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A caducidade do tempo

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O “Tempo”, essa enigmática grandeza física que já foi Deus, já foi vida e já foi dinheiro, único capaz de desvelar as verdades ocultas e curar as dores da existência humana. Diz-se ser a única coisa que não se pode perder na vida, pois trata-se de algo irrecuperável. Afinal, tempo ainda é o bem mais precioso que temos?

Já pensou em prestar vestibular aos 87 anos ou casar-se aos 92? O que antes estava atrelado somente ao campo da ficção científica ou do obscurantismo acadêmico já encontra aplicação real na ciência. A Singularity University, localizada no conhecido Vale do Silício/Califórnia, já estuda a imortalidade como realidade científica. A partir do tratamento com células-tronco, inteligência artificial e regeneração de tecidos, já é possível que uma pessoa retarde ou mesmo interrompa o envelhecimento celular e, quiçá (testes já estão sendo feitos em humanos), rejuvenesça.

Se as previsões da Singularity University estiverem corretas, a partir do ano de 2045 a degeneração celular será interrompida e o envelhecimento será tratado como uma doença qualquer e, portanto, curável. Eis o que se chamou de “a morte da morte”. Em uma entrevista concedida em janeiro de 2015, Bill Maris, presidente do fundo de investimento Google Ventures (que investe mais de 35% da carteira em start-ups na área de biociência), afirmou que “se vocês me perguntarem hoje se é possível viver até os 500 anos, a resposta é sim”.

Em paralelo, veremos uma medicina quase exclusivamente preventiva. Isso porque, com o mapeamento no genoma humano, uma eventual anormalidade identificada será incluída nos exames do futuro. Assim, será possível diagnosticar doenças genéticas e estimar o risco de desenvolver males hereditários mesmo antes de manifestar sintomas – o que inclui desde a predisposição a engordar ao risco de desenvolver câncer ou Alzheimer. E para quem acha que isso está longe de acontecer, o projeto “DNA do Brasil”, lançado em dezembro de 2019, já anunciou que pretende sequenciar o genoma completo de aproximadamente 15 mil brasileiros. A realidade bate à porta.

E como isso tudo se relaciona ao mercado de bens e capitais e à nossa forma de viver e aprender? Simples: moldando e direcionando as informações a que temos acesso e consumimos diariamente. Como? Expondo-nos, através da eficiência de algoritmos computacionais, àquilo que mais interessa, economicamente, aos detentores dos dados e controladores da informação e, politicamente, aos detentores do poder. E quem são esses? Essencialmente, as gigantes da tecnologia das duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e China.

Em se tratando do lado mais ocidental do globo, o grupo das FAANGs (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) já trabalha com Big Data (termo que descreve os grandes conjuntos de dados que precisam ser processados e armazenados e que impactam os negócios diariamente) e com Inteligência Artificial (AI, em inglês) há muito tempo e em uma escala realmente exponencial, inconcebíveis a priori por nossas mentes lineares. Cada vez mais nos alimentamos, e nos retroalimentamos, com informações que nos induzem, nos fazem odiar ou amar algo ou alguém e nos afastam da exposição ao contraditório de nossas próprias ideias.

Eis a preocupação do professor israelense Yuval Noah Harari ao afirmar que, daqui a dez anos, as pessoas podem estar vivendo numa “ditadura digital” onde tudo o que fazem ou o que sentem é constantemente monitorado. Devemos, por isso, temer o avanço da tecnologia? Por certo que não, mas é aconselhável que se tome ciência da predominância da mudança sobre a continuidade, de modo que não deixemos que a rosa dos ventos das ideias se transforme em uma linha reta e de sentido único, sem que, sequer, percebamos.

Enfim, se a tecnologia resolver os problemas da efemeridade da vida, liberando mais tempo de lazer para as pessoas (já se fala em jornadas de trabalho de 12 horas semanais), ainda será o tempo o detentor de tamanha atenção? Que me desculpe o tempo, ao qual presto minha mais profunda reverência e respeito; porém, cada vez mais, os dados serão o bem mais precioso em se tratando de capitalismo. Dados, tecnologia (AI e biotecnologia) e bom management, eis o novo tempo.

*Vander Giuberti é associado II do Instituto Líderes do Amanhã.

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