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A disrupção nas cadeias globais de suprimentos

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É lógico que a “mágica” da produção indireta e competitiva do comércio internacional não desaparecerá, para o bem dos consumidores, especialmente dos mais pobres. A corrente de comércio internacional – volume de exportações mais importações -, que já vinha encolhendo na última década, sofreu duros golpes com a pandemia, com a guerra comercial entre EUA e China e com a narrativa populista e falsa do protecionismo.

Neste momento, a guerra na Ucrânia passou a atuar, sem dúvida, como um divisor de águas nas estratégias de formação de cadeias globais de suprimentos das empresas. Se anteriormente à invasão da Ucrânia já havia se iniciado a remodelação das cadeias globais de suprimentos, em função do distanciamento entre China e EUA, com a presente guerra, as empresas ocidentais deverão reduzir ainda mais a dependência de materiais e de produtos acabados da China e, compulsoriamente, do petróleo, do gás e de produtos agrícolas – grãos – da Rússia. A geografia mundial parece desenhar-se para dois principais eixos: um ocidental e um com o protagonismo da China e participação da Rússia.

Sob o ponto de vista microeconômico, os executivos das empresas seguramente deverão remodelar suas cadeias globais de suprimentos, implementando estratégias de fornecimento a partir de fontes mais próximas e/ou localizar a produção de determinados itens.

Uma coisa parece certa: as empresas terão que planejar e implementar factualmente estratégias e ações efetivas de redução de exposição aos riscos globais, a fim de se tornarem mais resilientes e capazes de responder mais rapidamente à demanda e às necessidades locais. O gerenciamento de risco nas cadeias independe de se o fornecimento é global ou local, sendo necessário avançar para um segundo nível – fornecedor do fornecedor – e mudar a natureza da colaboração e troca de informações com os fornecedores de primeiro nível.

Há vários itens candidatos a se moverem para mais próximos do ocidente ou retornarem para “a casa”. Em especial, desde a década de 1990, muitas empresas migraram a fabricação para a China, visando a basicamente cortar custos.
Contudo, algumas dessas organizações não atentaram para a minimização do custo total de compra, visto que há custos para a coordenação de transporte, armazenamento, inventário etc. Custos de gerenciamento e complexidade aumentam nas operações globais. Por exemplo, existem muitos processos para monitorar nas compras da China, tais como o da necessidade de se avaliar a qualidade dos produtos antes do embarque das mercadorias, os custos de estoque, entre outros. Cabe destacar o expressivo aumento dos fretes internacionais.

O próprio avanço das tecnologias de manufatura, a robótica flexível e a automação possibilitam remodelar o suprimento para mais próximo e/ou para a produção interna. O fato é que muitas empresas não levam em conta todas as variáveis para decidir onde colocar a produção e/ou buscar parceiros de negócios.

Hoje, notadamente, outras variáveis estratégicas passam a embasar as decisões empresariais de produção. Além do baixo custo, o acesso a recursos qualificados, a qualidade da infraestrutura e a proximidade com consumidores assumem papel de protagonismo. Portanto, mesmo com um eventual aumento de preços devido à reestruturação das estratégias de suprimentos, a necessidade competitiva de aumentar a velocidade de atendimento do mercado será essencial para definir onde produzir bens. Assim, em determinadas situações, tal velocidade determinará o local de produção, que em muitas situações deverá ser local.

As empresas terão que trabalhar arduamente para desenvolver novos produtos e novas fontes de fornecimento. Aliás, nesta direção, precisarão do auxílio de políticas governamentais estratégicas e urgentes. Empresas e governos demandarão grandes inovações.

Evidente que a racionalização, ou seja, a manutenção de custos totais baixos, é fundamental para as organizações. Porém, estas devem ir além da questão de custos, desenvolvendo fornecedores que disponham de capacidades tecnológicas em nível de processos e de produtos. Não menos importante é a imperiosa necessidade de se pensar no atingimento de um equilíbrio ótimo em termos de dependência versus independência de fornecedores.

Nos anos 70, as empresas eram grandes e robustas, integradas verticalmente, ou seja, produziam grande parte de suas necessidades. Nos anos 80, com o início efetivo das mudanças na manufatura e na implementação de novos modelos de gestão, e a partir dos anos 90, elas seguiram estratégias como a terceirização e a manufatura enxuta, a fim de cortarem custos e ficarem mais flexíveis e competitivas.

Não, não penso que haverá uma total “des”globalização – embora haja o desejo demagógico de políticos e de certos “empresários”, mas certamente veremos um movimento de intensificação das verticalizacões e, sobretudo, um rearranjo nas cadeias globais de suprimentos impulsionado pela nova geopolítica. Por tal rearranjo, claro que haverá um incremento das estratégias de localização – produção interna -, muito embora essa não seja uma resposta possível para todas as situações.

Seguro é que o gerenciamento efetivo de riscos de suprimentos terá que aumentar sensivelmente nas empresas, conjuntamente com um maior desenvolvimento de fontes e de fornecedores para além da China, proporcionando uma série de oportunidades para o ambiente empresarial ocidental. Se há desafios e ameaças para as cadeias globais de suprimentos, também existem grandes oportunidades; tomara que o Brasil e as empresas nacionais passem a participar e a abocanhar tais brechas.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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