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A demografia perversa: (primeira parte)

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Este artigo é resultado de uma palestra proferida perante o Conselho Técnico da CNC em 31/10/2017:

I – INTRODUÇÃO

Alerto que vamos, hoje, transitar por tema delicado. Em tempos atuais, a ciência, a busca da verdade dos fatos, tem se curvado à ditadura do politicamente correto. Somos, em razão de gênero, etnia, origem social, nacionalidade etc., diferentes e temos diferentes aptidões. Mas, reconhecer diferenças e melhores aptidões passou a ser pecado imperdoável. Somos quase que forçados a rejeitar comparações que possam conferir a qualquer grupo de pessoas uma melhor qualificação para o atingimento de determinados propósitos.

O tema da “demografia perversa”, assunto desta palestra, ao apontar para o fato de que as populações crescem ou decrescem em locais errados e de que certos fluxos migratórios são problemáticos para determinadas nações, se insere no rol dos assuntos quase que proibidos pela nova forma de censura.

Como exemplo do que estou falando sobre a ditadura do politicamente correto, um caso passado em Harvard merece a nossa atenção. Larry Summers, ex-reitor da Universidade e professor catedrático de Economia, respaldado em forte evidência empírica, declarou que a análise dos dados lhe permitia concluir que os homens são mais aptos para as Ciências Exatas e que as mulheres mostram maior aptidão para as Ciências Sociais. Bastou dizer isso para que perdesse rapidamente seu alto cargo de reitor em Harvard por pressão de feministas exaltadas.

Vejamos alguns dados referentes à participação de homens e mulheres inscritos em programas de doutoramento nos EUA, que bem poderiam ter sido usados para respaldar as declarações de Larry Summers:

Ciências da Saúde:              Homens 30%   Mulheres 70%

Educação:                            Homens 32%   Mulheres 68%

Ciências Sociais:                  Homens 38%   Mulheres 62%

Física:                                   Homens 65%   Mulheres 35%

Matemática e Computação:  Homens 70%   Mulheres 30%

Engenharia:                          Homens 76%   Mulheres 24%

Pois bem, o destaque dado a números como estes, que nada falam sobre inteligência, mas sim sobre aptidões e preferências, revolucionaram o campus de Harvard e destronaram um reitor.

Outro caso, relativo aos judeus, merece menção. Eu mesmo, no que estou acompanhado por muitos que se interessam pelas concessões do Prêmio Nobel e outros prêmios de Academias, sou obrigado a me curvar ao fato de que judeus demonstram superior desempenho nas finanças, nas ciências exatas, na medicina, na economia e nas artes.

Especificamente sobre o prêmio Nobel, houve, até 2016, 881 premiações das quais 197 consagraram judeus. Ou seja, um povo que tem apenas 0,2% da população mundial conquistou cerca de 22,4% dos mais prestigiosos prêmios concedidos desde 1901, quando a Academia de Ciências da Suécia deu partida ao Programa. É uma evidência avassaladora que se extrai dos dados, mas, se alguém a ressalta, será imediatamente tachado no mínimo de supremacista (às avessas, no caso).

Outro campo onde a ditadura do politicamente correto se faz presente é o que trata da evolução demográfica, objeto de nossa palestra. E aqui separo a questão dos refugiados, com forte conteúdo humanitário, das migrações por simples interesse econômico e das diferentes taxas de natalidade entre povos. O caso da Europa talvez seja o mais instrutivo. Vamos a ele:

II – DEMOGRAFIA NA EUROPA

Segundo os demógrafos, para que uma população com determinada cultura se mantenha constante ao longo do tempo, seria necessária uma taxa de fertilidade de 2,11 crianças por família, o que certamente não ocorre nos países europeus.  Dramatizando o problema de insuficiência de crescimento, imaginemos uma pequena comunidade com apenas quatro pessoas, dois casais. Se cada casal tiver apenas um filho, a próxima geração poderá apenas formar um casal. E, se este casal tiver apenas um filho, elimina-se a possibilidade de sobrevivência do grupo. Em duas gerações passamos de quatro para um, 25% da quantidade de pessoas existente duas gerações acima.

Não se sabe de taxas de fertilidade assim tão baixas, mas a situação não deixa de ser deveras preocupante para a Europa. Em vídeo fartamente difundido e comentado na internet, as seguintes taxas de fertilidade são apresentadas para originários europeus, referentes à primeira década deste século:

França: 1,8; Inglaterra: 1,6; Alemanha: 1,3; Grécia: 1,3; Itália: 1,2; Espanha: 1,1;

União Europeia: 1,4; Muçulmanos na França: 8,1.

Tais números indicariam uma forte contração populacional, que só não estaria ocorrendo em razão dos fluxos migratórios de populações muçulmanas e das elevadas taxas de natalidade das populações imigrantes já estabelecidas. São estas que têm preenchido as lacunas deixadas pelas populações tradicionais, deixando antever uma Europa totalmente diferente em poucas décadas.  Diferente em tudo, mas principalmente na ameaça à cultura judaico-cristã.

Na França, a desproporção nas taxas de fertilidade seria enorme. Em grandes cidades, como Paris, Marselha e Nice, 45% dos jovens com menos de 20 anos já seriam islâmicos. Ainda segundo o relato, no mais tardar em quatro décadas a França será majoritariamente muçulmana. Pior sorte teriam a Alemanha e a Holanda. Para a Alemanha, o relato espera uma maioria muçulmana em 30 anos. E na Holanda, onde quase a metade dos recém-nascidos já teriam origem islâmica, a inversão pode ocorrer em menos de três décadas.

Como achei estes números sobre a Europa exagerados, consultei, sobre o assunto população e religião, estudos do Pew Research Center, da CIA e do Banco Mundial. Segundo estes, considerada a população mundial de 7,1 bilhões de habitantes, em 2015, os cristãos representariam 31% do total; os muçulmanos, 24%; e os judeus, apenas 0,2%. Mas os nascimentos de mães muçulmanas já em 2035 irão ultrapassar os nascimentos cristãos, fazendo com que, a partir de 2060, a religião muçulmana seja a maior do planeta.

Ainda nestes estudos, os números para a fertilidade na Europa passam a ser menos alarmantes que os mostrados anteriormente: Alemanha: 1,45; França: 2,07; Itália: 1,44; Holanda: 1,78; Reino Unido: 1,88; Espanha: 1,50 e Grécia: 1,43. Não temos dados para a fertilidade das populações muçulmanas em cada um destes países, mas parece-me razoável trabalhar com taxa próxima de quatro nascimentos por família, como média.

Convém destacar que hoje a proporção de ainda é muito baixa, aproximando-se de 8%, o que dá certa tranquilidade aos incomodados.

Pois bem, postos todos estes números mais tranquilizadores, creio que, aos 72 anos, mesmo que possa durar muito, não corro o risco de ver uma Europa muçulmana. Meus filhos, em torno de 40 anos, quando estiverem velhinhos, têm chance de ver no continente europeu um ou outro país muçulmano. Mas minhas netas, hoje com menos de 10 anos, quase que com certeza verão uma Europa predominantemente muçulmana.

Mas, por que discutir esta questão demográfica europeia em nosso contexto se o multiculturalismo tem argumentos fortes e é inegável a justeza do argumento humanitário pelo acolhimento de refugiados? Acontece que as novas gerações de islâmicos, bem como um expressivo contingente dos novos imigrantes, não se dispõem mais a se ajustar à cultura e às instituições locais. E assim formam um exército de jovens precariamente educados e inadaptados a um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, sem perspectiva, portanto, de dias melhores adiante. Estes jovens, alijados da sociedade e vivendo de esmolas do Estado, passam a ser presa fácil para organizações políticas e religiosas radicais.

O “teste da fronteira” (que pergunta: ‘quem migra para onde?’), uma variante do “teste do pudim” (‘é comendo que se prova o pudim!’), tão ao gosto de economistas, ao apontar para a direção dos fluxos migratórios, dá razão aos povos originários da Europa, que alegam uma superioridade de sua cultura, capaz de produzir melhores resultados em termos de desenvolvimento econômico e proteção social. Esperar dos newcomers que não desfigurem esta cultura “superior” e que respeitem as instituições vigentes, parece aspiração razoável. Afinal, o direito à preservação da cultura é tão válido quanto qualquer outro. Mas, evocá-lo passou a ser pecaminoso.

Posta esta visão sobre a questão demográfica europeia, podemos passar para o caso brasileiro, diferente em natureza, mas também determinante do que chamamos “demografia perversa”. (Continua na segunda parte)

 

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Rubem Novaes

Rubem Novaes

PhD em economia pela Universidade de Chicago e colaborador do Instituto Liberal-RJ. Foi professor da EPGE/FGV, diretor do BNDES e presidente do SEBRAE.

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