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A construção de uma grande crise

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Cerca de 85% da construção de navios do mundo está concentrada em três países: China, Japão e Coreia do Sul. Mesmo assim um tecnocrata em Brasília resolve que por ter uma grande costa ou por ser a terra do Medina, que é um grande surfista, o Brasil deveria produzir navios.

O sujeito leva a ideia para um político que rapidamente encontra empresários que se prontificam a tocar a empreitada. Não com dinheiro deles, é claro, com dinheiro do governo, subsídios, garantia de estatais comprando os navios e coisas do tipo. Por coincidências os empresários são grandes doadores para campanhas do partido do governo…

Por certo a construção dos navios gera empregos e atrai novos investimentos. De donos de restaurantes a grandes indústrias que vão vender para os estaleiros e fazer todo mundo ficar feliz e ganhar dinheiro. O desemprego cai, o salário aumenta, a economia cresce. O milagre da intervenção fez seu trabalho, mas…

O tempo passa e os navios produzidos, quando ficam prontos, não são páreo para navios asiáticos. Não é por acaso que Estados Unidos ou Inglaterra não lideram a construção naval, a turma da Ásia é boa nisso. As empresas que compraram os navios, via de regra estatais, começam a pagar o preço da ineficiência.

Para surpresa de ninguém, talvez apenas do tecnocrata, os estaleiros se mostram inviáveis. Os navios ficam sem uso, mas como não dá para dobrar e guardar navios no armário os custos começam a aumentar.

A ilusão então se acaba. Os empregados criados são destruídos, parte das empresas criadas para atender os estaleiros perde o sentido de existir, projetos desenvolvidos para atender a demanda dos estaleiros também perdem a razão de ser.

Há que chame isso de capacidade ociosa, mas não é, está mais capacidade inútil. Outros sugerem estimular a demanda por navios ruins, mais outro erro. A verdade é que os estaleiros criados dessa forma nunca deveriam ter existido, por isso não faz sentido colocar mais dinheiro neles.

Isso quer dizer que não existem estaleiros viáveis no Brasil? Não. Isso quer dizer que nunca vão existir estaleiros viáveis no Brasil? Também não. O que isso é quer dizer é que fizemos tudo errado no caso dos estaleiros e em tantos outros casos de projetos realizados apenas para atender ego de burocratas e interesses de políticos e grandes empresários.

A verdade é que ali pela virada da década não estávamos construindo estaleiros, refinarias e etc. Estávamos construindo uma grande crise.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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