A desculpa é Trump, o motivo é o conservadorismo

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Estamos vivendo os rascunhos de um roteiro de distopia… O que vimos neste final de semana é algo estarrecedor, de muitas formas. Ora, as principais redes sociais, de maneira cartelizada, no melhor modelo fascista de outrora, resolveram simplesmente cancelar Donald Trump. Naquela euforia adolescente, espalhafatosa, os velhos “jornalistas” Ruy Castro e Ricardo Noblat se lambuzaram nas fezes de suas ideias, desejando que Trump e Bolsonaro se suicidassem. Um show de horrores tirânico regado a naftalina e censura. Obviamente, as redes sociais acharam normais as vontades expressas dos nossos jornalistas, tudo certo, segue o jogo – e relaxa: como esses dois existem inúmeros outros que, em seus círculos privados, já tramam aquela aglomeração em comemoração à censura que pode.

Para entender o que está acontecendo, não podemos levar em conta a especificidade da exclusão da conta pessoal de Donald Trump. Devemos entender o enredo e, para isso, é preciso olhar panoramicamente. Não é de hoje que conservadores do mundo inteiro vêm sofrendo represálias das Big Techs, abertamente progressistas e dadas às cartilhas identitárias. Vejam, eu não estou falando de ET’s e de illuminatis, eu estou falando de algo que é óbvio, que já foi afirmado, reafirmado e confirmado até pelo Zuckerberg, no Senado americano. O Vale do Silício, tenda do progressismo das Big Techs, é uma espécie de laboratório de bizarrices políticas e morais do progressismo mundial. Ao que tudo indica, o novo experimento dessas empresas se trata de limitar a liberdade de expressão daqueles que não concordam com as pautas oficiais dos progressistas de gênero neutro; cercear deliberadamente a liberdade de expressão com um sorrisinho no rosto, falando de empatia e inclusão de pinchers transexuais – a nova moda ambientalista do reino do mundo digital.

Não se retira a voz de um dos principais expoentes da resistência conservadora nos EUA a fim de dar um castiguinho a alguém. Veja, eu sou conservador, e como conservador penso ser lastimável a invasão ao Capitólio ― pivô de toda essa situação ―, as mortes e até a atuação de Trump. O conservadorismo se pratica numa postura de prudência e recusa a atos de revolução; a arte da via da sensatez é algo que vai dos conservadores de Edmund Burke, Rui Barbosa a Ronald Reagan. Quando tal via não é encontrada, a saída sempre será a de reformar, ganhar gordura popular e expor as vergonhas dos opositores, não invadir, destruir e atacar. O presidente americano instigou a ação de seus seguidores sim; não tenho elementos para afirmar que ele quisesse que seus seguidores invadissem daquela forma o Capitólio. Até tentou remediar a situação após a bacia transbordar, mas aí já era tarde. A sua falta de prudência ― por querer ou não ― descambou naquela invasão, acho que isso não é preciso dizer. Trump tinha que ser punido sim por sua ação impensada, talvez até com o impeachment?! Mas calá-lo?

O ditador iraniano instigou a eliminação de Israel no Twitter; o perfil do ditador Nicolás Maduro, que matou a sangue frio o seu povo a fim de manter sua dinastia socialista necrófila, continua ativo sim, obrigado; a embaixada chinesa nos EUA chegou a citar a reeducação das mulheres uigures ― uma minoria muçulmana altamente oprimida pelo Partido Comunista chinês naquelas bandas ― com o intuito de que elas deixassem de ser “fábricas de bebês”, um verdadeiro sopro eugenista na cara de todos, postado no Twitter. Só que isso parece não “ferir as normas da Rede”.

Outras barbaridades mais poderiam ser encontradas nas redes, sob todos os guarda-chuvas ideológicos possíveis; no entanto, o problema não é a barbaridade dita em si, mas o lado em que você está. Isso é o determinante para saber se você é um extremista ou um influencer altruísta. A falta de democracia do lado progressista é vista como heroísmo revolucionário, um romântico ataque contra os “poderosos” capitalistas. Um engodo de dar sono, diga-se de passagem, já que são os hipercapitalistas que mantêm essas Big Techs. Meus amigos, o problema não está em ser “antidemocrático”, “violento” ou “abjeto”. O problema é ser conservador. Entenderam?

E se eu bem conheço o ritmo de crescimento de uma tirania, ela começa velada, com boas desculpas, com aquela pitada cheirosa de humanismo bem-intencionado. Ora, se Trump está a destilar seu ódio e instigando seu gado a avançar contra as cercas, por que não o calar? A pergunta é: quem tem essa balança divina do silêncio compulsório? A quem foi dada essa virtude dionisíaca, acima das outras virtudes, de calar aqueles que não se adequam às diretrizes e sensibilidades alheias?

A liberdade de expressão ― até me canso em dizer isso repetidamente ― é, ao mesmo tempo, a mais frágil e a mais elementar pilastra de sustentação de uma sociedade minimamente aprazível de se viver.

Acreditar que o Twitter, Facebook, Google estão fazendo isso porque “houve uma quebra em suas diretrizes” é idiotice. Deveriam vir a público e abrir o jogo, dizer que se trata de uma pressão internacional, de pressão de investidores, ou até mesmo uma escolha editorial. Redes que veem em Trump uma ameaça à paz mundial, mas assistem passivamente a um ditador iraniano destilar sua ânsia muçulmana contra judeus, ou que ostenta embaixadas chinesas dizendo ao mundo que testará seu novo método eugenista, não deveria por honra falar em “quebra de diretrizes”.

Se há extremistas ao lado de Trump…? É óbvio. Cite algum século em que passamos sem ter extremistas, conspiracionistas e loucos. Isso não vai acabar porque uma rede social resolveu excluir contas. Faça o favor, paremos com essas concepções tolinhas, ingênuas. Esse papo não convence alguém que tenha mais de 11 gramas de cérebro funcional.

Respeitando as leis civis, todos devem ter o direito de expressão. Não há um antídoto contra falas extremistas, a não ser deixar o extremista falar enquanto os sensatos melhoram seus argumentos em prol da sensatez. Polícia das ideias só cabe em uma sociedade tirânica, e tal sanha policialesca jamais recua. Sempre há uma ideia a mais a ser excluída; uma frase a mais que não se adequou; um bode expiatório que ainda não foi sacrificado; um grupo que não merece a liberdade de se expressar, o qual logo também não merecerá a liberdade de existir. Exagero meu? Dê uma olhada no século XX.

Já está desenhado, olhem as grandes ditaduras do século passado; os EUA se destacaram por não cercear as ideias de ninguém, mantendo um clima de liberdade baseado no descrédito dos loucos, pela promoção da prudência e pela punição civil dos extremos ― respeitando sempre todos os processos legais. Algoritmos stalinescos não trarão segurança, paz democrática, mas antes um clima de emudecimento compulsório e censura expansiva.

A guerra do Vale do Silício é contra o pensamento conservador, não contra Trump. Os extremistas de direita continuarão a existir fora dessas redes; e os extremistas de esquerda, dentro delas. Eis a diferença. Agora, só há espaço para uma trupe de idiotas. No fundo, ronda aquela ideia: se o copo da esquerda transbordar um pouco, é compreensível, um pouco de coerção a ideias é sempre necessário ― dizem eles.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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