou, como dissemos, o novo conjunto de medidas. Algumas delas: suspensão de todos os concursos públicos nos três poderes da República; adiamento do reajuste dos servidores públicos, que passaria de janeiro para agosto do ano que vem – e de benefícios previstos, como o chamado “abono de permanência”, concedido a servidores que poderiam se aposentar, mas seguem trabalhando -; a aplicação do teto salarial para o funcionalismo público, prevista na Constituição, mas não aplicada; redução de despesas de custeio, como aluguéis e passagens aéreas dos servidores públicos; cortes no Minha Casa Minha Vida, nas obras de infraestrutura do PAC, nos gastos com a Saúde (segundo Levy, com garantia de recursos para os programas prioritários) e na subvenção de preços agrícolas.

Podemos concordar em que são medidas impopulares, como inevitavelmente ocorre com medidas de austeridade, em especial em um país com tradição estatizante. Muitas delas, porém, ainda que contrariando sentimentos e aspirações nas mentalidades populares moldadas por esse estado de coisas, poderiam ser coerentemente defendidas por um liberal, diante da máquina pública obesa que sustentamos, manuseada por uma classe de parasitas e cleptomaníacos. Ainda assim, a grande medida que todos esperavam ver, a redução de ministérios, recebe ali uma menção extremamente vaga, sem a identificação desses ministérios. Não fica claro se ela seria uma medida efetiva ou inócua. O governo não age com transparência quando se trata de “cortar na própria carne”, e sabemos perfeitamente que, se recorre a esse choque de realidade, é por agonia pragmática, e não por convicção. Mais anda, e talvez mais importante: como algumas entidades empresarias sabiamente apontaram após o anúncio, as medidas em geral são companhias acessórias do grande objetivo, que é apostar na volta absurda da CPMF.

Isso mesmo. O imposto, cuja recriação acreditávamos ter sido abortada por Dilma Rousseff, volta à tona no pacote de Levy. Quando o país já está sufocado e sem perspectiva, a brilhante saída, no interesse ilusório de “arrecadar” mais, é prejudicar a produtividade das empresas e do mercado, avançando ainda mais sobre a geração de riquezas e, ao mesmo tempo, o bolso do povo e do trabalhador. Mesmo uma pessoa com pouco ou nenhum conhecimento de economia pode perceber isso com facilidade. No entanto, a despeito de ter sido chamado de “liberal”, pelas suas origens na Universidade de Chicago, do grande economista liberal Milton Friedman, Levy prefere ignorar isso, ainda que matraqueie que seu desejo é que a “velha nova” CPMF seja “temporária”.

Como muito bem pontuou Rodrigo Constantino em sua coluna de Veja em 6 de setembro último, nada é mais permanente do que um projeto “temporário” de governo – que o digam as nossas “cotas raciais”. Ao apostar em uma receita que sabidamente constrange e castra a produtividade, a figura apagada, contida, nada firme e expressiva, de fala monocórdia e insossa do ministro da Fazenda colabora com o governo do PT na destruição de nossas melhores expectativas. Falta a Levy, como falta a Dilma, um ingrediente essencial para que as reformas, boas ou más, sejam engolidas pela população – e pelo Congresso -, mesmo que elas sejam naturalmente impopulares: a capacidade de construir uma narrativa que se comunique com o povo. Em outras palavras, a credibilidade, o mínimo necessário para persuadir, o reconhecimento total e sincero das mentiras e do estelionato cometido. Sem isso, procurando posar de vítimas de uma oposição insensível e de heróis bem-intencionados, Dilma e seu fantoche pseudo-liberal, um filhote bastardo de Chicago, não atingirão seus intentos.

E, é claro, lamentarão aqueles petistas arrependidos, que, ao menos, já são capazes de reconhecer que colaboraram para essa vergonha. Alguns deboches aos eleitores de Dilma que acreditaram que a oposição faria o que hoje o governo tenta fazer pulularam na Internet nesta segunda-feira. A essa altura, porém, pouco importa quem é culpado, quem é inocente. Ao fim das contas, é bom que os petistas se arrependam mesmo, que assumam a maldade que fizeram, nesse caso por ingenuidade, com o próprio país – porque, quanto aos que fizeram com total compreensão do que faziam, pouco podemos dizer em sua defesa. Em verdade, estamos todos no mesmo barco: uma nau desgovernada, que perdeu o bonde da história. Perdemos, na última década, uma oportunidade preciosa que sabe-se lá quando voltará a cair em nosso colo. Agora, resta amargar, levantar a cabeça e tentar salvar o nosso país.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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